"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

19 de agosto de 2018

Seu Maneco - o contador de histórias

        

      Andar pelas ruas de Guaraqueçaba, algumas paradas e, sempre, ou quase sempre nos abordam figuras emblemáticas, algumas prestativas em determinados assuntos e serviços, sejam turísticos, por exemplo, outras, não menos prestativas, compartilhando seus conhecimentos acerca de “outra” Guaraqueçaba, dos tempos que a viveram ou a conheceram e que já não voltam mais... estas histórias ainda se mantém vivas graças a suas memórias e sua partilha.
       
        Na Grécia antiga os Rapsodos, algo equivalente a poeta ou mesmo cantor e pelo poder deste canto – uma vez sem o poder da escrita – percorriam vilarejos a cantar e contar fatos, personagens, ultrapassaram seus limites temporais. As suas histórias ficaram.

        Era mais ou menos assim pelas ruas de Guaraqueçaba com o saudoso Eugeniano Ferreira, o dia todo, a quem quer que visse e desse importância, dispondo de tempo, para que, numa parada pelas ruas ou nos bancos de praça, pudesse se deliciar com sua memória, histórias da Guaraqueçaba do início do século.


        Mais contemporaneamente outro personagem compartilha suas memórias com aqueles que dispõem de "um pouquinho de tempo" para ouvir.



Manoel Theodoro, o nosso “Maneco”, nasceu no dia dedicado aos professores, como se orgulha em falar, ou seja, 15 de outubro, do ano de 1935, na localidade denominada Porto do Mato (próximo a Ponte de Ferro), em Guaraqueçaba.




            Seu pai, Antônio Martins Fagundes, era nascido em Cananéia, a 13 de junho – Dia de Santo Antônio, no ano de 1897 e faleceu em Guaraqueçaba, no mesmo dia [13 de junho], do ano de 1967; Casou-se com Ermelina e desta união nasceram: Roque (policial; mais tarde faleceu em Ivaiporã), Miguel Pereira Fagundes, Juliani, João, Dorçulina, Dorçulino; mais tarde, em novo enlace, casou-se com Mercedes de Assumpção Theodoro Fagundes, do qual nasceram: Manoel Theodoro – Maneco -, Maria Fagundes, Bertulina, Celestino e Laudelina (falecido ainda criança).
            Maneco orgulhoso sempre ressalta o irmão Celestino – o melhor goleiro que Guaraqueçaba já teve que inclusive jogara em alguns clubes em Paranaguá (Seleto, Rio Branco, Sete de Setembro), e a irmã Juliani, parteira reconhecida em toda redondeza e filha desta, Ermelinda, casada em Paranaguá com o russo Miguel Olinik, um dos construtores do Palácio do Café. Já a avó Dorotéia morreu com 115 anos.

            Nas inúmeras histórias que todos os dias, constantemente repete pelas ruas da cidade, recentemente esteve na Câmara dos Vereadores, em sessão, lembrando a biografia do pai [Antônio Martins Fagundes], que exercera a função de Vereador, por duas legislaturas e ainda foi Oficial de Justiça, portanto, como propõe, espera o reconhecimento do progenitor e em sua homenagem a nomeação de um logradouro público na cidade.

Antônio Martins Fagundes

            Maneco, em 1958 foi morar em Paranaguá, onde trabalhou no cais do Porto, na sacaria por 08 anos; no ano de 1964 foi morar em Curitiba, onde por 25 anos trabalhou na Telepar, oportunidade, por conta do serviço de ligador e instalador, em que viajou e conheceu cerca de 50 cidades no Paraná.
             Casou-se em 21 de dezembro de 1968 com Celsina da Silva Fagundes, natural de São José do Rio Preto, com a qual teve Moisés, Miriã e Mara, uma professora de Artes, outra funcionária da Anatel, em Ibaiti.
             No ano de 1991, Maneco comprou um terreno em Guaraqueçaba (CR$ 50.000) e em 2017 retornou a morar em sua terra natal.

             Sua vida tem sido, em todo momento, em toda oportunidade, pelas ruas, praças e em visitas a velhos amigos, relembrar fatos da Guaraqueçaba que conheceu na infância. Um dos assuntos é referente a iluminação, ainda a lampião, quando Izidoro, a todo anoitecer percorria os postes ascendendo as lamparinas de querosene pelas ruas.
             Saudosista que é, lembra a escola ou Colégio Moisés Lupion, como chamava na época o seu grupo escolar (hoje Colégio Estadual Marcílio Dias).


Guaraqueçaba, 1920


Sempre há tempo e conhecimento para compartilhar um pouquinho mais do que vivera; relembra os barbeiros Antônio Silvestre e Heros, os policiais Nilo e Leonildo, ainda Alípio Murin, o guaraqueçabano que esteve na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Acerca de seu velho pai, ainda relembra os fandangos que dava em seu sítio, bom violeiro que era e que afinava “Pelo Meio” e “Intavivado”.



Canoa Caiçara
(imagem meramente ilustrativa)

Maneco ainda aprendeu a confeccionar canoa caiçara, de Guaperuvú e Guaricica, fazendo uso de Enxó; ainda aprendeu a confeccionar tipiti, peneira, gamela, bodoque, e bem sabia armar um mundéu, uma vez que gostava de caçar. Numa destas caçadas lembra que, em 1957, com sua velha espingarda matara em menos de um mês 15 macucos, comprados na venda por Otílio Carvalho. Aprendeu ainda a fazer Bereréca, um tipo de beiju, mais mole, a partir da mandioca que muito plantaram nas suas roças.

TIPITI
(imagem meramente ilustrativa)

             Assunto que sempre relembra, são as histórias relacionadas a Revolução de 30 quando o Comandante em Guaraqueçaba era Palmiro Gomes, de Jacarezinho e seu quartel onde hoje se localiza a Prefeitura Velha.
Dizia que Guaraqueçaba devia pertencer a São Paulo, portanto havia conflitos entre o PR e SP. Além disso, a Revolução objetivava derrubada do Governo de Vargas e na questão SC e RS também entraram no conflito apoiando o Paraná; em 1927 houve a entrada por Guaraqueçaba rumando a São Paulo, pelo Batuva, quando guaraqueçabanaos, entre eles seu pai Antônio Martins Fagundes, fora um dos guias das tropas, abrindo picadão pelo mato para passagem dos soldados e cavalaria.
Houve muitas mortes pela região. Maneco ainda quando criança, teria visto sepulturas rasas, com cruzes de madeira me que o limo já a descaracterizava, quando fora visitar um velho sítio, em Batuva. O irmão Roque, lembra, dizia ter se cansado de carregar corpos para sepultar nas valas.

(imagem meramente ilustrativa)


Outro fato relacionado a Revolução, lembra, o pescador Prisco. Este foi encarregado de cuidar da comunicação – telefone ainda  a manivela – no Porto da Linha e avisar o Quartel, em Guaraqueçaba, se acaso suspeitasse da invasão paulista no território paranaense. Certo dia Prisco chega em Guaraqueçaba, ofegante, cansando, tendo percorrido todo trajeto a pé, correndo, para avisar da invasão. Por não ter avisado pelo telefone e assim ter dado mais tempo para as tropas se prepararem, foi logo decretado sua punição, fuzilamento. Emparedado que estava prestes a receber um tiro final, Prisco foi salvo “por um triz”, como costumeiramente se diz, quando o Capitão chegara ao Quartel e ordenara que não prosseguisse o ato punitivo, porém, Prisco já se encontrava “borrado”, livrando-se da execução, mas ficando assim sua história marcada.

             Maneco é um guaraqueçabano que com sua voz e a brilhante memória, compartilha suas histórias, fazendo permanecer viva a Guaraqueçaba do século passado. 

Seu Maneco mostrando as imagens da mãe e do pai

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4 comentários:

  1. Minha vó contava essa história da revolução de 30. Ela morava no Batuva e tinha uns 18 anos à época, o nome dela era Nícia Barreto Xavier (ou Nícia de Freitas Barreto, nome de solteira).

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  2. Meu pai manoel theodoro fagundes, depois de muitos anos em curitiba foi morar em Guaraqueçaba, sempre nos conta essa história com orgulho!

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  3. Meu avô Manéco, realmente adora contar histórias.
    Orgulho ❤

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  4. Sua mãe,(tia Mercedes), irmã de José Theodoro (constantino)

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