As canoas de um tronco só já são raridade, as madeiras mais usadas para a confecção de canoas eram a Guapuruvú (melhor, pois era branca, mole, porém apodrece mais rápido na água doce), Cedro, Timbuva, Canela-Preta, Urucurana, Guaricica, Guanandi, Canela-Garuva, Araribá, Caoví e Canela-Nhunguvira.
Conhecimentos estes, desaparecendo, fente a fatores diversos, entre eles, a legislação ambiental.
Inicio com a poesia de Carrigo, gravada no álbum "Vida Caiçara", do próprio artista, intitulado "Ubá (o último fazedô de canoa)" homenageando Sebastião Santos, Mestre Tião, de Serra Negra.
Conhecimentos estes, desaparecendo, fente a fatores diversos, entre eles, a legislação ambiental.
Inicio com a poesia de Carrigo, gravada no álbum "Vida Caiçara", do próprio artista, intitulado "Ubá (o último fazedô de canoa)" homenageando Sebastião Santos, Mestre Tião, de Serra Negra.
Ubá é uma canoa / feita de um pau só
Guapuruvu é árvore boa / que dá canoa feita de um pau só
Lá vai Mestre Tião / machadinha na mão
Vai fazendo a canoa / talhada num tronco só
Último guardião / mantendo a tradição
Último fazedô / da canoa de um tronco só
Mão do caiçara / Um dom natural
Tronco talhado / É canoa de pau.
Esta música foi trilha sonora do documentário "O último fazedô de canoa”, dirigido por Jussara Locatelli e Fernanda Morini, produzido pela Realiza Vídeo.
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Júlio Alvar, em 1979, observou o caiçara construindo sua própria canoa.
A seguir dois desenhos deste autor retratando esta arte.
Júlio Alvar, em 1979, observou o caiçara construindo sua própria canoa.
A seguir dois desenhos deste autor retratando esta arte.
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canoa ao mar
obra: Adailton Galdino (In Memoriam)
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construção de canoa de um tronco só
foto: Zig Koch
(reprodução / Direitos reservados)
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Construção de embarcação Baleeira
foto: Zé Muniz
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Canoa de um tronco só
foto: Zé Muniz
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Segue a entrevista com o Sr. Nivaldo Pontes Célio, 57 anos, morador da comunidade de Utinga, antigo construtor de canoa.
Zé Muniz: Como é que o senhor começa a fazer uma canoa?
Nivaldo: A canoa é no machado, né, tem que derrubar a madeira, que nem tem gente que trabalha com a motoserra, eu trabalho só com o machado. Derruba, tora, é difícil pra fazer, ...a motoserra hoje em dia é mais pra ajudar...
Zé Muniz: Qual é a melhor madeira pra fazer uma canoa?
Nivaldo: Olha vou falar bem a verdade a melhor madeira é cedro, depois tem a canela, Guapuruvu; Guapuruvuru não é madeira bom, poie é s a mais fraca.
Zé Muniz: Tem uma época de corta assim? Ou pode corta?
Nivaldo: Tem época, tem que ser na minguante, pra ficar bom tem que ser na minguante.
Rodrigo: O senhor usava a canoa pra ir até Guaraqueçaba antigamente, o pessoal usava?
Nivaldo: Usava. Todo mundo, primeiro era só na canoa, né, hoje ficou bom, hoje tem estrada aqui, primeiro era só na canoa. a depois tinha o caminho, e também o caminho né, passava um caminho e ia embora, vinha de Guaraqueçaba ia até o Batuva, até na divisa, lá. Aí depois que saiu a estrada tem um lucro, né; Hoje se a pessoa andar por aí não vê mais o caminho, fechou tudo.
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Rodrigo: Tem algum motivo pro senhor usar só machado?
Nivaldo: Não; Tem que ter machado, tem que ter enxó; Enxo-Goiva, Enxó-Chata: Enxó Chata é duas mão a Goiva é uma mão só.
Zé Muniz: Aprendeu com quem?
Nivaldo: Meu pai, meu pai trabalhava em canoa, eu era curioso né, um dia me convido pra fazer uma canoa, e fomo faze, Dae chegamo lá o que eu fiz, eu levei um papel, que eu tinha vontade de aprende, e a gente quando é novo tinha vontade de aprender tudo, depois de velho sim, daí já não adianta mais né. É que nem dirigir, eu tinha vontade de dirigir e hoje to dirigindo um pouquinho. Ent~so eu fui pro mato com meu pai, levei um pedaço de ápel, levei um papel, um pedaço de papel, um lápis, conforme o que meu pai fazia ali eu fui fazendo naquele papel, quando nós viemo de tarde eu tava com a canoa quase desenhada inteira, aí depois eu terminei de fazer a canoa com ele, mas o meu papel eu levei, anotei tudinho, aí depois fomo e fizemo mais outra, aí depois já fui faze sozinho, derrubei duas madeira e fui fazer sozinho. E depois que tava pronta meu pai passou lá: Nivaldo você tá fazendo canoa melhor do que já!
Zé Muniz: Como que fazia, ia no mato derrubava a madeira, e pra tira a canoa de lá?
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pescador ao mar em sua canoa de um tronco só
foto: Guto Lelo
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Nivaldo: Ah dae tem que fala com gente né, pra varar a canoa, né, conforme a canoa tem que ser 10, 12 pessoas.
Paulo: Varar que o senhor fala é tirar ela?
Nivaldo: é. varar é assim pegar e puxar ela. faze um caminho, faz uma piçada boa, e dae vai varar.
Zé Muniz: O senhor pagava as pessoas que ajudavam?
Nivaldo: Não, primeiro não pagava, hoje que tem o negócio de pagar gente pra trabalhar assim, de primeiro você fazia uma canoa era a coisa mais fácil, puxava podia fazer uma canoa numa serra dessa ai. chegava aquele dia você falava com gente todo mundo vinha só por causa de cachaça e fandango de noite. Hoje a turma já não gosta mais disso né, tem algum que gosta mais não é que nem antes, antes era bom, hoje em dia ninguém que mais trabalha meio dia de serviço, pra outro sem receber, já quer receber o dinheiro..
Zé Muniz: Chamavam as pessoas pessoas pra vara a noite e o senhor dava o fandango?
Nivaldo: Uhum.
Zé Muniz: Na casa do senhor assim?
Nivaldo: É
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canoas no porto de Guaraqueçaba
pintura de J. Maia / acervo: Hotel Eduardo I
foto: Leandro Diéguiz
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Canoas na Colônia de Superagui
pintura: William Michaud / direitos reservados
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Construção de canoa na Colônia de Superagui
pintura: William Michaud / direitos reservados
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Pescadores e suas canoas em Paranaguá
desenho: Deocir Gomes / foto: Zé Muniz
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"O Canoeiro"
obra de Onofre da Silva, premiada no II Salão Nacional de Cerâmica (2008) na categoria "Popular"
foto: Zé Muniz
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REFERENCIA:
A entrevista foi realizada por Zé Muniz, Rodrigo de Souza Graça e Paulo - bolsistas do programa Universidade Sem Fronteira, em parceria com o professor Marcel, do Colégio Estadual Marcílio Dias, pelo projeto "Traços culturais das comunidades tradicionais do litoral do Paraná e resistência frente ao avanço da modernização expropriatória impulsionada pelo capital" no ano de 2010.
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CD "Vida Caiçara" do Músico Carrigo.
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ALVAR, Júlio. ALVAR, Janine. Guaraqueçaba mar e mato. Editora da UFPR. Curitiba: 1979.
Olá leitores. Muitas pessoas entram em contato comigo, pois não conseguem postar comentários. Devem ter acesso/conta no Google para tal. Posto então um comentário que recebi em meu e-mail a respeito desta postagem e que o autor pediu para publicá-la:
ResponderExcluirPazzzzzzzz - Zé Muniz.
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"Oi Zé. Muito boa a entrevista. Seria legal se tivesse uma foto da conversa!! É certo que a legislação ambiental pode ter contido um pouco a produção das canoas, por certa restrição ao uso da madeira ... mas também é bom lembrar que as 'madeiras-boas' também ficaram mais raras pelo corte excessivo para outros usos. Outra questão importante, é que alguns rios ficaram menos navegáveis, além da maior facilidade do acesso pelas estradas (como o S. Nivaldo até falou) entre outros fatores e mudanças culturais. Valeu. Parabéns!! Cecil Maya - Analista Ambiental da APA e ESEC de Guaraqueçaba - ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade)".
Oi Zé! parabéns pela matéria. E não precisa ter conta no google não. Quando for postar é só escolher a opção logo abaixo da caixa de comentário onde diz COMENTAR COMO: Ai seleciona Nome/URL e escreve o nome da pessoa que vai comentar. É fácil. Abraço e saudações fandangueiras!!!
ResponderExcluirOlá, Zé.
ResponderExcluirGostaria de sua autorização para colocar essa matéria (devidamente linkada e creditada, claro) no blog da APA de Guaraqueçaba. (apaguara.wordpress.com)
Caso não tenha restrições, colocarei lá também essa entrevista que ficou muito interessante.
Aguardo retorno.
Ana Saupe
APA de Guaraqueçaba
ICMBio
olá. Está SIM autorizada, desde que creditada as devidas fontes, etc... os trabalhos que faazemos são para todos e que ótimo que podemos ser útil fazendo o que gostamos. agradeço a divulgação. pazzzzzzz
ResponderExcluirSou paratiense. Vivi puxando canoa pra água e subindo no rolo pra areia... Isso é muito bonito!
ResponderExcluirQue a cultura caiçara seja sempre preservada!!!
Abraços a todos!
Parabéns sou caiçara e tento preservar
ResponderExcluirCoisas de Caiçara Minha Pagina