"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

17 de novembro de 2014

Professor Ilton, quilombola, guaraqueçabano, sim senhor!!!!!!!

        Já estava preparada esta postagem faz tempo, em homenagem ao Profº. Ilton... mas, recentemente, em pesquisa com alunos do ensino médio acerca de meu artigo sobre História e Cultura Indígena e Afro-Brasileira, uma das questões que elaborei para que respondessem era justamente se acaso identificavam, contemporaneamente ou não, personalidades negras com destaque na história do Brasil, Paraná e ou Guaraqueçaba. Quase que a totalidade citou Zumbi dos Palmares, alguns arriscaram até em Pelé e os que lembraram da liderança quilombola do Profº. Ilton,  apenas sabiam dizer: "aquele professor lá do Batuva".
        Pois bem, é falha nossa enquanto educadores, não reconhecer, menosprezar e ou tornar irrelevantes personalidades atuantes no movimento negro organizado contemporâneo, que ainda lutam pelos mesmos ideais de Zumbi dos Palmares... Não estão talvez nos livros didáticos, por vezes são nossos vizinhos, conhecidos, mas não podemos esquecer dos bravos que ainda atuam de frente nas questões étnico-raciais e movimentos negros.
 
        Ano passado fizemos uma pequena homenagem ao Profº. Ilton Gonçalves da Silva, no Programa Curta-História (01 min). Segue link:
 "alma não tem cor"
 
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ARTIGO:
 
“QUANDO ESCREVO, ESCREVO COM SENTIMENTO, POR TER QUE PROVAR AO BRASIL, QUE KAINGANG, GUARANIS, SEM TERRA E NEGROS, TAMBÉM SÃO GENTES”: Subsídios acerca da aplicabilidade da lei 10.639/03 no Colégio Estadual ‘Marcílio Dias’ - Guaraqueçaba-PR
 
Para ver no site da Revista INterEspaço:
Para ver na Biblioteca Eugeniano Ferreira:
 
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        Cumprindo seu objetivo, Nosso Pixirum destaca um pouco da história de vida do Profº. Ilton prestando-lhe esta singela homenagem
foto: Juliana Melquior
 
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Projeto "Traços culturais..." (UFPR Litoral)
 
        Ilton Gonçalves da Silva, mais conhecido como Professor Ilton, nasceu na comunidade de Batuva, em 11 de janeiro de 1953, filho de Maximiro Francisco da Silva e Antônia Gonçalves da Silva; É casado com Águeda Cordeiro da Silva, com quem teve 04 filhos.
 
        É Professor, desde 1979, quando ainda exercia a profissão como leigo, tendo, depois de dezenas de cursos, aperfeiçoamento, concluindo o magistério, em setembro de 2001.
Seminário Educando para a diversidade afro-brasileira e africana, UTFPR, 2006
 
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        Atua hoje como uma das lideranças quilombolas do Paraná, tendo exercido mandato de vice-presidente e, dentre outros, participado do 4º Encontro Nacional de Comunidades Quilombolas, em 2011, no Rio de Janeiro e como delegado na Conferência Nacional em Segurança Alimentar e Nutricional, em Salvador, no mesmo ano.
 

Seminário de lideranças quilombolas com representantes do Governo Estadual e Federal, Curitiba, 2011.
 
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        Recebeu da Câmara Municipal de Guaraqueçaba, no ano de 2011, o Título de Honra ao Mérito pelos serviços prestados como professor na comunidade de Batuva.
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Palestra sobre herança africana no Brasil
foto: Socorro Araújo
 
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 há depoimentos do Profº. Ilton, sempre em versos...
baixar livro "Na Roda de Prosa"
 
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Também há referência ao Professor Ilton... 
livro Paraná Negro
 
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Professor Ilton, esposa, filha e netos. 
 
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        A UFPR Litoral publicou em 2013 a Coleção ProJovem - Campo Saberes da Terra, em que um livro é de autoria do Profº. Ilton "Minha triste alegre história de vida", no qual em poesia conta toda sua trajetória de vida...
 
 
segue um poema do Profº. Ilton:
 
O que é ser Quilombola

O que é ser Quilombola?
Embora haja quem diga que não,
É a contemporaneidade que resiste à ideologia do racismo
A individualidade e a marginalização

Povo sofrido, abandonado
E ainda considerado vadio
Não é visto com bons olhos
O que o negro construiu

Todas essas belezas existentes
Pelos tradicionais foram preservadas
E quando delas precisamos somos seriamente penalizados

Terras preservadas até hoje
Considero, pelo um povo soberano
Após tantos cursos de educação ambiental,
Tem gente passando fome

Após a chamada educação ambiental
Só uma coisa está sendo vista
Coisa que não se via em área rural
Má qualidade de vida e um acúmulo de lixo

Como isso acontece?
Pois posso dizer agora
Quem produzia seu alimento local
Hoje busca tudo de fora

Quem disser que não tem culpa,
E não atrapalha nosso futuro
Deixa hoje a cidade e vem comigo
Morar em área rural e viver da agricultura

E na área da pesca!
Coitado do pescador...
Quando consegue uma tarrafa e um remo
O diabo vem e leva a canoa

Queremos que o Brasil saiba
Não queremos tudo feito
Queremos apenas uma coisa
Queremos nossos direitos

Por querer nossos direitos
Não precisaria nem pressão
Só bastava se cumprir
O que está na Constituição

Preto quer políticas públicas
Não pede nada de graça
Preto é honesto e tem vergonha
Tem brio, postura e fortes braços

Tanta gente vem de fora
Nos ensinar preservar
Nosso território está bem cuidado
Vão cuidar do seu lugar!

Às vezes até me altero
Não tenho como ficar contente
Por ter que justificar
Que preto também é gente

Preservar a natureza
Isto é uma coisa certa
Mas não podemos sobreviver
Comendo mata verde e insetos

Dizem os ambientalistas
Que estão preservando muito bem a natureza
Mentira...
Só vieram para cá,
Apreciar e desfrutar a nossa beleza

Não se pode usar a terra
Tirar dela nossa alimentação
Produzir um saudável alimento
Hoje é considerado destruição
 
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Seminário Terras Quilombolas
 
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 Grupo de Trabalho Clóvis Moura
 
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 certificação da Comunidade Remanescente de Quilombo de Rio Verde

 
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acesse a Federação dos Quilombolas do Paraná
e baixe materiais sobre quilombolas no Paraná 
 
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acréscimo dia 20 de novembro de 2014
 
        Visita dos alunos e professores do Colégio Estadual 'Marcílio Dias' à CRQ Comunidade Remanescente de Quilombo Batuva, no dia 19 de novembro de 2014. 
 
Professores Zé Muniz, Karine, Ivani e Marcon com alunos do 6º e 7º ano visitando o líder quilombola Profº Ilton Gonçalves da Silva.

4 de novembro de 2014

Francisco Kirimaco Timóteo - a liderança Guarani

        Em outra postagem (http://informativo-nossopixirum.blogspot.com.br/2010/04/mbya-guarani-tekoa-kuaray-guara-pora.html ) já havia escrito sobre os Mbyás Guaranis do Tekoá Kuaray Guata Porã.

        Nesta semana recebi a notícia do falecimento, pelo dia 8 ou 9 de outubro, do Cacique e grande líder Guarani Seu Francisco, que muito lutou no Brasil e países vizinhos pelos direitos Guaranis às terras.

        Os Guaranis que vivem no litoral do Paraná, nas regiões de Paranaguá e Guaraqueçaba identificam-se como Mbyá, um dos três grupos Guarani que vivem hoje no Brasil (Ñandewa ou Avá-Xiripá e Kaiowá são os outros dois). Segundo LADEIRA (1994), Mbya foi traduzido como ―muita gente num só lugar.
 
        Estão localizados nos estados do Espírito Santo, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins, além da Argentina, Paraguai, totalizando cerca de 6.000 (2003) indígenas e vivem em busca da ―Terra sem males (yvy marãe‘y), situada a leste, onde tudo cresce e nada morre lugar de vida eterna. Nesta crença se justifica a migração dos M‘byás Guaranis sempre pelo leste do Brasil, em grandes caminhadas, recriando e recuperando sua tradição em um novo lugar.
 
 

        Na região Guaraqueçaba houve migrações Guaranis primeiramente na Ilha da Pescada, pelo próprio Sr. Francisco, depois para o Campo da Aviação e Cerco Grande. Também houve uma tentativa no Morro das Pacas, em Superagui, no Tekoa Porã (cerca de 10 famílias lideradas pelo Guarani Alcides), foram expulsos (judicialmente), pois aquela terra é Parque Nacional.

 

        Francisco Karai Jejokó Timóteo (conhecido também como Kirimako/Crimaco) foi o primeiro Guarani a se estabelecer nesta região. Seu Francisco, nascido na Argentina, seguindo orientação na crença Mbyá inicia sua andança em busca da terra sem males...
 

 
... exercendo sua liderança, esteve em vários Tekoás fazendo mediação em conflitos pela terra, principalmente em Santa Maria, Serra Canoa (por oito anos), Santa Rosa, Porto Alegre. Novamente para Argentina, Canta Galo, Morro do Cavalo (visitar o irmão Hilário, que recém mudara-se para Paranaguá), Paranaguá, Joinville, Piraí, Curitiba, Itariri/SP, Brasília, Rio Branco, Iguape, Cananéia, Paranaguá e Guaraqueçaba (por volta de 1985);
   

        Em alguns desses lugares visitando os familiares em outros atuando como liderança em demarcações de terras para grupo indígenas, etc... Chegando em Guaraqueçaba, os Mbyá logo fixaram algumas moradias no Campo da Aviação (década de 90, aproximadamente), porém, logo chegou o prefeito, policiais e representantes de Organizações Governamentais ligadas ao meio ambiente, com o firme propósito de expulsá-los daquele local, como lembra Crimaco, que criou ali uma resistência, insistindo que a terra pertencia a seu povo, afirmando que o próprio nome da cidade deriva de sua língua e assim sendo, tinha direito em morar ali. Ali desenvolveria seu - nandereko - modo de ser guarani.

 

antigo Tekoá em Ilha da Pescada/Guaraqueçaba Seu Francisco recebe visita de missionários cristãos

 
        Do Campo da Aviação, se transferem então para o Cerco Grande (de outro lado do  rio do mesmo nome), onde se encontram, com terras ainda em situação jurídica de IDENTIFICAÇÃO, tendo como documento a Portaria 615, publicada em 12/06/2008, compreendendo uma área de 201.891 hectares (IBGE) e população estimada em 62 pessoas (2007), 40 pessoas/12 famílias (2010).
 
        Na instância municipal a posse destas terras foi somente oficializada pelo Decreto Municipal 640/2008, criado em 30 de novembro de 2008, totalizando uma área de 27 hectares.
 
        Esta área batizaram de Tekoa Kuaray Guata Porã (belo caminho do sol), que segundo LADEIRA (1992, 97), Tekoa, se refere: modo de ser, de estar. Sistema, lei, cultura, norma, comportamento, costumes. Seria, pois o lugar onde existem as condições de se exercer o "modo de ser Guarani". Lugar que reúne condições físicas (geográficas e ecológicas) e estratégicas que permitem compor, a partir de uma família extensa com chefia espiritual própria, um espaço político-social fundamentado na religião e na agricultura de subsistência.
 
 

SABER MAIS SOBRE A TRAJETÓRIA DE CACIQUE FRANCISCO

        ETHOS E MOVIMENTO: Um estudo sobre a mobilidade e organização social Mbyá Guarani no litoral sul do Brasil


        LADEIRA, Maria Inês. “Espaço Mbya entre as águas ou o caminho aos céus” - Os Índios Guarani e as Ilhas do Paraná.