Em 1922 - Centenário da Independência do Brasil - foram diversas as homenagens pelo Brasil afora...
Não diferente, a
Confederação dos Pescadores do Brasil, de uma forma ousada, resolveu enviar à
Capital Federal, então Rio de Janeiro, uma comitiva de pescadores,
representantes de todos os estados brasileiros, e, detalhe, a remo, tendo
confirmação dentre outros, de pescadores de Natal, Aracajú e Salvador.
No Paraná, a Capitania dos
Portos, com sede em Paranaguá, divulga a iniciativa, juntamente com o Comandante
da Escola de Aprendiz de Marinheiros o Capitão-Tenente Dídio Iratim Afonso Costa,
bem como pela Confederação dos Pescadores, ao que comparecem um destemido
grupos a fazer os exames necessários para a destemida jornada.
Pouco tempo depois, já com a equipe selecionada, foram escolhidas também duas canoas: A “Paranaguá”, emprestadas com a Associação das
Práticos da Barra de Paranaguá e a “Paraná”, da Fortaleza Nossa Senhora dos
Prazeres, ambas medindo 9,90m de comprimento por 1,10m de boca, foram
aparelhadas, recebendo mastros e velas.
A canoa "Paraná" foi comandada por Joaquim Mariano
Fernandes “Joaquim Tigre” e a canoa "Paranaguá" por Antônio Serafim Lopes “Barra
Velha”, auxiliados pela equipe: Domingos José Trizani, Virgílio Farias, Manuel Praxedes de Oliveira, José Antônio Ribeiro, Valentim Tomáz, Manuel Carlos Serafim, Olívio Elias e Antônio Gonçalves Rodrigues.
E partiram do Rio Itiberê em 7 de setembro de 1922, às 15:30 horas, a percorrer as 450 milhas, feito realizado em 16 dias.
“as duas canoas largaram do cais e navegaram em direção da foz do mencionado rio, sob os aplausos ruidosos e os votos de feliz viagem e breve regresso de uma multidão que se estendia, comprimida, na beira do rio, acompanhando com o olhar os canoeiros até a curva do “furado”, desaparecendo nas águas do lado oriental da ilha da Cotinga”.(FREITAS, 1999, p. 397).
Percurso:
“por volta da meia-noite de 8 de
setembro, as canoas “Paraná” e “Paranaguá” deixaram a barra. Em mas condições de tempo, contornaram o
Superagui e, enfrentando a costa oceânica, atingiram a ilha do Bom Abrigo,
sempre acossados pelo tempo. No dia 10, alcançaram Cananéia. A 13, estavam em
Santos, atingindo, depois de travessia tormentosa. A 16, enfrentando mar
agitado, chegaram a São Sebastião. Contornando os recortes da costa, navegando
de angra em angra, de pouso em pouso, ao longo do percurso, seguiram os
arrojados caboclos a rota e rumo nas duas canoas. A 20, estavam em Angra dos
Reis. A 23, pela manhã, encostavam ao lado do navio de guerra da Marinha do
Brasil “José Bonifácio”, no porto do Rio de Janeiro. (FREITAS, 1999, p. 397).
A instabilidade do tempo, as ondas bravas
do mar, o frio, a fome, a sede, o sono, o cansaço, o medo, o susto, não foram
suficientes para desencorajar a férrea vontade desses heroicos e entendidos
marujos do litoral paranaense. Um heroísmo sincero, verdadeiro e um exemplo,
uma lição de amor à Pátria. (FREITAS, 1999, p. 397).
https://pt.scribd.com/document/220180168/Revista-Rumos-23-pdf
https://pt.scribd.com/document/220180168/Revista-Rumos-23-pdf
A Revista Rumos Práticos reproduziu uma crônica do jornalista parnanguara Caetano Evangelista, publicada
no livro Crônicas, editado em 1978
pelo Conselho Municipal de Cultura de Paranaguá:
“Estive presente, naquela manhã chuvosa, à
partida dos heróis humildes - verdadeiros lobos do mar. Partiram do Rio
Itiberê, aclamados
pelo povo, os canoeiros indômitos – representantes de Paranaguá. Paraná e Paranaguá,
canoas, deixaram a raia do litoral
do Paraná na manhã do dia 7 de
setembro (de 1922). Primeiro pouso: a
Ponta do Bicho, depois de quatro horas de navegação a remo; aos primeiros albores
do dia seguinte aproaram para a Ilha do Bom Abrigo, onde chegaram ao meio-dia
acossados por forte brisa de leste, que soprou durante dois dias, impossibilitando-os de navegar. No dia 10 largaram de pano em direção à Cananéia a cuja praia chegaram na noite do mesmo dia. Descansaram durante a noite, voltando na manhã seguinte ao Bom
Abrigo, visto ser esta a ilha ponto
indispensável daquela costa.
Almoçaram aí e, às 11 horas largaram
com destino a Santos, cuja barra
alcançaram depois de dois dias e duas
noites de viagem Entraram em Santos
na madrugada de 12 de setembro e
permaneceram até amanhã de 14,
seguindo depois para São Sebastião,
onde chegaram três dias após, por motivo do mau tempo reinante ameaçador. Mas Paraná e Paranaguá foram mais fortes
que aborrasca. Venceram, guiadas que
foram por valentes brasileiros! De S. Sebastião à baía de Guanabara pararam ainda
em diversos pontos para se livrarem
da tempestade, entre eles Angra dos Reis, Jacareí, Ponta da Paciência, Ibicuí, Sepetiba e Pedra de Guaratiba.
Depois de 17 dias eis que os heróis
parnanguaras chegaram à capital da República para a glória do Paraná e do Brasil”.
Ave,
pescadores!
E partiram serenas as canoas.
Frágeis madeiros. Rude trajetória.
Almas ao mar afeitas, simples boas.
Levavam no seu bojo, rumo a Glória.
É mais um fasto para nossa história:
Sobre o dorso das ondas, como leoas,
Edificaram, rígida, marmórea,
Essa epopeia, entre bênçãos e loas.
Pulsos de pescadores, férreos pulsos
Dez corações enormes de patriotas.
Fremindo de heroísmo aos são impulsos.
O velho mar, que urros de fera dá.
Certo espalhou pelo ar festivas notas,
Caminho abrindo a heróis do Paraná.
(Otávio Sidnei – Ctba, 25.9.1922)
Foram recebidos na Capital por Rui Barbosa, pelo Presidente Epitácio Pessoa, além dos Ministro da Marinha, do Inspetor de Portos e do Presidente do Estado do Paraná Dr. Caetano Munhoz da Rocha. O Congresso Nacional concedeu a todos a premiação de 200 contos de réis.
Mais tarde, já em solo paranaense, também recepcionados pelo Presidente do Estado do Paraná, o Dr. Caetano Munhoz da Rocha, recebendo do Estado a premiação de 6 contos de réis.
POR
QUE CONTO ESTA HISTÓRIA?
O
‘patrão’ da canoa “Paraná” nesta jornada cívica era Joaquim Tigre.
Joaquim
Mariano Fernandes, o “Joaquim Tigre” é nosso conterrâneo, nascido no Varadouro
(ainda que à época pertencente à Paranaguá), em 21 de outubro de 1869, filho de
Francisco Fernandes e Agostinha Fernandes.
Em Paranaguá, para onde foi
residir profissionalmente ocupou funções de Mestre de rebocador de portos, rios
e canais, Mestre de chatas; Já em Santa Catarina, onde também trabalhou, foi Mestre
de draga. Retornando a Paranaguá em 1917, ocupou a função de Prático da Barra - Patrono da Praticagem.
Em 1932, heroico novamente,
salvou a vida de 155 pessoas, passageiras do navio Maria Madalena, assolado em
tempestade, encalhando em banco de areia, porém, resultado deste penoso
trabalho de salvatagem naquele dia frio e chuvoso, adoeceu de pneumonia e
faleceu três meses depois.
“é pois Joaquim Tigre um dos grandes
vultos não só da cidade litorânea que lhe serviu de berço, como do Paraná e do
Brasil. Ele merece muito mais do que ser patrono de uma rua”. (NICOLAS, 1964, p.
70).
Em homenagem há uma rua em
Paranaguá levando seu nome; O conterrâneo Profº. Waldomiro Ferreira escreveu
seus nomes nos anais da história; Sirva também esta postagem como a recordar
grandes homens de nossa história, mas em Guaraqueçaba, aqui não! Em
Guaraqueçaba ainda vai levar tempo para nossos gestores valorizarem nossa
própria história. É lastimável.
Joaquim Tigre é o segundo, de pé, da esquerda para a direita, ao lado de Barra Velha (a sua esquerda)
Referencial:
Revista O Itiberê, nº42, outubro de 1922.
FREITAS, Waldomiro Ferreira. Paranaguá das origens a atualidade. Paranaguá: IHGP, 1999.
NICOLAS, Maria. Almas das Ruas de Paranaguá. 4º fascículo. Curitiba, 1964.
Revista Rumos Práticos Ano IX, numero 23 - out/2007 a jan/2008. Disponível no site: <https://pt.scribd.com/document/220180168/Revista-Rumos-23-pdf>.
Interessante essa passagem de nossa história.
ResponderExcluirDifícil imaginar que duas canoas, representando nosso estado, participaram de uma aventura dessas por patriotismo, visto que não sabiam, na época em que foram para lá, que receberiam algum prêmio pelo feito.
Precisamos, nos dias atuais, de patriotas como essas duas equipes.
Foram verdadeiros heróis. Parabéns a todos.
ResponderExcluirMeu tataravô Joaquim Tigre estava lá. Verdadeiros heróis. Sidney Doherty Jr.
ResponderExcluirOla, muito me interessa essa história.
ExcluirMeu e-mail Osvaldinhodeantonina@gmail.com
Meu bisavô Joaquim Tigre, com muito orgulho vi essa homenagem! Aldiney Fernando da Siva
ResponderExcluirPor acaso e com satisfação li esta homenagem a meu avô Joaquim Tigre, pai de minha mãe.
ResponderExcluirOdilon Fernandes da Silva, atualmente vivendo em Campo Grande, MS.
Odilon me informe seu celular.
ExcluirJoaquim Mariano Fernandes Neto
Ele era meu querido avõ com tantas histórias gostaria que contassem a dele em um livro ou filme vamos valorizar nossos heróis
ExcluirMeu avô Joaquim Tigre ... tenho os jornais da época comigo .
ResponderExcluirOlá que interessante. Importante fonte histórica.
ExcluirHistória do meu trisavô, que me dá muita satisfação e orgulho!
ResponderExcluirAmaro Silva de Oliveira
ResponderExcluir2022 centenário desta jornada.Devemos resgatar e através deles homenagear nosso bravo povo caicara.
meu nome é Antônio Carlos Fernandes neto do tigre nasci em são Paulo quero agradecer o único meio de comunicação que é vocês; sobe que o Cachino faleceu neto do tigre meus maiores pesares a família do tio Cassio, já falecido meus mais profundos sentimentos shazamlua@gmail.com
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