"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

29 de janeiro de 2013

Zé Muniz! missionário, cristão - pescador, fandanguero, mestre... UM GRANDE PAI!!!!!!!



        Talvez seja esta uma postagem diferente, no mínimo difícil para mim, pois rememorar a vida de meu pai é também lembrar as suas lutas travadas diariamente que permitiram a nossa família, sobretudo a minha existência.
        Papai, José Hipólito Muniz, Zé Muniz ou somente Téco, como é conhecido em algumas comunidades, principalmente em Barra de Ararapira, onde nascera em 30 de janeiro de 1945, tem relevante atuação na vida cultural, espiritual e profissional, ao menos do povo caiçara, na região de Guaraqueçaba.
Museu Vivo do Fandango
foto: Felipe Varanda
        Paranaense, é nascido naquela exuberante praia - Barra de Ararapira - que faz divisa com o estado de São Paulo, hoje área de proteção permanente, mas por aquele mar e mato trabalhou em pequenas lavouras de subsistência, com plantações de rama e maior destaque à atividade da pesca artesanal, praticada no “mar de fora”, quando atravessam a terrível “barra” e vão de encontro com o oceano, a cacear, lancear e arrastar, principalmente camarão, mas também algumas variedades de peixes, de acordo com as épocas propícias, como tainha, robalão, pescada, cavala, entre outras.
 
através do mar e com as graças de Deus nossas necessidades sempre foram supridas, como com esse Xaréu

       
        Desde sua tenra infância foi lhe atribuída a tarefa de ministrar as primeiras letras aos irmãos menores, visto a enorme dificuldade de instrução naquelas plagas, herdando além das habilidades caiçaras no mar e no mato, a fé católica professada em sua comunidade como liderança nos terços e cultos e disseminada onde quer que andasse e que mais tarde mudaria os rumos de sua vida e da família que constituíra.
 
        Também a musicalidade caiçara se fez presente em toda sua vida, pois grande devoto do Divino Espírito Santo, acompanhava com fervorosa alegria a Romaria, quando por ali passavam as bandeiras do Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade, e mesmo a de São José de Ararapira ou São Luiz Gonzaga de Ariri, quando também como líder religioso, espécie de Capelão, pois era raro a presença de sacerdote naquelas distâncias, a executar os terços-cantados.
 
        No Fandango Caiçara, herdou o dom de tocar viola do pai [Leandro Muniz], inclusive ganhando deste um instrumento, quando o pai percebera que o pequerno Téco já havia aprendido o instrumento e, não gostava muito de saber que pegara a sua viola as escondidas para treinar as primeiras modas. A rabeca, tão bem executada por Leandro Muniz, foi o que Zé Muniz não conseguiu aprender, dedicando-se a viola e frequentemente nos Fandangos dava sua contribuição nos domdons e chimarritas, o que manteve viva em sua memória, mesmo quando da comunidade migrara e ainda sem viola, as modas e os causos caiçaras, que sempre ouvira...

possui inúmeras anotações manuscritas sobre a cultura caiçara, com músicas e versos, seja do Fandango Caiçara, Romaria do Divino Espírito Santo ou Terço-Cantado.
 
        Casou-se em 1970 na mesma comunidade e, nove anos depois, a convite do Pe. Mário di Maria (ver postagem: http://informativo-nossopixirum.blogspot.com.br/2012/12/padre-mario-di-maria-um-homem-mandado.html), deixou a comunidade natal com o firme propósito de fazer missão católica, uma vez que não pudera tornar-se um sacerdote, como sonhara (sua irmã Isolina tornou-se freira do Instituto São João Batista), poderia agora, após o matrimônio, contribuir para que a Palavra de Deus pudesse chegar às outras famílias e comunidades, uma vez que na Barra de Ararapira, em sua totalidade, encontravam-se Católicos Apostólicos Romanos, o que permanece até os dias de hoje.
entrevista para "Fandango de Mutirão"
foto: Lú Brito
        Primeiro esteve em Superagui por dois meses, depois em Tromomô por cinco meses e de lá para Guaraqueçaba, acompanhado de esposa e filhos (foram nove no total, dos quais dois já falecidos), dedicando-se à pesca artesanal, agora diferente, no mar de dentro, em Guaraqueçaba e continuando sua missão, como piloteiro da Paróquia do Bom Jesus dos Perdões, auxiliando o grande Padre Mário nas visitas às comunidades; Eu, por exemplo, demorei um pouco a entender, que aquilo não era um trabalho para ele, e sim uma missão, do qual recebia uma pequena ajuda de custo, complementando a renda com a decadente pesca artesanal, portanto, por vezes, faltando diversos víveres, mas nunca a fervorosa crença num Deus que tudo provê;

o Fandango Caiçara sempre esteve presente em nossa casa. Eram modinhas o dia inteiro...
 
        Não foram poucas as oportunidades, mesmo eu sem nunca entender do que se tratava, de ver papai a cantarolar pela singela casa, melodias que só agora tem sentido para mim, tratava-se do Fandango Caiçara, rememorando sua família, sua comunidade natal, seus bons momentos, sua velha viola, que nestas andanças missionárias tivera que deixar para trás... Era tudo aquilo ali, em poucos versos, a sua tradição, sua cultura, agora também a minha.
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procissão de São Pedro (29 de julho) e Bom Jesus dos Perdões (06 de agosto)


        BAZZO, Pg. 168, descreve as palavras do então pároco de Guaraqueçaba José Carlos Chacorowski CM, na comunidade de Barra de Ararapira, quando de sua despedida e consequente transferência da paróquia:
 
“seu Muniz, que é filho desta terra, foi mais que um piloteiro que nos ajudou a enfrentar os mares. É um verdadeiro missionário, que primeiro levou a palavra [de Deus] a muitas comunidades onde antes não havia padre, celebrando cultos como ministro da Eucaristia”.

enquanto missionário visitando famílias indígenas
 
        Certa vez em Valadares, me lembro bem, uma senhora, de meia idade aparentemente, nos parou na rua e sem hesitar cumprimentou papai, dizendo lembrar, apesar dos anos que já fazia, das vezes em que visitava, juntamente com o Pe. Mário, sua comunidade, no caso a Ilha de São Miguel, hoje pertencente à Paróquia de Paranaguá. Demonstrava imensa alegria naquele encontro e muito agradeceu.
 
Zé Muniz com a equipe da Romaria do Divino Espírito Santo de Guaraqueçaba, em 2012
(cerca de 80 anos que não acontecia)
 
        A instrução religiosa sempre foi seguida com fé e devoção em nossa casa. Ao acordar ou ir deitar-se, pedir a benção; ao se alimentar agradecer sempre; Seguir jejuns e respeitar dias santos, como manda a tradição, inclusive na quaresma, depois que ganhou sua nova viola, o instrumento, durante estes 40 dias, fica dependurado, desafinado, debruçado, com sua boca virada para a parede. É o que manda nossa tradição!

Gravação do documentário "Divino: folia, festa, tradição e fé no litoral do Paraná"
 
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Recebendo a Bandeira do Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade em sua casa

        Foi muito difícil o início da vida na cidade de Guaraqueçaba, ainda mais quando, já somavam 06 filhos, acrescido ao fato da ausência por conta das constantes viagens missionárias do pai, a receptividade dos filhos pequenos nas novas vizinhanças trouxe muito sofrimento, todos superados com fé e a firme crença de uma vida melhor...
 
Bandeira do Divino Espírito Santo de Cananéia, durante o Encontro de fandango (2006)
Zé Muniz e esposa Maria Muniz, Angela e Zil, Pe. José Carlos Chacorowski CM, Cecília (In Memoriam) e Isolina Mendonça.

        Neste mesmo espírito de liderança religiosa, a experiência adquirida residindo nas comunidades caiçaras e as constantes visitas missionárias, Zé Muniz assumiu a presidência da Colônia dos Pescadores de Guaraqueçaba nos pleitos de 1984-1990 e 1995-1997, quando esta última por intervenção da Federação Paranaense de Pescadores; Certa vez até ameaças de morte recebeu por defender as causas dos pescadores e não se cansava de questionar sobre os direitos desta classe negados pelo poder local; Também pleiteou, sem sucesso, vaga como representante político, se candidatando como vereador e vice-prefeito.
Procissão marítima durante a Festa dos Pescadores (década de 90)
 
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         Pelo ano de 1996, entrei no Grupo Teatral Pirão do Mesmo e a começar a descobrir o Fandango Caiçara, mas já realizava, naquela época, anotações e guardava recortes de jornais sobre histórias de Guaraqueçaba... Alguns anos depois, veio a formação de nosso Grupo Fâmulos de Bonifrates e, numa oficina para construção de um novo espetáculo “O Canto do Galo”, o ministrante Itaércio Rocha nos propunha inserir lendas, músicas, as “coisarada do pescador” como dizíamos e nos deixou seu gravador de bolso com fitas que foram poucas, pois iniciamos uma série de gravações e nos enveredamos definitivamente a descobrir a nossa tradição.

Zé Muniz tocando viola com o filho Zé Carlos Muniz, acompanhados de Zéco Constantino (adufe) e Dorçulina Eiglmeier (In Memoriam) durante o lançamento do Projeto Museu Vivo do fandango, Guaraqueçaba 2006.
 
        Os primeiros depoimentos foram numa tarde de chuva, quando chamei papai e pedi para que cantasse algumas daquelas infinitas modas que sempre o ouvira a cantar pelos cantos de casa. Ele estava deitado, levantou e começou a cantar... mas quem despertou ali fui eu, para a minha cultura, um farto material que até hoje usamos em nossos espetáculos, tanto do Fandanguará, quanto do Fâmulos de Bonifrates, gravamos e publicamos, vivemos e relembramos constantemente muito de nossa cultura que aprendemos ali. Naquela tarde chuvosa ví papai chorar ao se lembrar de cantos sagrados de nossa cultura como as “Excelências”, por exemplo.
Papai tocando sua viola de fronte ao "futuro" Rancho Caiçara (2006)
         Passado algum tempo o presenteei com uma viola e é com esta companheira que ele toca constantemente, como uma devoção. É um momento muito particular dele, sentar-se num cantinho, afinar a companheira e tocar modas que o faz lembrar da Barra de Ararapira, dos bons fandangos, principalmente da convivência com os amigos, do seu velho pai...

        Mais recentemente (2011/2012) construímos um rancho – “Rancho Caiçara” – com o propósito de guardar meu acervo enquanto historiador sobre a cultura caiçara, tornando-se este o lugar predileto de papai e não raro, acompanhado do neto Leandrinho, o vi a tocar sua viola, dando as primeiras dicas para seu descendente sobre o instrumento.

1º grupo (Grupo Brasil Verde) a visitar o Rancho Caiçara (Jan. 2012)
Fandango no Rancho Caiçara (2013). No adufo Zé Norberto Mendonça
Fandango no Rancho Caiçara.
Leandro Diéguiz (Rabeca), Felipe (Surdo), Marcelo Mendonça (viola), Zé Norberto (Adufo) Zé Muniz (viola) 
         Algumas de suas modas e histórias já estão registradas em jornais, entrevistas, livros (Museu Vivo do Fandango, Fandango de Mutirão, Fandango do Paraná: Olhares, Fandango o bailado de gerações; Uma Romaria do Espírito Santo), DVDs (Divino: folia, festa, tradição e fé no litoral do Paraná, Museu Vivo do Fandango) e monografias (Mato que vira mar, mar que vira mato; Vila de Ararapira desenvolvimento e abandono), entre outras pesquisas a serem publicadas nas quais Zé Muniz deu sua contribuição.
Rancho Caiçara - salão de exposição

Rancho Caiçara - Oratório do Divino Espírito Santo
        Hoje, ali naquele mesmo rancho, Zé Muniz auxilia na recepção de visitantes, nos delicia com suas histórias, nos saboreia com suas modas, nos faz crer na simplicidade do SER Caiçara e do amor que possui pela sua cultura
 
REFERENCIAL
        AGUIAR, Carlos Roberto Zanello de. Fandango do Paraná: olhares / Carlos Roberto Zanello de Aguiar; textos de Edival Perrini. – Curitiba: 2005.
        BAZZO, Juliana. Mato que vira mar, mar que vira mato: o território em movimento na vila de pescadores da Barra de Ararapira. Dissertação de mestrado apresentado à UFPR Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2010.
        BRITO, Maria de Lourdes da Silva & RANDO, José Augusto Gemba (orgs). Fandango de Mutirão. Curitiba: Gráfica Mileart, 2003.
        MUNIZ, José Carlos. Uma romaria do Espírito Santo. / José Carlos Muniz. – Curitiba, PR: Imprensa Oficial, 2010.
________ Terço-Cantado: manifestação de fé do povo caiçara. Obra inédita. do autor. 50 folhas digitalizadas.
________ Fandango na alma caiçara. Obra inédita. do autor. 150 folhas digitalizadas.
________ Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo. Obra inédita. do autor. 500 folhas digitalizadas.
________ Vila de Ararapira desenvolvimento e abandono. Monografia de graduação de licenciatura em história apresentada à Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Paranaguá. Paranaguá, 2008. 82 folhas.
        PIMENTEL, Alexandre; GRAMANI, Daniela; CORREA, Joana. Museu vivo do Fandango. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2006.
        “Museu Vivo do Fandango”. Documentário do projeto da Associação Cultural Caburé. 2006.
 
 

23 de janeiro de 2013

Iguape, Cananéia, Barra de Ararapira, Ararapira... férias 2013


        No sábado dia 12/01/2013, estivemos (Marcelo, Leandro, Lorena, Célio e eu) a visitar as cidades irmãs de Iguape e Cananéia, no litoral paulista.

        Após quase 10 horas de viagem, demorada porque passamos {nos perdemos}  a entrada de Iguape por duas vezes, inclusive retornamos alguns bons quilômetros, mas apesar da noite, chuva, estávamos mesmo de férias e, todos ali, exceto eu, a conhecer pela primeira vez a Terra do Bom Jesus.

 
 
 
         Chegamos em Iguape por volta das 23:00 horas e nos deparamos com festa, música ao vivo na Praça da Basílica, animando a programação do Festival de Verão daquela cidade. Praça cheia, público animado, ainda nos restou um pouco de ânimo e fomos (Marcelo e eu) no Clube Sandália de Prata, famoso pelos animados fandango, mas naquela noite, sem outra opção, permanecemos por ali, só tocavam um forró, nada de fandango, somente noutro sábado, nos informaram...
 
        Nos hospedamos na Pousada das Conchas, cuja proprietária é mãe do Profº. Boné (José Moraes). Domingo cedo fomos conhecer a cidade, visitando o Museu de Iguape, Mercado do Artesanato, Morro do Cristo, Fonte do Bom Jesus e a tão desejada Basílica do Bom Jesus de Iguape.

Museu Municipal
Iguape foi fundada em 3 de dezembro de 1538, sendo em 1577, data em que o povoado foi elevado à categoria de Freguesia de Nossa Senhora das Neves da Vila de Iguape e a vila foi elevada a cidade pela lei n° 17 de 3 de abril de 1848 com o nome de Bom Jesus da Ribera, porém, em 3 de maio 1849, por meio da lei n° 3, o nome foi modificado para Bom Jesus de Iguape e o costume popular passou a chamá-la de Iguape.
Cidade linda, receptiva, ótimas opções e preços de alimentação e hospedagem... Esperamos voltar!
 
TERRA DO BOM JESUS...


        Próximo à Vila de Iguape fora, no ano de 1647, encontrado, na Praia do Una, uma imagem do Bom Jesus, por indígenas que ali passavam e, estes a deixaram de pé na praia. Quando retornaram notaram que a mesma encontrava-se com o olhar (sua fente) voltada para o outro lado, a Vila de Iguape. Alguns que souberam do achado lá chegaram e queriam levar a imagem para a Capitania da Vila, em Itanhaem, quando a levantaram, tornou-se ela de um peso descomunal e como não conseguiram levá-la, alguém deu a ideia de lavá-la para Iguape, quando o peso da mesma diminui consideravelmente, sendo possível carregá-la.
        Antes de entronizá-la na Igreja de Nossa senhora das Neves, pararam num riacho para lavar a imagem - FONTE DO SENHOR - onde até hoje devotos e romeiros a procuram com fé e devoção, enchendo-se daquela água e levando pedaços da pedra na qual, diz a história, a imagem ficou para ser lavada, sendo que esta, como acreditam, cresce constantemente... 

Cristo Redentor
Morro do Cristo / Iguape
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         Os planos de ir a Ilha Comprida e ou Juréia acabaram não acontecendo por que ainda pela manhã de domingo começou a chover, então tivemos que re-planejar e seguimos para Cananéia.

Fandangueiros de Cananéia
        Ainda debaixo de chuva chegamos a Cananéia. Na Rua do Artesão, num dos diversos quiosques que vendem artesanatos daquela região, há o nº 09 que pertence ao Amir, grande amigo, integrante do Grupo de Fandango Batido São Gonçalo (http://gruposaogoncalo.blogspot.com.br/), que gentilmente nos convidou a se hospedar na sede do grupo, em seu quintal... Uma casinha muito simpática e atraente, onde guardam seus instrumentos, ensaiam e realizam bailes de Fandango... nos sentimos em casa!
Altar em louvor a São Gonçalo na sede do Grupo de Fandango

sede do Grupo de Fandango São Gonçalo
Leandro Diéguiz na Rabeca e Amir na Viola 


 

 
 
 
Oficna do artesão Amir
 
        Tentamos sair e conhecer um pouco da cidade, mas a chuva nos permitiu muito pouco. Fomos a Matriz de São João Batista de Cananéia e depois à praça onde haveria Fandango, mas “debaixo daquele toró” quase ninguém ou ninguém ficou a ver, nós mesmos, encharcados, acabamos indo embora antes de terminar... Mas valeu, os fandangueiros estavam lá e mesmo debaixo de chuva, sob uma pequena cobertura fizeram seu trabalho, mostrando a essência de sua cultura... Parabéns!
Cananéia - Cidade Ilustre do Brasil - a ser reconhecida como a primeira cidade do Brasil, de lá vieram os primeiros aventureiros e se abrigar nmas terras do hoje Paraná, em Guaraqueçaba.
 Mais Inf: http://www.cananeia.net
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       Já na segunda-feira cedo, tempo melhorando, pudemos passear pela Cananéia, indo à Praça da Figueira e, que pena, o Museu estava fechado, não pudemos ver o 2º maior tubarão branco do mundo já capturado... mas segue uma fotinho de outro ano que por ali passei!
 
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         Dali, eu arrumei uma carona para Barra de Ararapira e os colegas seguiram seu trajeto de retorno à Guaraqueçaba.
        Cerca de duas horas de barco, estava em Barra de Ararapira, terra de meus ancestrais, onde habitam ainda vários familiares. A comunidade recebia visita de uma missão evangélica, organizada por certa denominação religiosa protestante que levam médicos, doações e entretenimento à comunidade. Barra de Ararapira é a única comunidade em que seus moradores na totalidade ainda frequentam uma mesma religião, a Católica Apostólica Romana, como seus antecedentes, não se encontrando e não sendo permitida pelos próprios moradores quando de algumas tentativas, a implantação de outro templo religioso na vila.
cenário paradisíaco... cultivado pelos caiçaras!
 
        É uma comunidade em que os laços de parentesco sãos muito fortes, o que faz dela “mais” unida pelos seus objetivos. Recentemente receberem um chuveiro, aquecido com placa solar. Pela primeira vez podem banhar-se com água quente! Também receberam (cada família) uma geladeira, que ansiosos aguardam a decisão ao impasse, pois parece que cada moradia receberia placas solares com potência equivalente para o refrigerador funcionar, mas não teria dado certo em outra comunidade então, se organizam com outras comunidades, fazendo abaixo assinado, objetivando a instalação de energia elétrica no lugar. Alguns são contra, temem o aumento descontrolado do turismo e a consequente vinda de “mau intencionados”, que até agora nunca ou pouco apareceram, devido a comunidade não possuir energia elétrica e sim placas solares, que aliviam algumas dificuldades de iluminação a noite, mas não resolvem quando se trata de assistir televisão ou mesmo iluminar toda a casa, muito menos áreas externas. Em Barra de Ararapira dorme-se muito cedo e acorda-se muito cedo, ainda vivem no ritmo que a natureza lhes impõe.
a novidade são as placas que aquecem os chuveiros... Já é possível banhar-se com água quente, não mais oriunda dos chuveiro a gás, como alguns possuiam.
 
        O refrigerador parece que mudará muito no modo de vida da comunidade. Um robalão, por exemplo, que pesquem hoje, por não possuírem como conservá-lo, logo vendem. O atravessador transporta à Cananéia ou Ariri, no mínimo R$ 5.00 mais caro. Talvez estas relações tendem a modificar-se.

        São todos pescadores artesanais e quase nada tiram da agricultura, mesmo de subsistência, completamente diferente de quando as terras não possuía o título de Parque Nacional, sendo, naquela época, frequente os mutirões para colheita da mandioca e do arroz, por exemplo, tempo recordado pelos mais “antigos” da comunidade e pelos bons violeiros que ali habitam, estes que animavam os fandangos...
secagem das folhas da "Cataia" pela Associação de Mulheres

        Enfrentam diariamente a concorrência dos pescadores amadores (esportivos), vindos do litoral sul paulista que chegam em suas próprias voadeiras, com iscas e muitos outros bons apetrechos, “tomando conta” dos pesqueiros e levando o produto que o mar oferece, que, diga-se de passagem, deveria estar na mesa doa que ali residem. A fiscalização é muito falha e temem denunciar, pois não é raro o caso destes tipos de denúncia resultar na apreensão dos apetrechos de pesca dos próprios pescadores artesanais. Apenas para ilustrar, contam com revolta o fato de tudo ser proibido à eles, mas recentemente uma autoridade ambiental sacou seu revólver e abateu com mais de três tiros um corvo que se esquentava ao sol, dizendo ainda, segundo alguns moradores: “não dá nada”.  

        Ainda há os barcos grandes no “mar de fora”, como chamam o oceano, apenas na terça-feira (15/01) contei 15 ou 16, que passam com suas redes de arrasto, levando não só o camarão, mas todo e qualquer tipo de espécie que estiver pela frente. Pernoitam no mar e logo cedo estão a capturar novamente. Quase nada sobre ao pescador artesanal, muito menos ainda entrar “barra adentro” para as águas mais próximas da comunidade. Fiscalização parece não existir. É apenas a repreensão e a apreensão.

        Para comunicar-se com o mundo, no momento está muito difícil. O orelhão público – única forma de comunicação, visto que telefonia celular não possui sinal na região, está defeituoso desde os primeiros dias do ano, ocasionado pelos frequentes raios neste verão. Estão meio sem comunicação não fossem os dois telefones de particulares que possuem antenas próprias.

        O mar a cada cheia, quando esvazia leva consigo um pedaço do barranco... e os moradores a relembrar quando seus ancestrais possuíam casas em outras áreas e onde hoje habitam era mar ou mesmo das plantações e moradias de 50 anos atrás, hoje submerso, engolido pelo mar. Sabem que também chegará seu dia de transferir sua residência para outra área. Mas para onde? Toda a região está dentro do Parque Nacional de Superagui e a legislação ambiental não lhes permite esta mobilidade, inclusive não lhes permite habitar em suas próprias terras!

        As barricadas que fizeram defronte a Igreja já fora levantada duas vezes, visto que o salão social da comunidade já fora levado para mais longe, caso contrário já estaria debaixo d’água.

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        Visitei o Pontal de Leste, na Ilha do Cardoso, onde também existe a legislação ambiental. Lá é Parque Estadual e, neste sistema, parece-me, as restrições são menores. E a comunidade é muito unida também. São cerca de 18 km de praia até o Marujá, núcleo sede da ilha, onde há um fluxo muito grande de turismo. O cenário é exuberante.

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        Já no retorno para casa, na quarta-feira, uma pequena passada na abençoada Ararapira e a renovação de nossos votos ao querido protetor São José, uma vez que a cerca de dois meses (19 de março) celebra-se seu dia e os ex-moradores da comunidade retornam à Vila de Ararapira para realizarem a festa de seu padroeiro. Ali, no meio de todas aquelas casas, Igreja, o que restou da delegacia e da escola, cuidando do cemitério, apenas um morador, Josias, nascera por aquela banda e agora recebe alguma quantia de ex-moradores que possuem casas por ali para cuidar das mesmas.
o barranco de Ararapira, cada dia aumenta mais e "come" um pedaço mais da antiga comunidade.

a centenária igreja de São José - abandonada a ação do tempo...

janelads da igreja de São José

detalhe do telhado com buracos, infiltrações e vazamentos

detalhe do interior, com escora segurando as estruturas do telhado.
 
        Quanto a secular vila, fundada em 1767 e que passou por disputas entre Paraná e São Paulo, enfrenta hoje o descaso com sua história, ainda que cada vez mais os ex-moradores, inclusive organizado até com uma associação de ex-moradores, travam disputas para preservar suas histórias e seu patrimônio. A história da vila foi defendida em 2008, na minha monografia de conclusão de curso. Também houve uma denúncia na Revista de História e alguma repercussão em jornais, inclusive com apoio de deputado; Recentemente recebi a notícia do documentário que está aprovado e prestes a ser executado, contando a história da Vila de São José de Ararapira.

imagem de São José no altar da igreja. Não se trata da original, pois esta fora roubada, além de antiga possuia uma coroa de prata...

2 de janeiro de 2013

Empossada Prefeita eleita de Guaraqueçaba


        01º de janeiro de 2013 marcou a posse de representantes do legislativo e executivo municipal. Enquanto ao legislativo o cerimonial de posse aconteceu nas dependências da Câmara Municipal, na parte da manhã, uma vez empossados, o Presidente da Câmara e demais vereadores, numa cerimônia aberta aos munícipes, que maciçamente compareceram, empossaram a Prefeita de Guaraqueçaba Lilian Ramos Narloch e seu vice Joel Luiz do Nascimento, eleita no último pleito eleitoral de 2012.
 
        Algumas considerações sobre o pronunciamento de posse da Prefeita:
 
        Com direito à benção cristã ao povo, declamação de poema e apresentação musical em homenagem à Prefeita, seu discurso, por sinal inteligentemente elaborado, foi um tanto envolvente e motivador, quando por diversas vezes pede à ação da “coletividade” para transformar uma Guaraqueçaba melhor para todos; Quando afirma que em seu governo não haverá os desprazeres das perseguições políticas à oposição e familiares, algo que ela teria sentido na pele em seus anos de servidora pública; Quando declara a escolha de um secretariado preparado e competente e aberto ao povo; Quando afirma não ter à pretensão de resolver TODOS os problemas de Guaraqueçaba, mas aceita o desafio de ser o caminho para que tais mudanças sejam realmente construídas, coletivamente; Quando enfoca ser nesta região de preservação ambiental o principal desafio preservar o cidadão guaraqueçabano; Lembra dos problemas políticos de Guaraqueçaba e quando em disputa eleitoral os candidatos prometendo tudo o que não podem, pedindo {a Prefeita} auxílio aos vereadores empossados que trabalhem juntos para as soluções básicas que realmente o município necessita e não mirabolantes e falsas promessas, ressaltando que não são mais candidatos e sim prefeita e vereadores do POVO DE GUARAQUEÇABA e para trabalhar por este... E principalmente quando menciona a figura da mulher, sendo ela a primeira a exercer o cargo de executivo em Guaraqueçaba, suas lutas e batalhas, sendo portanto realizado o sonho construído por uma equipe e este torna-se realidade para o município.

 
 
        Enfim, Ginásio de Esportes lotado, público presente independente de opções partidárias, temos novos representantes políticos no legislativo e no executivo. O primeiro ato da Prefeita Lilian foi decretar trabalho interno – fechado ao público - nos quinze primeiros dias para seu secretariado (exceto aos serviços essenciais), objetivando o bom desempenho de suas funções.
 
        Quero ainda lembrar a hombridade e o respeito ao povo que demonstrou ter o ex-prefeito Haroldo, que compareceu na cerimônia, justificando o sentido da democracia, sendo inclusive a sua presença agradecida pela Prefeita, bem como pelo Presidente da Câmara.

        PARABÉNS... à Prefeita e vereadores eleitos e empossados. à Democracia. ao ex-Prefeito (nossos agradecimentos). ao povo Guaraqueçabano.