"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

26 de agosto de 2009

Dorçulina Fagundes Eiglmeier - a dama do Fandango Caiçara

por Zé Muniz
foto: Leco de Souza
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“Quando era criancinha, nós brincava de fandanguinho, fazia aquele mutirão de brincadeira cas outras crianças, e depois fazia baile. Brincava de guardamento, mutirão, baile. Olhava os adulto fazerem, aprendia olhando e fazia de brincadera ali”.
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FOTO: Felipe Varanda
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Dona Dorçulina nasceu no Rocio, em Guaraqueçaba no dia 26 de agosto de 1915, filha de Antônio Martins Fagundes e Ermelina Maria do Carmo. Seu pai, um grande violeiro de fandango. Casou-se com o alemão Otto Eiglmeier, com quem teve doze filhos. Mudara-se para Rolândia, durante a guerra mundial, retornando para sua Guaraqueçaba anos mais tarde.
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FOTO: Zé Muniz
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“No lugar de onde chego Eu tenho de obrigação Vô cantá esta modinha Pra alegrá este povão Povo de Guaraqueçaba Povo do meu coração.
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Eu tenho de obrigação No lugar de onde chegá Precurá um camarada Pra me ajudá cantá O povo de Guaraqueçaba É preciso alegrá.
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É melhor vivê alegre Do que vê triste chorá Povo de Guaraqueçaba
No meu coração está”
letra composta por Dona Dorçulina
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Nilo Pereira, Dona Dorçulina e Leonildo Pereira - lançamento do Projeto Museu Vivo do Fandango, em Guaraqueçaba - 2006.
foto: Zé Muniz
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Muitos de nós, fandangueiros e eternos amantes deste fandango, com certeza estivemos por horas nos deliciando nas histórias que Dona Dorçulina nos conta. Quanto aprendizado e que memória. Seguem fragmentos de depoimentos que pudemos recolher nestes anos de amizade:
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“Quando tinha Fandango de Finta era assim. Queria fazer um Fandango, então por acaso, não é de trabalho não é nada. Amanhã é sábado, vamos fazê um fandango. Então saiam pedir em cada casa, que cada um dava um dinhero pra comprá pinga, comprá café, comprá açúcar, pão, comprá tudo pra fazê o fandango”.
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“Nos bailes, quem não trabalhava não entrava. As vez fazia questão que entrasse se fosse pessoa boa né. Ia lá e falava pro dono da casa, daí o dono dizia, bom o baile é dos que trabalhou né. Aí chamava o pessoal e vejam que ele qué entra no baile. Se era safado não ia não. Não queria trabalhá mas queria i no baile. Acontecia que as vez chegava uma pessoa que não sabia daquele baile . Daí então eles recolhiam né”.
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foto: Toni Gorbi / Projeto Tocadores
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“No Gambá a primeira camada de arroz era só o home que batia. Depois que ficava mais pouco, as mulher também dançava e era valsado e batido. Afastavam e punham outra camada de arroz. Batiam na noite ali. Era onze arqueres e boca da noite servia café com pão, meia noite café, pelas duas da madrugada café e pinguinha. Não tinha comida. Mas não era co tamanco. Era só com o pé mesmo”.
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"Esse multirão não é de hoje. Já os escravos faziam né, trabalhavam de mutirão. Tinha também a Pacotilha, onde você tem a roça aqui. Convida 4 ou 5 pessoa, trabalha e acaba aqui naquele dia. Outro dia faz mesmo pro outro. Mas não tem baile”.
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MASSAROTTO, sobre Dona Dorçulina, escreveu: "... ela não se alfabetizou, mas decorava as cartilhas do irmão mais novo, que ela mesma, matriculou na escola, e, desta forma, aprendeu a ler e a escrever o próprio nome. Ela sabe muitas histórias advindas da cultura do fandango, assim como das relações sociais da década de 20 em diante. Tem uma memória riquíssima, além de um ótimo humor. Observei que, muitos pesquisadores já tiveram contato com Dursulina, e que, por isso, ela sente-se a vontade para contar suas histórias e experiências, visto que, desta forma, ela sempre tem com quem conversar e partilhar sobre suas experiências de vida. Durante a entrevista, pude experimentar seu cafezinho várias vezes, que, como um elo a mais, consolidou nossos contatos e relação de amizade. A hospitalidade e generosidade me conquistou".
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Dorçulina e Leonildo no lançamento do Museu Vivo do Fandango (2006)
















Dona Dorçulina é sócia fundadora da Associação dos Fandangueiros do Município de Guaraqueçaba, juntamente com seu filho Zéco, atual presidente desta instituição.
foto: Zé Muniz
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Vera Mussi (Sec. Cultura PR), Rebeca (IPHAN), Dorçulina (Associação dos Fandangueiros), Leonildo Pereira e Bonifácio

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No ano de 2008, durante o II Encontro de Fandango (26/07) e Cultura Caiçara, juntamente com Leonildo Pereira, entregaram ao IPHAN, o pedido de registro do Fandango Caiçara como Patrimônio Imaterial do Brasil.
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"se a saudade matasse / como faz emagrecer / eu era uma que morria / de saudade de te ver"
- FOTO: Rogério Massarotto
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Dona Dorçulina possui um violão em casa, no qual encordoara e arranhava algumas notas, num ritmo de fandango, passando assim suas tardes cantando versos e modas, recordando os antigos fandangos.
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"Senhor Norato Cardoso / vendeu bem sua canoa na primeira varação / teve quarenta pessoa comero um boi intero / inda mataro uma leitoa o sinhô Venceslau / carpintero relaxado junto-se com quatro filho / cada um co seu machado trabalharam quatro dia a canoa não presto a canoa não saiu boa / saiu com quatro buraco dois na popa dois na proa”.
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neste 2009, Dona Dorçulina foi inscrita no Prêmio Culturas Populares 2009 Mestra Dona Izabel - Artesã Ceramista do Vale do Jequitinhonha / MG
VAMOS TORCER
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Hoje ela completa mais uma ano de vida. Fica nossos sinceros parabéns e nossos votos de uma rápida recuperação, além de nossos mais sinceros agradecimentos pelo que tem nos ensinado nestes anos todos.
Dorçulina Fagundes Eiglemeier - DAMA DE OURO do Fandango Caiçara
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postagem do dia 05 de janeiro de 2010

falece neste dia 04 de janeiro do ano de 2010 a Dama de Ouro do Fandango Caiçara - Dona Dorçulina.

Na recente visita que lhe fiz, já muito velhinha e cansada, muito doentia e abatida não mais me reconheceu, porém a emoção tomou conta de mim, pois acreditem, mesmo sem forças, sem poder reconhecer aos amigos a Dona Dorçulina, deitada, olhar no além apenas cantava modas de fandango.


DEUS a acompanhe.

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postagem do dia 03/02/2010
No dia 03 de fevereiro de 2010, Dona Dorçulina foi agraciada com o Prêmio de Culturas Populares Mestra Izabel, porém, infelismente não pode ver tal reconhecimento em vida.

REFERÊNCIA:
BRITO, Maria de Lurdes. Fandango de Multirão. Curitiba, 2003.
MUNIZ. José Carlos. Fandango na alma de minha Guaarqueçaba. do autor. obra inédita.
OLIVEIRA. Rogério Massarotto. A cultura do fandango no litoral do Paraná e suas relações entre trabalho, cultura popular e lazer na sociedade capitalista. Dissertação apresentada à Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação Física. Florianópolis, 2005.
PIMENTEL, Alexandre. CORREA, Joana. GRAMANI, Daniela. Museu Vivo do Fandango. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2006.

7 comentários:

  1. Que maravilha hein?
    Parabéns meu irmão Zé Muniz pela sua vontade de divulgar a cultura caiçara! Acredito muito em vc!

    Abraço,

    Leco de Souza.

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  2. Querido Zé,

    Dia triste, muito triste. Dona Dorçulina deixa uma imensa saudade pela linda pessoa que sempre foi. E deixa também uma lacuna na memória do fandango, pelos tantos versos, cantigas, canções, histórias, receitas que guardou e compartilhou ao longo da vida.

    Bela homenagem no Nosso Pixirum. Para acalentar a saudade, lá no www.museuvivodofandango.com.br tem também um trecho em vídeo dela cantando e recitando.

    Um forte abraço,
    Por favor, peço que transmita nossos sentimentos à família de Dona Dorçulina.

    Joana Corrêa e Alexandre Pimentel

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  3. Oi Zé!!! Parabéns pela iniciativa do site e por esta homenagem a Dona Dorçulina, espero que vc não se importe, vou colocar aqui uma foto de meu avõ Miguel Evaristo Corrêa e sua esposa Maria Guilhermina da Silva Correa (acho que nasceu na região do Batuva ou Serra Negra, ou Tagaçaba) e ele é bem provavelmente que tenha nascido na Ilha das Peças ou Tagaçaba, é meio confusa a história dele, mas o fato é que o vô tbm era fandangueiro, e dos bons, um afinador de violas. Um abraço!

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  4. MEU avô João Martins Fagundes hoje falecido é irmão da Durçulina

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  5. Minha tia, filha do primeiro casamento do meu avô, era irmã de meu pai manoel theodoro fagundes

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  6. Hj matei um pouco da saudade da minha vó obrigada por contar um pouco da história

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