"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

15 de outubro de 2010

Lendas Guaraqueçabanas - parte 1 - "A maldição do carnaval"

pesquisa: Zé Muniz
Ilustração: Zé Eduardo de Souza

Muito se houve a respeito dessa história.
O primeiro que me contou foi o saudoso Eugeniano Ferreira (in Memoriam), dizendo ser pura verdade. Depois lí até algumas poesias feita sobre o fato e o Grupo Teatral Pirão do Mesmo chegou a encenar o texto “Fato ou Boato”, relatando a velha história da lenda da maldição... seria verdade???????
Guaraqueçaba de outrora
Desenho de Adailto Galdino (In memoriam)
Acervo: Glaci de Almeida Martins
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Bem, aconteceu lá pelos anos de 1936, em pleno carnaval.
        Enquanto em algumas casa dançavam animadíssimos fandangos, reunindo toda a vizinhança no “Intruido”, como chamavam aquelas três, quatro noites de fandango, alguns se uniam em blocos e percorriam as casas, fazendo a dança de “Puxar Cordão”, quando de mãos dadas, entravam por uma porta e saiam pela outra, levando consigo os familiares daquela casa, cantando animadíssimos versos/marchinhas e seguindo casa adiante...

        ... aconteceu que naquele carnaval, um bloco, dizem que com 07 pessoas, resolveu se vestir com figurinos imitando as vestes do padre e das freiras e usando adereços supondo os paramentos religiosos.

        A brincadeira do fandango seguia até a terça-feira pela meia noite, quando então os violeiros desafinavam suas violas, penduravam de boca para a parede e começava alí a quarta-feira-de-cinzas, e num período de respeito e completo silêncio permaneceriam durante toda a quaresma.
        O tal bloco, vestido como religioso, traziam na comissão de frente, uma cruz, pendurada nela dezenas de garrafas de cachaça, todas na qual abasteceram sua sede durante a madrugada inteira, e ultrapassaram quarta-feira-de-cinzas adentro.

        Por volta do meio dia, se encontrava o sacerdote em silêncio e meditação dentro da igreja do Bom Jesus. O silêncio logo é quebrado pelas animadíssimas marchas entoadas por aqueles foliões.

        O padre logo se levanta para pedir silêncio e os instruí-los a respeitar aquele dia em que a Igreja pede reflexão...

        ... mas ao ver aquelas pessoas, com vestes de sacerdote, de freiras, com imitações de cálice, seguindo uma cruz repleta de garrafas vazias de cachaça, não hesitou, amaldiçoou a cidade pela falta de respeito que permitiam acontecer.

        Nesta época era a região uma grande produtora de banana e arroz, levados principalmente ao Paraguai e Argentina, quando aportavam aqui, cerca de dois, três navios por mês e saiam carregadas dos produtos da terra e do mar, como por exemplo, o Danúbio Azul, que no ano de 1936, levou para Argentina 18 toneladas de camarão, segundo Osório Costa (in Memoriam). Apenas Laudemiro Ferreira, comerciante da época, tinha 22 lanchas a vela, usadas para abastecer os navios maiores que não atracavam no porto.      

O próprio Domingos Nascimento, em seu livro "Flora Têxtil do Paraná", sobre a produção em Guaraqueçaba, dizia:
"O embarque é pois facílimo, e o navio que entrar à barra de Paranaguá, dentro de 3 horas poderá fundear em Guarakessaba, seja qual for a sua tonelagem. Os bananaes bordam as praias e as margens dos rios em vastíssimas extensões, trepam os morros e se aprofundam pelos desfiladeiros, numa exhuberancia tal de producção, que está é presenctemente avaliada em 30 milhões de pés de bananeiras, sendo que do referido porto são exportados em navios estrangeiros para mais de 50 mil cachos de bananeiras por mez".

plantação de banana (comunidade do Rio Verde)
foto: Zé Muniz

        Depois da maldição, dizem que houve uma grande geada, coisa que nunca aconteceu nesta região, o suficiente para acabar com todas as plantações e parar a movimentação do porto de Guaraqueçaba.

        Não bastasse, logo aumentaria o fluxo no porto em Paranaguá, e com denúncias de contrabando, pois em Guaraqueçaba era limitada a fiscalização, prosperou em Paranaguá e estagnou em Guaraqueçaba. Em seguida acontece um êxodo para Paranaguá, afim da mão de obra no porto, que agora crescia e prosperava...

Reprodução/Direitos Reservados
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        Em Guaraqueçaba, diminuia a população, acabava significativamente a produção na terra, fechava os jornais, não mais aconteciam os anímadíssimos bailes, fechou o Clube de Tiro, o Clube Músico-Literário, o Clube de Matemática para Astronomia, o Club Regional do Milho,o Grêmio Feminil Myosotis e o Grêmio Recreativo Guarakessabense.

        E por muito tempo acreditou-se que tudo era culpa da maldição, inclusive, contam, que devido ao fato, inclusive o Bispo, sabendo da história, veio benzer a igreja, retirando a dita MALDIÇÃO.

Reprodução/Direitos Reservados
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Há algumas variantes a respeito da maldição do Padre, que em certa comunidade, por exemplo, um homem queria se casar na igreja e um padre que por ali passava, não quis realizar a cerimônia, visto que a comunidade era longe, de difícil acesso, pouco visitada por vigários e o casal já moravam juntos. Ao ter o pedido negado, o homem revoltou-se contra o padre e deferiu-lhe socos no rosto, interrompido logo pela comunidade que o segurou, mesmo assim machucando muito o pobre padre. Quando o padre foi embora, o povo reclamou muito com o rapaz pela atitude que fizera e ele extremamente arrependido, subiu o morro, entrou na mata e nunca mais voltou, desapareceu. Dizem ainda, que em Guaraqueçaba, certa vez trataram muito mal um sacerdote, que quando este ia embora, no mar em frente á cidade, gesticulou com suas mãos, como que impondo uma maldição, que muitos acreditam e também quando uma família de protestantes não lhe abriu as portas, deixando-o revoltado, depois deste caso, ele teria amaldiçoado a cidade. Outra história diz que, certa vês um forte vento noroeste virou o barco do padre, o lançando na água e o deixando muito bravo e teria sido este o motivo deste sacerdote ter amaldiçoado o vento e a cidade. Após sua morte foi enterrado na ilha chamada “Sepultura’’, tida como mal assombrada até hoje.

Ilustração Zé Eduardo de Souza
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04 de junho de 2011
Após ler esta postagem, Antônio Silvestre Lopes "Vete", ao me encontrar disse que havia há algum tempo feito tal poesia, que segue abaixo, explicando a inverdade desta lenda, pois, segundo ele, ao conversar com vários moradores antigos, todos unânimes desconheciam o fato.
segue sua poesia:

FALSA HISTÓRIA
a poucos anos trás / numa revista famosa se leu
de uma tal missa sacrílega / que aqui há tempos ocorreu.

pesquisando esse famoso fato / das pessoas que aqui viveu
muito firmes nas palavras / caso, aqui não aconteceu.

tão irritadas todas ficaram / indignadas assim como eu
como inventaram tal história / que realmente nos comoveu.

essse artigo na revista / pecou muito quem o escreveu
que não foi por isso / que a cidade não desenvolveu.

Guaraqueçaba parou no tempo / por causa dos governantes seus
que para o norte desenvolviam / e do nosso povo esqueceu.

para não falarem verdades / mentem no que de fato sucedeu
que Guaraqueçaba muito querida / abençoada sempre será por Deus.
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