Já passaram 10 anos da postagem (http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2009/05/historia-soterrada.html) em que lamentavelmente expúnhamos o abandono pelo qual nossa história passava... Infelizmente - acredite - pouca coisa mudou. O abandono continua. O descaso é lamentável... Mas demos passos, no mínimo, interessantes...
Nesse ínterim, foi aprovado??? a lei Nº 670/20018 que cria a Casa de Memória de Guaraqueçaba (http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2018/03/museu-de-guaraquecaba.html), porém, um ano se passou e NÃO quero acreditar que "ficou para a história" ou era apenas "história da carochinha"...
Nesse final de semestre, temos visto alguma ação no sentido de valorização de nosso patrimônio histórico. Trata-se da revitalização do Relógio Solar.
Aproveito para lançar nota biográfica daquele que, em 1969, ousou na construção de um Relógio Solar em Guaraqueçaba e parabenizo a iniciativa em tal obra de valorização de nosso patrimônio.
Aproveito para lançar nota biográfica daquele que, em 1969, ousou na construção de um Relógio Solar em Guaraqueçaba e parabenizo a iniciativa em tal obra de valorização de nosso patrimônio.
O Nosso Pixirum aproveita a ocasião para parabenizar a iniciativa e vermos um pouquinho mais de nossa história valorizada... Passo importante e não podemos nos esquecer de que há ainda muitos outros passos...
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O “SENHOR DO TEMPO” E O RELÓGIO SOLAR
DE GUARAQUEÇABA
FÉLIX PEYRALLO CARBAJAL
O SENHOR DO TEMPO
Dando
alimento a sagaz fome do historiador, inicio por uma rápida busca ao nome Félix
Carbajal, conforme levantado e gravado na placa, em nosso Relógio Solar. Alguns
resultados da busca me direcionam a um goleiro mexicano ou um corredor cubano,
mas outro ao “Senhor do Tempo”; este, nômade, com outros tantos adjetivos como o
andante, o andarilho, ou como ele mesmo se intitulava: “um peregrino feliz pelo mundo”...
Numa
dessas dicas que a vida nos apresenta acerca de nossa missão nessa terra, Félix
Peyrallo Carbajal nasceu exatamente no dia 23 de setembro de 1905 (1913???)
– equinócio de Primavera – em Montevidéu/URU.
Aos
17 anos, três após a morte do pai, inicia sua “peregrinação pelo mundo”,
rumando à Madri/ESP, onde boa parte de seus recursos financeiros foram
empregados em sua formação, estudando Letras, período em que compartilhava
estudos e morada com Garcia Lorca, Bruñoel, Pedro Garfias; em Paris/FRA estudou
História na Sorbonne, aluno de Piaget, convivendo com Hemingway...
Espanhol,
inglês e francês falava bem; escrevia e lia em italiano, grego, latim, alemão e alguns idiomas indígenas; ainda estudara Filosofia e Ciência no México, possuindo
Doutoramento em Stanford (E.U.A), onde, já anarquista e sem apego material
algum, descobre que também acabara todo seu dinheiro e “sem documento, sem
diploma, sem família, sem laços”, seguiu caminhando levando sua
extrema sabedoria e uma muda de roupa - sempre branca - escrevendo para jornais
e revistas e por onde passava proferia palestras; foram mais de 10.000 – era
sua contrapartida aos lugares em que era acolhido.
Em seus
estudos se aproximou de Picasso, Salvador Dalí, Frida Kahlo, Pablo Neruda,
Simone de Beauvoir, dentre outros, mas ao que parece, a literatura e a poesia era
uma obsessão, estando sempre em lugares, onde quer que fossem, que tivesse ou
residisse algum poeta. No
Brasil queria conhecer Manuel Bandeira, do qual foi agraciado com uma crônica.
“O
estrangeiro”: "Dei-lhe os três
minutos. Uma lábia infernal... Virou pelo avesso o meu ‘Último poema’; Comentou
a tradução do ´Torso de Apolo´, de Rilke , referiu-se com entusiasmo a uma
jovem poetisa cubana, Carilda Oliver Labra, conhecia todo o mundo na América,
falou de Neruda, de Leon de Greiff, de Coronel Urtecho, mostrou-me
notícias de conferências suas em Belém do Pará... - De que vive? - De
mendicância. Tem sido assim em toda parte, será aqui também. Quando tenho fome,
entro num restaurante e peço comida. Um, dois, três recusam, o quarto me
atende. Quando me regalam onde dormir, durmo em cama. Senão passo a noite
andando: tenho uma saúde de ferro, posso andar 25 quilômetros sem sentir
fadiga. Comer, dormir não são problemas para mim. Os problemas da vida são
outros.
Despediu-se sem me pedir nada. Perguntei-lhe se aceitava dinheiro para o jantar. O ´sim´ alegre e enérgico com que respondeu já era o seu agradecimento”.
Despediu-se sem me pedir nada. Perguntei-lhe se aceitava dinheiro para o jantar. O ´sim´ alegre e enérgico com que respondeu já era o seu agradecimento”.
Certa
vez, na Nicarágua queria conhecer a casa de Ruben Darío, porém, numa revista
que folheava um garoto, viu o desenho de um relógio solar e como distração,
rapidamente fez uma miniatura, espalhando sua fama de construtor de relógio, aceitando o pedido do Prefeito, construindo um na praça da
cidade... Deste primeiro, somaram-se outros 500 relógios projetados e 180
construídos pelos 64 países e 28 colônias em que passou, dentre os quais no
Brasil nos estados da PB, BA, RS, SC e PR (Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba).
Relógio Solar em Paranaguá
Desta passagem por
Paranaguá, Félix fora convidado pelo então recém-eleito Prefeito de
Guaraqueçaba Gabriel Ramos da Silva, em 1969, para a construção do Quadrante Solar em
Guaraqueçaba.
Ao certo não muito diferente das suas passagens por outras regiões, chegara em julho de 1969, com uma maleta nas mãos onde portava um caderno de anotações, livros e
algumas peças de roupas, brancas, chamando a atenção na bucólica Guaraqueçaba, recebendo aqui, por causa de suas ideias geniais e pensamentos fantásticos, uma nova alcunha: "louco número 1".
Recebera hospedagem e funcionários para ajudá-lo - Luizão Terezin - como
era costumeiro pedir, e após sua escolha do local ideal para o Quadrante Solar.
Em menos de dois meses, concluída sua obra e continua sua peregrinação pelo mundo, resta-nos hoje, nosso
Relógio Solar, uma marca do “Senhor do Tempo”.
Félix Peyrallo Carbajal desde 2003 habitava o asilo público
em Blumenau/SC.
“num canto, sob a luz de uma janela,
está Félix. Tem uma mesa só para ele. Cheia de livros, papéis, lápis, canetas.
Está com o rosto enterrado num papel. Enxerga mal, por causa da catarata. Tão
logo nos vê, se levanta, solícito. Beija, delicadamente, a mão de cada uma.
"- Senhoritas!!!!”, exclama, com um adorável sotaque espanhol. É um gentil
homem. Sem que ninguém pergunte vai informando. "Estou traduzindo este
texto para uma revista de Buenos Aires". E assim é. Beirando um século, o
sábio anarquista trabalha a todo o vapor. Escreve, cria, lê e profere conferências”.
Faleceu em agosto de 2005.
Esta
postagem foi possível a partir de depoimento do Sr. João Amadeu Alves, bem como dos sites:
MACHADO, Ricardo. O nomadismo de
Félix Carbajal - https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/169095;
tese (UFSC, 2016).
Acréscimo em 17/10/2020
assista no link abaixo ao vídeo sobre esta história
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