"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

18 de maio de 2009

Chico! Índio Velho ou simplesmente um GUARAQUEÇABANO

por Zé Muniz
foto: Guto "Lelo"
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“Eu te amo tanto”
Quem vem de fora / Passando pelos sertões
Passando por essas serras / Pra chegar aqui no mar
Não imagina Encontrar tanta beleza / Que a própria natureza Pode lhes proporcionar
Guaraqueçaba escondida Neste chão / Mas um grande coração Ninguém pode duvidar
Guaraqueçaba Um recanto varonil /
Um pedacinho do Brasil / De Pedro Álvares Cabral
Guaraqueçaba eu te amo tanto / Cheia de mata cheia de encanto
Guaraqueçaba eu te amo tanto Cheia de serra cheia de encanto.
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foto: Zé Muniz
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“Romano’s Bar” em Guaraqueçaba era onde se encontrava uma pessoa que encantava com sua simplicidade, a beleza de seus cabelos longos e grisalhos, seus 32 colares de Capiá, alguns com dentes de animais, ele nos encantava com o toque de seu berrante, com sua viola cantando umas das 36 poesias que declaravam seu imenso amor a Guaraqueçaba. O “Índio Velho”, como gostava de ser chamado, foi criado por índios Xavantes e Guaranis no interior de São Paulo, recebia no bar muitos amigos, que queriam ter a honra de tomar uma pinga no “Copo da Fraternidade”, um copo como outro qualquer não fosse a idéia que nasceu em julho de 1981, de não lavá-lo mais, criando germes e limo em sua parte interior, por 21 anos e 05 meses. Chico dizia ter visto um pé de café embaixo de uma casa, em suas andanças na divisa do PR com SP e resolveu trazê-lo à Guaraqueçaba, impressionado com a força da terra, inventando a tradição do copo, pinga, terra e pó de guaraná.
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O “Copo Sujo” conquistou muitos apreciadores dos mais distantes lugares do Brasil e do mundo como Portugal, França, Espanha, EUA e alcançou repercurssão como no “Globo Repórter” e em outros meios que lhe deram fama e aumentaram os apreciadores, sendo que alguns quizeram comprá-lo, tentaram quebrá-lo, sofreu 12 quedas, outros pagaram para o Chico não vender, quando da necessidade do dinheiro, outros ainda chegaram a roubar um dos cadernos de registros que continham as assinaturas dos que haviam bebido. No fundo do copo, ia 02 centímetros de terra, um preparo com sementes e pó de Guaraná (a casca do guaraná secava separado e servia para matar os germes) e depois entravam em infusão com a cachaça, sempre orgânica. A cerimônia do batismo era obrigatória, o Chico mexia com o dedo indicador dentro do copo misturando a cachaça com a infusão e fazia o sinal da cruz na testa do batisado que registrava seu nome no caderno junto com as mais de 3.500 pessoas que no copo haviam bebido. Uma vez tendo bebido e se registrado já se podia dizer que era parte do tradicional “Copo Sujo”e não podia mais beber, pois assim mandava a tradição.

foto: Eduardo Fenianos (reprodução)
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Francisco Romanos Nunes, o Chico Mula, nasceu em 16 de maio de 1938, morou em Jacarezinho, puxou bois, foi jogador de futebol até chegar em Guaraqueçaba na década de 70 e fez cumprir sua sina, quando faleceu em 07 de dezembro de 2002, aos 64 anos, nos obrigando a cumprir seu pedido de não chorar e sim cantar, pois não haveria motivo de tristeza, pois era um Guaraqueçabano de coração que se unia a amada terra. 
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“És o diamante do mundo, és também universal / és o pulmão da terra, que todos querem Ter
enfim , és a mais bela, de todas que conhecí / nunca esqueço de tí e aquí quero morrer”. 
(Encantos de Guaraqueçaba – Chico Mula).
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foto: Eduardo Fenianos (reprodução)
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Guaraqueçaba ... o paraíso por qual Chico se apaixonara
 
foto: Leandro Diéguiz
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FONTE:
MUNIZ. José Carlos. Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo. obra inédita. Guaraqueçaba.
FENIANOS. Eduardo Emílio. Coleção Cidades: Litoral do Paraná. Curitiba: UNIVER IDADE, 2005.

16 comentários:

  1. Meu vó, quanta saudades do chico mula, esse sim vai ficar pra sempre em nossos corações TE AMO VÓ, SAUDADES. seu neto RHOGER VIEIRA NUNES

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  2. papai, que saudades deixa em nossos coracoes quando penso em guaraquecaba sinto que voce esta la naquele bar tocando violao, onde fazia eco na vila e todas aquelas pessoas ao seu redor ouvindo suas cancoes.mas quando chego em guara nao tem mais bar, nem o local.mas fica em nossos pensamentos. um beijo de sua filha vanessa

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    1. Tive a imensa satisfação de conhecer esse personagem histórico e folclórico, de alma artística pura, que tocava e cantava com amor, tudo para agradar.

      Saudade Amigo Chico.

      Francisco José de Arimathea Gugik

      P.S.: também bebi daquele copo.

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    2. Tive a imensa satisfação de conhecer esse personagem histórico e folclórico, de alma artística pura, que tocava e cantava com amor, tudo para agradar.

      Saudade Amigo Chico.

      Francisco José de Arimathea Gugik

      P.S.: também bebi daquele copo.

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  3. Vô Chico!!! Quanta saudades!!! Fica guardada a lembrança dessa pessoa tão carinhosa e feliz!!!
    De seu neto "Touro sentado" DAVISSON ROMANO NUNES

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  4. Eu bebi neste copo!
    Viva o Indio velho, estavámos com uma equipe de TV fazendo uma reportagem eu como produtor, necessitava de uma matéria para o programa Pescadores do Brasil, encontro ai o índio velho ele só faria uma entrevista se caso nossa equipe tomasse um gole de cachaça neste copo horrivel, foi uma loucura, mas passamos no teste,
    Saudades de guerreiro.
    Edson Dias Ratinho

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  5. Eu também bebi nesse copo!
    ...e foi com meu amigo Ratinho, que já postou aqui a sua homenagem. Eu era o diretor do programa, e realmente a gravação aconteceu, quando tivemos a oportunidade de conhecer o Índio Velho, sua poesia, sua música, e sobretudo sua pureza e simplicidade. Infelizmente a gravação se perdeu com o tempo, mas ficou na memória o prazer de tê-lo conhecido, e ter participado do ritual do copo sujo.
    Neivas

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  6. Tudo isso sem contar que ele tinha um caranguejo de estimação, grande e de carapaça azulada, e ele colovava o dedo entre as garras e o bicho pareçe que conhecia e não apertava.
    Tomei aqula cachaça quando trabalhava na Sanepar e fomos apresentados por um amigo do Chico, Eduardo que foi inpetor de alunos na Escola Técnica.
    Estavamos em quatro coleagas, eu Cássio,Eduardo, Mauricio e Joares,todos funcionários da Sanepar.
    A cachaça se foi mas a lenbrança ficou, Saudades...

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  7. Esse foi meu vo querido e muito amado eu só não sabia que ele tinha sido criado por índios como li acima, até onde eu sei e conheci minha bisavó mãe dele, índia ela não era,saudades de sua neta Anaí era assim que ele me chamava,Aline.

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  8. Esse meu vo era muito carinhoso,feliz, tinha muitos amigos, era muito criativo e inteligente por isso deixou saudades no meu coração e no de todos os que o conheceram e conviveram com ele.Aline Cleto Nunes

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  9. O fato do texto mencionar a criação do Chico por índios era uma coisa que o próprio Chico sempre nos dizia, pois isso lhe trazia orgulho. Mas acredito sim, que o Chico não fora criado por indígenas desde sua tenra infância, pois quando falava desta criação era de passagens que tinha feito por terras indígenas e portanto, aprendido sobre a cultura de tais povos, assim sendo, fora criado, TAMBÈM por índios Guaranis e Xavantes...

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  10. Conheci pessoalmente o Chico Mula. Bebi naquele copo e festejei com ele a sua poesia. Cantamos juntos. Meu filho estava presente naquele dia.

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  11. Conheci o Chico Mula pessoalmente. Bebi naquele copo. Cantamos juntos a sua amável poesia da terra de Guaraqueçaba. Naquele memorável dia, meu filho estava junto. Ele era uma pessoa simples, mas de um grande coração.

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  12. Certa vez mais ou menos a trinta anos fomos pescar em Guaraqueçaba e conhecemos o Chico mula atravéz de seu filho Aguinaldo, Sr Chico era uma figura,fez também um almoço bem caprichado,conheci este copo que nunca foi lavado.

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  13. Índio velho que saudades daquele tempo, meus grandes irmãos, Robson ,Beto, Kinho e Emerson um abraço aos meus amigos

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  14. Bebi nesse copo. Ouvi as histórias, vi o livro... E ouvi as músicas desse índio que não parecia índio. À época se falava que tinha ido para Guaraqueçaba (então um "fim de mundo") por uma desilusão amorosa. Algumas de suas músicas diziam isso até... Ainda volto lá, mesmo que não se tenha mais vestígios do local exato, sempre haverá o mar, a praça, a igreja no alto da escadaria. Ainda volto lá.

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