"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

11 de março de 2015

Antônio e seu amor ao Fandango Caiçara!

o exemplo de amor e dedicação à sua cultura
 
 
        Neste dia 10 de março faleceu em Guaraqueçaba Antônio Alves Pires ou Antônio Cardoso como muitos chamavam, violeiro, contador de histórias, amante de sua cultura, apaixonado pelo Fandango Caiçara.
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        Corria os anos 2000 e fazíamos um ensaio de Fandango na sede do grupo de teatro e lá fora, em cada ensaio estava ele, Seu Antônio, distante, encostadinho no muro, ouvidos apostos e atentos, olhar distante....
        Instigado, certa vez me aproximei e perguntei: "O Sr. conhece o Fandango?". Ousadia minha fazer esta pergunta. "Um pouquinho" - respondeu-me, timidamente em sua simplicidade. Perguntei-lhe de onde era e respondeu-me prontamente, acrescentando que também tocava um pouquinho de viola. O convidei a entrar, não aceitou, ainda com receio de ver jovens fazendo Fandango, pois ali ninguém o conhecia, portanto não era o ambiente agradável e familiar que conhecera no Fandango. Perguntei onde morava e se podia, quem sabe passar lá qualquer dia para conversarmos, ele prontamente respondeu que não tinha mais viola. Eu disse que levaria. Ficou acertado.
 
        Passado alguns dias, após comprarmos um gravador, eu e Aurélio Jr., fomos visitar seu Antônio e excelentemente bem recepcionados, com direito a salgados, gentilmente preparados por sua sobrinha, ali sentamos por horas a fio numa conversa sobre Fandango Caiçara, as memórias de Seu Antônio... Quando mostramos a viola era perceptível o brilho em seus olhos e a imensa vontade de agarrá-la logo e quando a demos ele negou. Disse não querer e na nossa insistência ele revelou: "mais de quarenta anos não toco viola, desaprendi, mas vocês podem vir sempre aqui tocar".
        Anotações vai, anotações vem, as visitas se tornaram constantes e acompanhamos um processo maravilhosos, como uma redescoberta de seu Antônio com o Fandango e com a Viola, um novo começo, a 'desenferrujar' os dedos, como dizia, para fazer os pontos, a rememorar melodias e cantigas e ver sua grande alegria emfazer Fandango novamente, pois como acreditava, Fandango não existia mais.
        Foram diversas visitas, eu com a viola e Jr com a rabeca e Seu Antônio olhando, por vezes pegando a viola e arranhando mas logo entregava. Sua voz sempre falhava, era perceptível que contia as lágrimas por várias vezes. Esforçava-se para lembrar e cantar uma moda até o final, uma das primeiras que cantou na nossa viola era dedicada a Nossa Senhora do Rocio, uma moda sertaneja que era cantada nos ritmos da viola de fandango...
        Tornou-se um frequentador da Casa do Fandango, de nossos bailes e apresentações e certa vez, me encontrando na rua disse não precisar mais levar a viola para ele e quando questionado o porque, revelou que acabara de comprar uma.
        Revivia Antônio Alves Pires os tempos bons do Fandango Caiçara.
        Foi entrevistado e participou do Museu Vivo do Fandango, tornando-se referência desta nossa cultura, apesar de sua doença e idade avançada que sempre o afastava de nosso convívio.
 
        No dia 10 de março, em que o Fandango Caiçara recebeu sua certificação oficial como Patrimônio Imaterial do Brasil, seu Antônio não estava lá para ver, estava acamado e na mesma noite enquanto se comemorava tal reconhecimento, importantíssimo para nossa cultura, do qual Seu Antônio fez parte, ele faleceu.
 
        Resta a este pesquisador, em nome da cultura caiçara, agradecer o imensa contribuição deste humilde e simples senhor às nossas tradições.
 
Museu Vivo do Fandango
 
        Suas memórias estão registradas na pesquisa "Fandango: Na Alma de Minha Guaraqueçaba", de autoria deste pesquisador, aguardando apoio para publicação.
 
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Certificação do Fandango Caiçara
Texto do Portal Iphan paraná
 
        No dia 10 de março, próxima terça-feira, a cidade de Guaraqueçaba celebrará o Fandango Caiçara junto à comunidade local. O Fandango Caiçara é um bem cultural reconhecido desde 2012 como Patrimônio Cultural Brasileiro de Natureza Imaterial.
        O fandango é uma expressão musical-coreográfica-poética e festiva, cuja área de ocorrência abrange o litoral sul do estado de São Paulo e o litoral norte do estado do Paraná.
        Essa forma de expressão se classifica em batido e bailado ou valsado, cujas diferenças se definem pelos instrumentos utilizados, pela estrutura musical, e pelos versos e toques.
        O fandango possui uma estrutura bastante complexa e se define em um conjunto de práticas que ultrapassam o trabalho, o divertimento, a religiosidade, a música e a dança, prestígios e rivalidades, saberes e fazeres. Nos bailes, como são conhecidos os encontros onde há fandango, se estabelecem redes de trocas e diálogos entre as gerações, intercâmbio de instrumentos, afinações, modas e passos viabilizando a manutenção da memória e da prática das diferentes músicas e danças.
        O Fandango Caiçara é uma forma de expressão profundamente enraizada no cotidiano das comunidades caiçaras, um espaço de reiteração de sua identidade e determinante dos padrões de sociabilidade local.
       
        cerimônia na Câmara de Vereadores, em que os mestres e grupos de Guaraqueçaba receberão o titulo de Patrimônio Cultural Brasileiro, é aberta à comunidade interessada.
 
 
Estiveram presentes diversos fandangueiros das comunidades, tanto na cerimônia na Câmara de Vereadores, quanto nas conversas acerca das ações de salvaguarda do Fandango Caiçara, finalizando com apresentação de Fandango caiçara, a noite, no Mercado Municipal.
 
Ver no site do Iphan a reportagem da certificação
 
 
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Este pesquisador elaborou uma proposta do Dia doFandango Caiçara, a ser entregue ao Legislativo Municipal nos próximos dias.
 

3 de março de 2015

História não-oficial de Guaraqueçaba

       Nada melhor que março, mês de aniversário de nossa cidade, quando vemos o aumento significativo de alunos e professores pela história de Guaraqueçaba e como já faz tempo que divulgo, em palestras e aulas e mesmo conversas informais, inclusive em algumas legislaturas passadas encaminhando documentos aos poderes legislativo e  executivo municipal com esclarecimentos acerca da historiografia de Guaraqueçaba e a possível correção de algumas inverdades oficializadas em nosso município.

        Neste ano tentando cumprir minha função enquanto historiador, disponibilizo minha pesquisa histórica, primeira contribuição deste para o IHGP Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

        Mesmo não sendo a história oficial do município e discordando de datas  aceitas como verdadeiras, ofereço-lhes também, nobre leitor deste blog, o artigo Guaraqueçaba 466 anos "A Vovozinha do Paraná".

Segue link do artigo:

https://drive.google.com/open?id=0B3Ue7WCPmb5GbGY4MV9nRkFnV2s
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