por Juliane Bazzo
* Artigo participante do Concurso Cultural Natura Ekos “Redescobrindo o Brasil 2010” que, para celebrar o Ano Internacional da Biodiversidade, convidou pessoas a contar histórias pessoais vivenciadas em biomas brasileiros.
A exuberância da Mata Atlântica revela-se para mim a partir de um lugar chamado Barra de Ararapira, uma pequena vila de pescadores localizada na Ilha do Superagüi, litoral norte do Estado do Paraná. Nessa região, está situado um dos remanescentes mais bem conservados desse bioma no país. Conheci este vilarejo em 2004, trabalhando como jornalista para uma organização não-governamental ambientalista paranaense. Desde então, essa localidade não deixou mais de me intrigar, o que me conduziu a nela desenvolver minha pesquisa de mestrado em antropologia social.
Lá, como me disse uma nativa, o mato vira mar e o mar vira mato. O vilarejo está assentado próximo da chamada barra, desembocadura de acesso do Mar de Ararapira ao Oceano Atlântico. A semelhança entre tais denominações geográficas e o nome da vila de pescadores, portanto, não é uma mera coincidência. O contínuo movimento de areia e água nesse canal desencadeia um processo erosivo natural, que obriga os moradores de Barra de Ararapira a transferir, de tempos em tempos, suas casas, construções e rotas de pesca. Segundo dados de estudiosos, a erosão eliminou, entre 1953 e 1980, cerca de 120 hectares do vilarejo, o equivalente a 120 campos de futebol de medida máxima.
O leitor deve estar se perguntando: o que convence pessoas a viver nesse território em movimento? Não seria mais simples se mudar? Para os habitantes de Barra de Ararapira definitivamente não. Viver próximo da barra significa também estar perto da saída para o mar aberto, de onde vem o pescado mais variado e volumoso, que garante o bem-estar das famílias pescadoras. Relatos de história oral demonstram que essa vila formou-se justamente pela busca ancestral por águas piscosas. A barra vem se movimentando secularmente e, com ela, caminha junto todo o vilarejo. “É o êxodo”, “A barra é a nossa bússola”, disseram-me moradores. Relatos de prosperidade e transitoriedade, marcas vivas dos paradoxos de nosso complexo e, por isso encantador, planeta.
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