"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

23 de janeiro de 2013

Iguape, Cananéia, Barra de Ararapira, Ararapira... férias 2013


        No sábado dia 12/01/2013, estivemos (Marcelo, Leandro, Lorena, Célio e eu) a visitar as cidades irmãs de Iguape e Cananéia, no litoral paulista.

        Após quase 10 horas de viagem, demorada porque passamos {nos perdemos}  a entrada de Iguape por duas vezes, inclusive retornamos alguns bons quilômetros, mas apesar da noite, chuva, estávamos mesmo de férias e, todos ali, exceto eu, a conhecer pela primeira vez a Terra do Bom Jesus.

 
 
 
         Chegamos em Iguape por volta das 23:00 horas e nos deparamos com festa, música ao vivo na Praça da Basílica, animando a programação do Festival de Verão daquela cidade. Praça cheia, público animado, ainda nos restou um pouco de ânimo e fomos (Marcelo e eu) no Clube Sandália de Prata, famoso pelos animados fandango, mas naquela noite, sem outra opção, permanecemos por ali, só tocavam um forró, nada de fandango, somente noutro sábado, nos informaram...
 
        Nos hospedamos na Pousada das Conchas, cuja proprietária é mãe do Profº. Boné (José Moraes). Domingo cedo fomos conhecer a cidade, visitando o Museu de Iguape, Mercado do Artesanato, Morro do Cristo, Fonte do Bom Jesus e a tão desejada Basílica do Bom Jesus de Iguape.

Museu Municipal
Iguape foi fundada em 3 de dezembro de 1538, sendo em 1577, data em que o povoado foi elevado à categoria de Freguesia de Nossa Senhora das Neves da Vila de Iguape e a vila foi elevada a cidade pela lei n° 17 de 3 de abril de 1848 com o nome de Bom Jesus da Ribera, porém, em 3 de maio 1849, por meio da lei n° 3, o nome foi modificado para Bom Jesus de Iguape e o costume popular passou a chamá-la de Iguape.
Cidade linda, receptiva, ótimas opções e preços de alimentação e hospedagem... Esperamos voltar!
 
TERRA DO BOM JESUS...


        Próximo à Vila de Iguape fora, no ano de 1647, encontrado, na Praia do Una, uma imagem do Bom Jesus, por indígenas que ali passavam e, estes a deixaram de pé na praia. Quando retornaram notaram que a mesma encontrava-se com o olhar (sua fente) voltada para o outro lado, a Vila de Iguape. Alguns que souberam do achado lá chegaram e queriam levar a imagem para a Capitania da Vila, em Itanhaem, quando a levantaram, tornou-se ela de um peso descomunal e como não conseguiram levá-la, alguém deu a ideia de lavá-la para Iguape, quando o peso da mesma diminui consideravelmente, sendo possível carregá-la.
        Antes de entronizá-la na Igreja de Nossa senhora das Neves, pararam num riacho para lavar a imagem - FONTE DO SENHOR - onde até hoje devotos e romeiros a procuram com fé e devoção, enchendo-se daquela água e levando pedaços da pedra na qual, diz a história, a imagem ficou para ser lavada, sendo que esta, como acreditam, cresce constantemente... 

Cristo Redentor
Morro do Cristo / Iguape
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         Os planos de ir a Ilha Comprida e ou Juréia acabaram não acontecendo por que ainda pela manhã de domingo começou a chover, então tivemos que re-planejar e seguimos para Cananéia.

Fandangueiros de Cananéia
        Ainda debaixo de chuva chegamos a Cananéia. Na Rua do Artesão, num dos diversos quiosques que vendem artesanatos daquela região, há o nº 09 que pertence ao Amir, grande amigo, integrante do Grupo de Fandango Batido São Gonçalo (http://gruposaogoncalo.blogspot.com.br/), que gentilmente nos convidou a se hospedar na sede do grupo, em seu quintal... Uma casinha muito simpática e atraente, onde guardam seus instrumentos, ensaiam e realizam bailes de Fandango... nos sentimos em casa!
Altar em louvor a São Gonçalo na sede do Grupo de Fandango

sede do Grupo de Fandango São Gonçalo
Leandro Diéguiz na Rabeca e Amir na Viola 


 

 
 
 
Oficna do artesão Amir
 
        Tentamos sair e conhecer um pouco da cidade, mas a chuva nos permitiu muito pouco. Fomos a Matriz de São João Batista de Cananéia e depois à praça onde haveria Fandango, mas “debaixo daquele toró” quase ninguém ou ninguém ficou a ver, nós mesmos, encharcados, acabamos indo embora antes de terminar... Mas valeu, os fandangueiros estavam lá e mesmo debaixo de chuva, sob uma pequena cobertura fizeram seu trabalho, mostrando a essência de sua cultura... Parabéns!
Cananéia - Cidade Ilustre do Brasil - a ser reconhecida como a primeira cidade do Brasil, de lá vieram os primeiros aventureiros e se abrigar nmas terras do hoje Paraná, em Guaraqueçaba.
 Mais Inf: http://www.cananeia.net
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       Já na segunda-feira cedo, tempo melhorando, pudemos passear pela Cananéia, indo à Praça da Figueira e, que pena, o Museu estava fechado, não pudemos ver o 2º maior tubarão branco do mundo já capturado... mas segue uma fotinho de outro ano que por ali passei!
 
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         Dali, eu arrumei uma carona para Barra de Ararapira e os colegas seguiram seu trajeto de retorno à Guaraqueçaba.
        Cerca de duas horas de barco, estava em Barra de Ararapira, terra de meus ancestrais, onde habitam ainda vários familiares. A comunidade recebia visita de uma missão evangélica, organizada por certa denominação religiosa protestante que levam médicos, doações e entretenimento à comunidade. Barra de Ararapira é a única comunidade em que seus moradores na totalidade ainda frequentam uma mesma religião, a Católica Apostólica Romana, como seus antecedentes, não se encontrando e não sendo permitida pelos próprios moradores quando de algumas tentativas, a implantação de outro templo religioso na vila.
cenário paradisíaco... cultivado pelos caiçaras!
 
        É uma comunidade em que os laços de parentesco sãos muito fortes, o que faz dela “mais” unida pelos seus objetivos. Recentemente receberem um chuveiro, aquecido com placa solar. Pela primeira vez podem banhar-se com água quente! Também receberam (cada família) uma geladeira, que ansiosos aguardam a decisão ao impasse, pois parece que cada moradia receberia placas solares com potência equivalente para o refrigerador funcionar, mas não teria dado certo em outra comunidade então, se organizam com outras comunidades, fazendo abaixo assinado, objetivando a instalação de energia elétrica no lugar. Alguns são contra, temem o aumento descontrolado do turismo e a consequente vinda de “mau intencionados”, que até agora nunca ou pouco apareceram, devido a comunidade não possuir energia elétrica e sim placas solares, que aliviam algumas dificuldades de iluminação a noite, mas não resolvem quando se trata de assistir televisão ou mesmo iluminar toda a casa, muito menos áreas externas. Em Barra de Ararapira dorme-se muito cedo e acorda-se muito cedo, ainda vivem no ritmo que a natureza lhes impõe.
a novidade são as placas que aquecem os chuveiros... Já é possível banhar-se com água quente, não mais oriunda dos chuveiro a gás, como alguns possuiam.
 
        O refrigerador parece que mudará muito no modo de vida da comunidade. Um robalão, por exemplo, que pesquem hoje, por não possuírem como conservá-lo, logo vendem. O atravessador transporta à Cananéia ou Ariri, no mínimo R$ 5.00 mais caro. Talvez estas relações tendem a modificar-se.

        São todos pescadores artesanais e quase nada tiram da agricultura, mesmo de subsistência, completamente diferente de quando as terras não possuía o título de Parque Nacional, sendo, naquela época, frequente os mutirões para colheita da mandioca e do arroz, por exemplo, tempo recordado pelos mais “antigos” da comunidade e pelos bons violeiros que ali habitam, estes que animavam os fandangos...
secagem das folhas da "Cataia" pela Associação de Mulheres

        Enfrentam diariamente a concorrência dos pescadores amadores (esportivos), vindos do litoral sul paulista que chegam em suas próprias voadeiras, com iscas e muitos outros bons apetrechos, “tomando conta” dos pesqueiros e levando o produto que o mar oferece, que, diga-se de passagem, deveria estar na mesa doa que ali residem. A fiscalização é muito falha e temem denunciar, pois não é raro o caso destes tipos de denúncia resultar na apreensão dos apetrechos de pesca dos próprios pescadores artesanais. Apenas para ilustrar, contam com revolta o fato de tudo ser proibido à eles, mas recentemente uma autoridade ambiental sacou seu revólver e abateu com mais de três tiros um corvo que se esquentava ao sol, dizendo ainda, segundo alguns moradores: “não dá nada”.  

        Ainda há os barcos grandes no “mar de fora”, como chamam o oceano, apenas na terça-feira (15/01) contei 15 ou 16, que passam com suas redes de arrasto, levando não só o camarão, mas todo e qualquer tipo de espécie que estiver pela frente. Pernoitam no mar e logo cedo estão a capturar novamente. Quase nada sobre ao pescador artesanal, muito menos ainda entrar “barra adentro” para as águas mais próximas da comunidade. Fiscalização parece não existir. É apenas a repreensão e a apreensão.

        Para comunicar-se com o mundo, no momento está muito difícil. O orelhão público – única forma de comunicação, visto que telefonia celular não possui sinal na região, está defeituoso desde os primeiros dias do ano, ocasionado pelos frequentes raios neste verão. Estão meio sem comunicação não fossem os dois telefones de particulares que possuem antenas próprias.

        O mar a cada cheia, quando esvazia leva consigo um pedaço do barranco... e os moradores a relembrar quando seus ancestrais possuíam casas em outras áreas e onde hoje habitam era mar ou mesmo das plantações e moradias de 50 anos atrás, hoje submerso, engolido pelo mar. Sabem que também chegará seu dia de transferir sua residência para outra área. Mas para onde? Toda a região está dentro do Parque Nacional de Superagui e a legislação ambiental não lhes permite esta mobilidade, inclusive não lhes permite habitar em suas próprias terras!

        As barricadas que fizeram defronte a Igreja já fora levantada duas vezes, visto que o salão social da comunidade já fora levado para mais longe, caso contrário já estaria debaixo d’água.

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        Visitei o Pontal de Leste, na Ilha do Cardoso, onde também existe a legislação ambiental. Lá é Parque Estadual e, neste sistema, parece-me, as restrições são menores. E a comunidade é muito unida também. São cerca de 18 km de praia até o Marujá, núcleo sede da ilha, onde há um fluxo muito grande de turismo. O cenário é exuberante.

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        Já no retorno para casa, na quarta-feira, uma pequena passada na abençoada Ararapira e a renovação de nossos votos ao querido protetor São José, uma vez que a cerca de dois meses (19 de março) celebra-se seu dia e os ex-moradores da comunidade retornam à Vila de Ararapira para realizarem a festa de seu padroeiro. Ali, no meio de todas aquelas casas, Igreja, o que restou da delegacia e da escola, cuidando do cemitério, apenas um morador, Josias, nascera por aquela banda e agora recebe alguma quantia de ex-moradores que possuem casas por ali para cuidar das mesmas.
o barranco de Ararapira, cada dia aumenta mais e "come" um pedaço mais da antiga comunidade.

a centenária igreja de São José - abandonada a ação do tempo...

janelads da igreja de São José

detalhe do telhado com buracos, infiltrações e vazamentos

detalhe do interior, com escora segurando as estruturas do telhado.
 
        Quanto a secular vila, fundada em 1767 e que passou por disputas entre Paraná e São Paulo, enfrenta hoje o descaso com sua história, ainda que cada vez mais os ex-moradores, inclusive organizado até com uma associação de ex-moradores, travam disputas para preservar suas histórias e seu patrimônio. A história da vila foi defendida em 2008, na minha monografia de conclusão de curso. Também houve uma denúncia na Revista de História e alguma repercussão em jornais, inclusive com apoio de deputado; Recentemente recebi a notícia do documentário que está aprovado e prestes a ser executado, contando a história da Vila de São José de Ararapira.

imagem de São José no altar da igreja. Não se trata da original, pois esta fora roubada, além de antiga possuia uma coroa de prata...

4 comentários:

  1. Errata:

    Data da viagem 12/01/2013.

    Abraço!

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  2. Parabéns pela descrição da viagem Zé! Abraço

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  3. ERRATA corrigida. a data exata da viagem é 12 de janeiro de 2013 e não de fevereiro, como postada inicialmente. Agradeço a percepção; nosso objetivo é este, PARTICIPAÇÃO, inclusive nos corrigindo. Valeu!

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  4. Maravilha a matéria sobre o local. Gosto de conhecer o Brasil.

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