"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

15 de setembro de 2012

Coisas do Pila


E como falam deste tal Pila...

        Seja onde for, numa roda de amigos, ao pé do fogo, numa violada, numa cuia de chimarrão ou mesmo aquelas conversas de familiares, tocou no assunto mentira, aqui em Guaraqueçaba temos alguns que, podemos dizer, são campeões...

        Um desses personagens é o dito cidadão Pila. Pescador que morou em Superagui, com passagens pelas ilhas da Cotinga e Valadares e mais alguns lugares que ele mesmo deve ter contado por ai e alguém certamente acreditou!
        O fato é que dele ninguém duvidada, até porque tá certo que “era baixinho, mas brabo.  Deusô livre se alguém desse risada quando ele contava de suas peripécias”.

         Numa delas, embarcou o Pila para o alto mar a pescar... O barco, enfrentando tempestade, naufragou, ficando, cada qual dos tripulantes à sua própria sorte, e é claro, o Pila sobreviveu... Passou por apuros, mas acostou, sendo encontrado por mulheres que viram aquela grande cabelarada espalhada pela praia, foram seguindo, seguindo... encontraram a cabeça de onde saiam metros e mais metros de cabelo! Era o Pila, que depois de cerca de três meses boiando, acostou na praia de Ilha das Peças. Depois de tanto tempo na água, ainda deu lucro, pois Pila vendeu cerca de duas caixas de ostras que estavam grudadas nas suas costas!

        Guardando o dinheiro da ostra, juntou com alguns mirréis que já tinha e comprou uma embarcação, meio usada e usava-a para pescar, ir à Superagui, Cotinga, Paranaguá... acabou a bateria no meio da baía, num destes percursos. O que fazer???????? Pila logo tirou a camiseta, agarrou a bateria de uma forma que ninguém sabe como até hoje e atirou-se no mar, pois Paranaguá não ficava muito longe, cerca de uma hora e meia nadando com a bateria nas costas ele chegaria na cidade, trocava a bateria e voltava para o barco. Claro que “dito e feito”.

        Como a bateria já tinha falhado, agora resolveu tarrafear, mas desta vez a remo e, no mar de dentro, pois não se arriscava mais ao alto mar e consigo levava seu radinho de pilha, sua companheira na canoa e, passava as tarrafadas a escutar as emissoras de Paranaguá principalmente, pois é a que possui a melhor sintonia. Certo arremesso da tarrafa seu rádio foi pro fundo... Pobre do Pila, ficou triste, quase parou de pescar, mas precisava continuar sua profissão... Alguns meses depois, o mesmo mar que levou o radinho, o trouxe, embolado numa tarrafada que Pila puxava para dentro de sua canoa e, ao perceber seu radinho, abriu aquele sorriso e tão logo tirou o rádio da água, aliviou, pois ainda funcionava e o radialista dizia “Rádio Difusora de Paranaguá”, continuando a tocar as músicas e o Pila com mais motivos para continuar pescando...

        Certa feita, tempo ruim, não dava pra sair pra pescar, Pila estava no Superagui e sua esposa lhe perguntava o que fazer pra jantar. Pila pega um balaio que tá no canto da casa e sai em direção à praia. Deixou o balaio na areia e foi andando pro mar, até as águas cobrirem sua estatura, permanecendo assim, submerso por uma meia hora... Quando começou a sair do mar, vinha até meio arcado! Caminhou até o balaio que por ali havia deixado e chegando perto deste começou a se sacudir... encheu o balaio com os siris que estavam grudados em suas costas e foi ensopadinho deste, o jantar daquela noite fria.

        Antes de ir morar em Valadares, Pila tinha seu ranchinho no sítio e quando dava, sempre voltava pro mato. Numa destas noites no sítio, ouvindo suas músicas no outro rádio que tinha, este tocava até vinil, sua mulher deu de encrencar, pois nada tinha caçado naquele dia, só ficava ali escutando modas, música, cantarolando... Pila se embrabeceu, pegou um disco que tocava na sua vitrolinha e lançou-o ao mato! Puts, era o seu preferido! Noutro dia cedo, tratou de arrumar suas coisinhas e juntamente com a esposa voltaram pra Valadares. Desta vez passou boa temporada sem voltar ao sítio, mas nunca esquecera o lugarzinho onde passou grande parte de sua vida! Depois de alguns anos, resolveu visitar! Quase não conheceu mais, pois com todos os anos sem ir alí, o mato tomou conta de quase tudo, inclusive da casa, era só mato, fala de bicho, grilo, sabiá, e lá ao fundo parecia que uma melodia no ar. Não conseguiu assimilar tal canto com bicho algum que conhecia, como bom caçador que era e foi no rastro pra ver... Ao chegar perto, reconheceu a música e começou a cantar, mas que seria que por ali estava cantando? Pois acreditem, não é que quando, há anos atrás, Pila havia jogado o vinil no mato, ele caíra justamente encaixado num broto de goiabeira e como ventava, rodava o disco e a própria natureza se encarregava de fazer baixar um galho, a fazer como que uma agulha, fazendo o vinil executar a música nele gravada (não me pergunte como – são coisas do Pila).

        Ali ficou a ouvir sua música preferida e relembrar as coisas do passado feliz naquela vizinhança, inclusive do tempo em que tinha um papagaio, mas logo veio a tristeza pois o papagaio, depois de muito anos de amizade, acabou voando a nunca mais aparecera... Parecia até coisa arranjada, mas não é que neste mesmo instante ele ouve uma gritaria de papagaio e como já se aproximava a hora de preparar alguma coisinha pra comer ele foi atrás das bicharada, encontrando um bando de papagaios, era até bonito de ver. Pila (que tava com sua espingardinha) mirou um, mirou outro, ficou meio escolhendo e atirou sem definir a mira e, com o barulho, voaram quase todos... Peraí, sobrou um ainda. Ué, mas porque não voou com os outros? Pila não quis nem saber, tornou a mirar e quando enquadrou o bichinho na mira de sua espingarda, ia levando o dedo ao gatilho o bicho, isto mesmo, aquele papagaio, lá de cima do galho, lhe disse: “pô Pila tá louco! Vai atirar em mim? Não se lembra dos bons tempos que passamos juntos, cara?”. Pila não sabia se atirava ou ria ou mesmo chorava por ter encontrado seu velho amigo papagaio de estimação...
        Esta é uma das poucas do Pila que dá pra acreditar, pois, não tinha testemunha, mas não foi o Pila que contou, foi o papagaio!

         Quantas outras histórias de boas mentiras existem espalhadas pela nossa região... Aproveite e nos conte outra!

(acréscimo dia 15 de setembro de 2012)
xiii, é tanta mentirinha que quase esqueci mais duas...

        Nosso bom contador Pila, em suas andanças no sítio, foi convidado a um Fandango, mas bem sabia que tinha que trabalhar no mutirão para poder, durante toda noite, dançar as modas ao som da viola, rabeca e adufe... E como já vivia no sítio, não era problema para ele passar o dia inteiro na "cavação", plantando ramas de mandioca. 
        Tava bonito de se ver, todo aquele pessoal, as mulheres com cestos de rama de mandioca, plantando nas covas, abertas pelos homens, que iam na frente com a enxada nas mãos... Todos alegres e felizes, pois a noite o fandango seria dos bons, já sabiam! Antes de começar a cavação, bem cedinho, logo que amanheceu fizeram o "fermento do fandango", dançaram, com as roupas de trabalho mesmo, uma modinha, só pra verem, se animado fosse, o fandango a noite ia amanhecer... então todos tinham que trabalhar, pois ninguém queria perder o fandango.
        Pila de tanta animação e força de vontade, ao bater com a enxada na terra para abrir as covas onde as mulheres plantariam as ramas de mandioca, acabou acertando com a ferramenta de seu trabalho na sua canela e com muita força... o trabalho parou, "todo mundo" correu para ajudar o pobre Pila, que já tava sangrando, e tava um calor... Mas ele tratou de acalmar as pessoas, dizendo que não se preocupassem, olhou pro dono do mutirão e garantiu que o trabalho iria continuar, apenas pediu um pano e pegou um pau de rama de mandioca num dos cestos que ali estavam, fez com a rama como que uma tala, imobilizando a canela, enrolou com o pano que recebera, pediu um pouco de água, tomou e jogou o resto sobre o sangue que ainda escorria sobre a perna; Enxugou o suor do rosto, olhou pra todos e disse: "Vamos minha gente, tem muita rama pra plantá ainda. Veja que ia para o serviço só porque quebrei minha canela, mesmo".        
        essa deve ser verdade, pois testemunhas, ali, tinha bastante... A noite virou até moda, o caso do Pila!

        Não sei se é conclusão, pois é certo que vai aparecer mais histórias do Pila, mas tava esquecendo... Numa destas suas pescarias, tava um calor e parece que, pelo barulho, ia virar o tempo, se estragar, vento sul... Pila tratou de recolher a rede, mas logo percebeu que não era tempo ruim e sim um grande enxame de abelhas que passava por ali e não teve dúvida, se jogou na água e como tinha um bom fôlego, ficou submerso um bom tempo, até esqueceu das abelhas, pois tava calor mesmo, ficou se refrescando. "Olhe, esqueci mesmo do que que eu tava correndo, só lembrei de subir (à superfície) quando acabou o cigarrinho que acendi e tava fumando lá embaixo".

2 comentários:

  1. Hahahaha Estou agora mesmo conversando com uma pessoa que conheceu pessoalmente o Pila ! E tem outra história muito boa, isto mesmo história com "h" , porque tudo do Pila era verdadeiro. Uma vez ele deixou cair no mar, bem no canal dos navios, o seu querido e inseparável revóler, no qual havia apenas uma bala só !!! o tempo foi passando, um ano depois do acontecido, um pescador que estava recolhendo sua rede, achou enroscado o revólver do Pila. Estava cheio de craca e algas, o pescador deu uma limpada e mirou o revólver para uma árvore, resolver apertar o gatilho.. e não é que um ano depois no fundo do mar, o revólver do Pila não negou fogo... Disparou e partiu a árvore no meio !!!

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  2. E tem a do cachimbo também.. esta conto outra hora!

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