"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

30 de dezembro de 2012

“seja a mudança que você deseja ver no mundo"


“seja a mudança que você deseja ver no mundo” – Mahatama Gandhi
 
Esta postagem estava pronta para ser publicado dia 20 de novembro - Dia Nacional da Consciência Negra, mas acabei não concluindo e penso que agora seja oporuno.
 
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        Nesta última semana (20/11) foram diversos os debates sobre racismo, discriminação, preconceito, com enfoques diferentes, desde as séries finais do ensino fundamental ao ensino médio, tendo em vista principalmente o Dia Nacional da Consciência Negra.

        A percepção é clara, a sociedade, e não é de hoje, discrimina, é preconceituosa, mesmo alguns ainda que involuntariamente, a praticam e não haverá mudanças se esta não partir de cada um de nós; Não adianta a esperança de que da noite para o dia, toda legislação brasileira se modificará e tão logo amanhecer os cidadãos passarão a cumpri-la... UTOPIA! A própria legislação “dispõe” de diversas brechas para qualificar crimes de racismo, por exemplo, como fosse qualquer outro ato criminoso.

        Relacionando a este tema, estava lendo sobre uma atividade em que certa professora havia distribuído revistas aos alunos de 6º ano (crianças de 11, 12 anos), com a proposta que recortassem imagens de pessoas que levariam para uma ilha deserta; Quase a totalidade dos alunos fizeram recortes de pessoas brancas, aparentemente bem vestidas...  Já quando a atividade foi o recorte das que não levariam, o contrário aconteceu. Apareceram recortes de pessoas aparentemente mal trajadas, negras e, os que não fizeram esta atividade foi porque, folheando a revista, não encontraram tais representações – o preconceito concebido como valor estético. De onde vem a mentalidade destas crianças em valorizar padrões estéticos em primeiro lugar???????

        No ensino médio, por exemplo, foi inclusive colocada em questão a existência ou não de “raças”, pois se somos iguais perante a Constituição, Declaração Universal, mais ainda, perante a Lei de Deus, o que ou porque a sociedade nos faz acreditar na diferença, evidenciando neste momento a nossa própria criação de conceitos ou apropriação de pré-conceitos e a consequente “manipulação” sofrida na sociedade...

        A consciência pode mudar. Se nós professores abordarmos estes e outros temas, por exemplo, se a família fizer e bem a sua parte, a Igreja, os bons representantes políticos (infelizmente o que mais há são os maus), a sociedade civil, institutos e organizações e, se bem observarmos, SIM, este bom trabalho já vem sendo feito, devagar, mas sim, é possível acreditar num Brasil que dê certo. O desafio é constante, pois o Brasil corrupto, desonesto, está também muito bem impregnado em diversos setores da sociedade, inclusive nestes que tem um maior poder de mudanças ou formar novas opiniões, portanto ainda tem muitos brasileiros que não querem ver um Brasil para todos. É a milenar luta do bem contra o mal, mas como dizia Gandhi “seja a mudança que você deseja ver no mundo”, comecemos a praticar o bem, a educação, os bons princípios, a honestidade...
 
        Nesta última semana terminei a leitura de “A Utopia do Brasil” de Legrand, e pareço ter adentrado, sonhado e realimentado as minhas esperanças num Brasil que dá certo, sim, é possível. Quantos Brasis, honesto e igualitário acontecem diariamente nestes rincões de céu anil; Lembro-me agora da excelente leitura que foi “Frutos do Brasil”, de Neide Duarte, em alusão ao grande Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”, mostrando um Brasil de ações propostas e implantadas por jovens preocupados com a suas comunidades, revolucionando suas vidas e de suas famílias/comunidades; Jovens que analisam seus votos, jovens que pensam... Um Brasil funcionando.

        Em “A utopia do Brasil” o Presidente Getúlio Kubistchek Cardoso começa a ouvir estas milhares de boas ideias que existem por ai (e como existem, tanto com o povão quanto partindo de bons representantes políticos), muitas delas “pulando” de gaveta em gaveta em senado e congresso e, a implantar reformas, na Constituição, Código Civil e Penal, na Saúde, na Educação, prestes agora a receber 10% do P.I.B, por exemplo, que já significa um grande avanço, também a re-divisão territorial do Estados brasileiros até a perca de mandato para deputados e senadores que no prazo de um ano não apresentassem, no mínimo, 10 projetos de melhorias para o Brasil, a construção de aqueduto para irrigar o Nordestes (visto que a Petrobrás construiu 3.000km de gasoduto Brasil-Bolívia – então daria certo com a água também, pois a tecnologia existe).
 
        Mas, parece-me, que a utopia Brasil pode acontecer, se, diariamente, nós enquanto cidadãos, nos preocuparmos na construção deste sonho, a partir dos brasileiros honestos e descentes na prática dos bons princípios, que todos conhecemos, mas parece que virou lei o “jeitinho brasileiro” e todos ou quase todos fazem a opção da desonestidade, dos maus exemplos aos brasileirinhos que nascem, até mesmo o Estado discrimina, criando novos brasileiros nem um pouco preocupados com o bom andamento da Nação e o pior, parece estar bom para todos... É exatamente neste sistema, que parece não querer melhorar, pois é viável para alguns, que NÓS devemos insistir na boa prática, bons princípios, igualdade... Lembro-me ainda que, ano passado, alguns alunos, até hoje fazem eu me lembrar das veze que lhes dizia “por favor”, “por gentileza” e “obrigado”, pois parecem estar tão desacostumados com isso que, lógico, não praticam mais!

        A honestidade ainda existe, precisamos constantemente semeá-la, cada vez mais. Lembram daquele zelador, reportado internacionalmente pela mídia escrita e falada após devolver certa quantia de dinheiro que achou? O que ele fez de errado para ser noticiado internacionalmente? Nada! Apenas cumpriu seu dever enquanto cidadão honesto. É esse Brasil que precisa acordar e voltar a existir; ou como dissera um pastor, certo dia em que eu brincava com o controle remoto a escolher um bom programa, parei neste, em que contava a história de um pai que, ao subir no ônibus com o filho é indagado pelo cobrador que lhe dizia: “seu filho pode passar por baixo da catraca”. Ao que o pai respondeu: “Não, ele já tem idade de pagar”. E o cobrador: “Não se preocupe, ninguém vai saber”. E a resposta do pai: “Não, não! Meu filho vai saber”, pagando a passagem do filho e com certeza servindo de exemplo para alguns Brasis que aquela cena assitiram. Naquele programa a palestra era exatamente sobre “martirização”, devemos negar ao prazeroso “jeitinho brasileiro” se queremos ver um Brasil para todos, pois, neste país onde a corrupção parece ter virado regra, é muito difícil ser honesto, mas é possível...

        Estes dias fui questionado a desvendar para os alunos os bastidores dos famosos reality shows, campeões de audiência na televisão brasileira e, ainda com algumas dificuldades de entendimento, analisamos as milhares de ligações que recebem a cada um dos sei lá, 10, 12, paredões, tudo isso convertido em milhões de reais, a cada paredão. Somado a 10 ou mais paredões - uma iniciativa milionária a custa da curiosidade de nosso povo pobre... Péssimos programas arrecadando milhões e, nós do lado de cá da telinha fazendo exatamente o que querem de nós, sem termos a mínima capacidade de questionar e ou analisar. E reclamamos dos impostos. Isso porque nem falamos das novelas brasileiras... 

        Talvez esteja ai a mudança em nossa consciência, a partir de bons programas, construir esses princípios em nossos lares, escolas, igrejas, enfim na sociedade e se cada cidadão seja no dia-a-dia e mesmo no profissional fizer apenas a sua parte, bem feita, já estamos construindo um Brasil melhor. Gandhi não estava errado quando dizia: “seja a mudança que você deseja ver no mundo”.

Ótimas festas a todos!!!!!!! Bom final de ano!!!!!!! Excelente 2013 e muita pazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

20 de dezembro de 2012

Padre Mário di Maria - um homem mandado por Deus para um povo sofrido...

Padre Mário di Maria
 
        Recentemente a comunidade guaraqueçabana se viu diante de uma grande injustiça e mais uma vez o descaso que há anos se faz com a nossa história. O poder executivo propunha e com quase toda certeza os digníssimos que compõe o legislativo iriam aprovar, a substituição do nome do hospital municipal Padre Mário di Maria, não fosse a presença e insatisfação dos guaraqueçabanos, nas ruas e inclusive na seção da Câmara.
        Realmente o nome do hospital, era Brigadeiro Eppinghaus, que da força aérea paranense, trazia ajuda humanitária para Guaraqueçaba, nos idos de 1970, inlcusive remédios e que anos mais tarde, faleceu em acidente aéreo, por isso esta homenagem. Já a Fundação Municipal Hospitalar chamava-se Bom Jesus de Guaraqueçaba e mais tarde, após seu falecimento, passou a se chamar Padre Mário Di Maria.
        Mais recentemente ainda, em 2008, o nome do hospital passa a se chamar Padre Mário Di Maria, sempre fazendo justa homanegem a este que tudo fez, mais que qualquer outro para que esta obra fosse concluída...
 
        Não tirando méritos de quem quer que seja, inlcusive da população guaraqueçabana que muito contribuiu para a construção do hospital, com valoroso esforço, esta postagem tem por objetivo divulgar um pouco mais do exemplo santo que foi e que é ainda o Padre Mário di Maria, servindo inlcusive para que futuros representantes legislativo ou executivo, jamais se atrevam a cometer hediondo crime na história, desmerecendo aquele que mesmo em outras épocas, nada mais fez do que lutar e dar sua vida pelas causas de nosso povo.
 
 
 
Padre Mário frente ao altar e ao seu lado o padroeiro de Guaraqueçaba Bom Jesus dos Perdões
 
        Mudesto Gio Battista Murattório, o Pe. Mário di Maria, um Italiano nascido em Impéria no dia 20 de janeiro de 1906, fora ordenado sacerdote aos 60 anos, trabalhando na Diocese de Fermo, partindo para missão em Guaraqueçaba, juntamente com as Irmãs do Instituto São João Batista, aqui chegando em 02 de abril de 1964 e, dedicando sua vida aos necessitados e pobres, tratando de melhorar as condições do povo, fazendo com que construíssem suas capelas para que pudessem receber mais dignamente os auxílios espirituais cristãos, assim, construiu e reformou com a ajuda dos moradores, as seguintes capelas:
 
 foram construídas 02 capelas em São Miguel, 02 em Medeiros, 01 em Ilha Rasa, 01 em Almeida, 01 em Ponta da Mariana, 02 em Tromomô, 01 em Saivá, 01 em Pacotuva, 01 em Taquanduva, 01 em Ilha das Peças, 02 em Guapicú, 01 em Laranjeiras, 02 em Tibicanga, 01 em Superaguí, 02 na Praia da Encantada, 01 na Ponta Oeste, 01 reformada em Nova Brasília, 01 em Canudal, 01 em Sebuí, 02 em Vila Fátima, 02 em Barra de Ararapira, 01 reforma em Ararapira, 01 em Poruquara, 01 reforma em Barbado e 01 em Colônia de Superaguí. No continente, 01 em Borrachudo, 02 no Morato, 01 em Ipanema, 01 no Rio do Cedro, 02 em Serra Negra, 02 em Tagaçaba, 01 no Rio Verde, 01 no Itaquí, 01 em Pedra Chata e 01 no Rio das Canoas. (José Hipólito MUNIZ)[1].
 
no melhor local que encontrasse
de canoa 
a cavalo
onde tivesse um irmão, estaria lá o Padre Mário, levando os auxílios espirituais e também todo tipo de ajuda humanitária, desde remédios, roupas e alimentos.
 
 
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        Desde que desembarcou em Guaraqueçaba, logo tratou de conhecer este povo e sua cultura, visitando 1014 famílias no seu primeiro ano, doando cerca de 600 remédios, fundando grupos de jovens e orações, proibindo o carnaval profano, pregando contra os abusos e orgias dos bailes.
 
        Conhecedor profundo das reais necessidades deste povo e comprometido com as causas humanitárias, vivendo o cristianismo, numa época em que muito pouca ou nada era a assistência governamental à estes reais necessitados, Padre Mário inicia sua maior empreitada: Construir um hospital para atender o povo de Guaraqueçaba.
        Vai a Itália em 23 de maio de 1969, voltando no dia 27 de dezembro, com o firme propósito de buscar fundos para iniciar a obra e quando volta, toda a comunidade o espera, anciosos, tanto por seu sacerdote quanto pelo início de uma nova realidade, um hospital. Nada foi tão fácil, desde a retirada de barro, a fabricação manual dos cerca de 35 mil tijolos, carregamento de pedras para a base até a costura de lençóis e etc, teve a iniciativa, o esforço e o suor do Padre Mário di Maria.
 
voltando da Itália com fundos para o início da construção do hospital
 no mês de agosto de 1974, a Paróquia de Guaraqueçaba inaugura o Hospital Bom Jesus, com as enfermeiras Teresa e Júlia Costa e o Doutor Saulo Alves Feu, realizando de imediato três cirurgias, sendo que os primeiros equipamentos, haviam sido usados na Guerra do Vietnâm e vieram equipar o hospital, doados pela Associação Internacional Americana-Alemã.
 
 
        Dia 13 de março de 1970, Padre Mário encaminha ao governador Paulo Pimentel, um ofício pedindo a doação do terreno para o “Posto Hospitalar Misto” e já no dia 16, acontece a 1ª reunião do Comitê Paroquial, discutindo meios para dar início a construção do Hospital.
        Com o trabalho voluntário de cidadãos guaraqueçabanos, do Missionário Constantino Granfo e doações como, da Base Aérea de Curitiba[1], foi possível concretizar o sonho do Povo de Guaraqueçaba.
        Em 1980 a Cúria Diocesana de Paranaguá e a Paróquia de Guaraqueçaba, sem condições de manter o hospital, deixaram a encargo da Secretaria de Saúde.


[1] Projeto Aciso ( Ação Cívico Social), com programas de ajuda à Guaraqueçaba, doando ao futuro hospital, os azulejos, todo o material sanitário, instalações elétricas, hidráulico e também toda a mão de obra das instalações.
 
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Pela sua bondade, amor e dedicação às causas do povo, foi agraciado com o título de Cidadão Honorário de Guaraqueçaba em 1º de abril de 1984.
assinatura dos vereadores da época
Em outras épocas, nesta mesma Câmara, outros representantes lhe concederam tal título; Os representantes de hoje, querem lhe tirar a mais justa homenagem que já fora lhe feita!
 
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Padre Mário com o Bispo da Diocese Dom Bernardo - grande incentivador da missão em Guaraqueçaba
 
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Padre Mário com o Governador do Paraná Ney Braga
 
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        A doença foi o único impecilho que o Pe. Mário não pôde vencer e aos poucos foi lhe consumindo a força e mais tarde a vida terrena.
        Visivelmente abatido pela doença e sem condições de corresponder ao imenso trabalho missionário, por diversas vezes é impedido fisicamente de celebrar a Santa Missa a ponto de nem as escadarias que levam a igreja ele poder subir.
        Sua última celebração em Guaraqueçaba foi no dia 21 de setembro de 1984.
        Seu estado de saúde piora, é levado ao Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, onde faleceu no dia 25 de setembro de 1984, sendo sepultado dias depois em Guaraqueçaba.
 
 
 Em 13 de abril de 1990, o prefeito Antônio Felício Ramos Filho e a Ir. Maria Ferrari inauguram o busto em homenagem ao Padre Mário (na Praça Padre Mário).

 
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        Além do trabalho missionário, Pe. Mário não privilegiava o católico, dava assistência aos cristãos, pois como dizia:

“O necessário é que todos tenham amor; Todo homem que ama é genial, é um cristão, pois o cristianismo é a explosão do amor, alegria e felicidade”.
 
 
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REFERENCIAL
 
CHACOROWSKI CM, Padre José Carlos. Tributo ao Padre Mário di Maria. Vídeo em homenagem ao centenário de nascimento. Guaraqueçaba, 2006.
 
LOSCHNER, Jonatan. Histórico do Hospital de Guaraqueçaba. Guaraqueçaba, 2000.
 
MUNIZ, José Carlos. Bom Jesus dos Perdões de Guaraqueçaba. Livro inédito. do autor.
 
Acervo fotográfico do Instituto São João Batista. Digitalizados e gentilmente cedidos por Dom José Carlos Chacorowski.
 
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Livro Bom Jesus dos Perdões de Guaraqueçaba (ver também na Biblioteca Nosso Pixirum)
 
50 anos do Instituto São João Batista em Guaraqueçaba