"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

3 de novembro de 2015

Colônia Agrícola Alemã de Serra Negra

      
        Em relação a contribuição alemã para nossa história vale a pena lembrar Hans Staden (1525-1579) que em 1549 registra sua passagem pelo Superagui, sendo este o primeiro em nossas páginas; Já no século XIX, vamos ter a presença do naturalista Karl Julius Plaztmann (1832-1902), com suas descrições sobre a região, porém, ao falarmos estrangeirosmuito ouvimos sobre a colonização suíça em Superagui, por conta até mesmo dos escritos já produzidos sobre o exímio pintor William Michaud (1829-1902), referenciado em publicações histórico-científicas...
        Houve, também, uma tentativa, sem sucesso e com ínfimo registro histórico, da colonização japonesa, na região do Morato, provavelmente quando estes fundaram um núcleo colonial em Antonina, início do século XX.
        Da mesma forma, a colonização alemã, em Serra Negra, permanece obscura na história de Guaraqueçaba, também com pouquíssima produção histórica sobre tal empreendimento nos anais paranaense.
        Serra Negra é, em 1951 decretada como Distrito de Guaraqueçaba, porém, há muito já despontava como um dos maiores exportadores no Paraná-Colonial, onde a Cia. Progressita, em 1º de janeiro de 1864 chegou inclusive a criar uma linha regular entre os municípios de Guaraqueçaba, Antonina, Paranaguá e Guaratuba, dando escoamento a produção agrícola local.
        Com o crescimento, fora criado ali, a primeira escola, pela Lei nº 113, de 27 de março de 1865. 

        Visando a ocupação dos solos do sul, logo após a Independência do Brasil (1822), o Governo Imperial incentiva a imigração, principalmente alemã, visto os problemas políticos, econômicos e sociais enfrentados em sua terra, decorrentes das guerras napoleônicas, unificação...
         A colonização alemã no Paraná tem início pelo ano de 1829, também motivada pelo sucesso em outros empreendimentos sulistas e neste ensejo a Companhia Colonizadora Ltda trazia vários projetos de colonização para o Brasil e um destes, a Colônia Agrícola de Serra Negra, conforme alguns registros, instalada em Guaraqueçaba a partir de 1916?
        Nos autos históricos, é registrado, em 1919, a celebração de um acordo entre o Governo do Estado do Paraná e a Sociedade Anônima Provisória Rio Grandense (Grupo Étnico Germânico do Paraná), visando a localização de colônias estrangeiras e nacionais, em áreas de Guaraqueçaba, Antonina e Campina Grande do Sul.
propaganda do governo brasileiro para atrair imigrantes alemães para o Brasil
        Em Guaraqueçaba, região de Serra Negra, o título da terra fora expedido em 05 de maio de 1920, e a referida sociedade (parece que mais tarde é transferida/renomeada como Cia. União Colonial) obteve uma área de 5.000.000m² com prazo contratual para ser colonizada em 08 anos (a partir de 19/04/1920) .
        Já em 1924 chegaram em Serra Negra 20 famílias alemãs, todos desenvolvendo a agricultura, introduzindo práticas desconhecidas na região, o que levou a Colônia a conhecer um progresso econômico com produções de arroz, milho, ovos, frangos, porcos, também manteiga, requeijão e linguiça, quando de lá saíam barcos carregados, principalmente para Argentina, carregados de banana, batata, etc... 
        O prazo para colonização fora renovado por mais 08 anos, em 26 de junho de 1928, aparecendo em alguns registros, a partir de então em nome da Cia. União Colonial Ltda., com sede em Porto Alegre, que inicia a colonização em 1928, com a entrada de 48 famílias, aproximadamente 220 pessoas.
  a Companhia fundou a 'escola' de instrução para os filhos dos colonos
fonte: Família Dittmar

        Uma destas famílias, a Dittmar, vindo da Alemanha a bordo do Navio Vila Garcia, pertencente a empresa alemã de transporte marítimo Hamburg-Sud, desembarca em Paranaguá no ano de 1926/27, após ter contactado um conhecido que habitava a Colônia Serra Negra.
    
 Família Dittmar na Colônia Serra Negra
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        Segue uma descrição da Colônia Serra Negra, feito pela Família Dittmar:
       Aos poucos foram fazendo amizades com outros colonos alemães lá do alto do rio BANANAL para a foz. A ultima familia moradora era os LONIN ao lado direito do dito rio, do outro lado morava a familia PINING; rio abaixo moravam os JURISCKKA; estes eram donos de uma serraria movida a roda d´água, como vizinho próximo eles tinham um senhor solteiro, um tal de ERTHAL; mais abaixo do lado direito morava PAUL RADES que possuía um alambique de cachaça de cana de açúcar em sociedade com seu vizinho o RICHARD KRÜGER, depois vinha o casal MAIBON, depois o senhor HILDEBRANDT e um trecho com mata nativa; do outro lado os proprietários eram os SCHUCARDT, GAGEL, AUMANN, KRENTZ e LOCHSTADT. Ainda ao longo do rio BANANAL morava o Sr.SCHNEPPER ou SCHEPPER e já na foz morava a familia SCHULTZ. No trecho de mata virgem foi aberta uma picada para chegar até o rio TAQUARUÇU onde moravam o Sr. BRENDIGAM e a familia PLANKEN STAIN.
        Já no rio SERRA NEGRA morava a familia KAIK, ESSER, WEGNER, GOTZ e por ultimo KORSANKE. Subindo o rio, do lado esquerdo, encontrávamos as famílias STETTLER, EDMUND OTTO, os TALLMANN e logo após vinham os nativos como BORGES, LOPES, ALVES; até o alto do SERRA NEGRA, ali morava a familia LEILMEIER, no lado direito o ultimo morador era a familia SCHAEFFENACKER e no mesmo lado, ADOLF LEISCH SENRING. Nossa propriedade fazia divisa com a do Sr. SCHULTZ em ambos os lados e na frente, o rio SERRA NEGRA. Ali próximo tinha o rio ASSUNGUI onde existia a PICADA DO PITO VELHO onde moravam os STOCKLE e os BENKE, na sede moravam, além do diretores da companhia, o Sr. RICHARD ZINK, os KAPP e finalmente na PECHIRICA moravam os SCHUCH. Vieram depois: JACOB HATZLER, MAX RICHTER, WOATER RICHTER, estes solteiros; a família OTTO LEICH SENRING, KARL DITTMAR, WILHELM RAUSCH KOLD, HENRICHPUSBACH, KURT ARNOLD, PAUL GIBHARD, TAUSEND FREEUND, WILHELM EHLKE, OTTO SCHATTE, HERMANN DOBLER, KURT MATTHES, HANS RAUDICH, NINHON, HANS APT, SIMMLER, LAUER, HEISE, FRITZ ARM; WERMES DRUNKLER, HERMANN RICHTER, JACOB LONIEM, SIEGLER, XAVIER SCHOEFENACHER os WINKLER.       
        Johann Heinrich Dittmar faleceu em 1941 na Serra Negra.
Johann Heinrich Dittmar (nascido em Osthofen), esposa Maria Schmuck (nascida em Friesenheim) e João Henrique Dittmar na Colônia Serra Negra
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         O primeiro grande problema que vai enfrentar a Colônia Serra Negra, diz respeito a litígio sob a área de concessão.
        A área da colonização fora toda transferida da Sociedade Anônima para a Cia. União Colonial Ltda (50 mil hectares em duas parcelas de 25.000 hectares), com escrituras lavradas em 21 de setembro de 1920, posteriormente, em 23 de dezembro de 1933.
        neste ínterim, já haviam posseiros, nacionais e estrangeiros, em invasões causando litigiosos conflitos sobre tal posse; Um destes no assento do Salto Piranguinha, firmado em 10 de outubro de 1934.
        O Estado do Paraná e a Cia União cancelam o contrato, rescindindo todos firmados entre a Sociedade Anônima e Cia. União Colonial (cancelando e rescindindo a concessão lavrada em 14/05/1919, também o termo Adiantamento de 17/04/1920, celebrado com Antônio Ribeiro de Lemos e transferido à Cia. União, invalidando o título de 05/05/1920, também o termo de prorrogação de prazo, referente a nova concessão, datada de 26 de junho de 1928).
colonos imigrantes da Família Dittmar no Rio Serra Negra
fonte: Família Dittmar

os imigrantes durante a II Guerra Mundial
          Durante a II Guerra Mundial (1939-1945), os imigrantes japoneses, italianos e alemães sofreram diversas perseguições no Brasil, com implícitas proibições, dentre outras de falarem em sua língua natal, discriminados nas vilas, também as crianças nas escolas.
        Por volta do ano de 1942, num prazo de 24 horas, os imigrantes do Eixo (Japão, Alemanha eu Itália) foram ‘expulsos’ de áreas próximas ao litoral (proibidos de residirem a menos de 100km do litoral), por suspeita de espionagem, levados, por exemplo, de Serra Negra e ‘despejados’ em Curitiba, sem auxílio algum para um recomeço de suas vidas; Apenas na delegacia de Antonina, neste ano, foram retirados 53 japoneses, 10 alemães e 22 italianos.
        Há os que defendem principalmente a ‘inveja’ sobre a próspera colônia agrícola, transforada no caso, em suspeita de espionagem.
        Ainda nesse sentido, PEREIRA (2010), informa a solicitação do Delegado de Paranaguá ao Chefe de Segurança, em 02 de setembro de 1942, providências, pois em Serra Negra havia um "convite para que em 7 de setembro os brasileiros se reunissem para queimar e destruir todos os bens dos alemães e seus descendentes".
        Vale a pena lembrar a recordação de alguns ex-moradores, que em seus idos tempos de infância, viram, como dizem, um sepultamento digno de grande líder na Colônia Serra Negra, uma urna mortuária de chumbo com os restos mortais de Hitler, como acreditam, pois na queda da Alemanha durante a guerra, este teria fugido para a próspera e de difícil acesso colônia alemã no Brasil, onde viveu seus últimos dias...
        Sobre a perseguição aos descendentes alemães no Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial, ver o documentário: “Sem Palavras”
       Ver também:
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
        MEIJER, André. Cartas da Mata Atlântica. Carta nº 159. Tratando (d)os imigrantes: algumas leituras 21p. pdf. Disponível no site <http://correiodolitoral.com/wp-content/uploads/2015/06/Carta159-imigrantes.pdf>.

        PEREIRA, Márcio José. Politizando o cotidiano: Repressão aos alemães em Curitiba durante a Segunda Guerra Mundial. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História. Curitiba: UEM, 2010.
        O texto da Família Dittmar (na íntegra) pode ser encontrado na Biblioteca Eugeniano Ferreira https://drive.google.com/open?id=0B3Ue7WCPmb5GcWRpQmxsR2QxMW8

       Sobre Hans Staden (na Biblioteca Eugeniano Ferreira)
        Sobre a biografia de Juliuz Platzmann (na Biblioteca Eugeniano Ferreira)
     
   Nosso agradecimento às gentis contribuições e autorizações de João Henrique Dittmar Filho.
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Uma bibliografia sobre a Colônia Serra Negra, conforme André Meijer recomenda:
        FRANK, E. 1957. Helles Licht auf dunklem Leuchter. Freimund Verlag, Neuendettelsau. 183 pp.
        FUGMANN, W. 2008. Os alemães no Paraná: livro do centenário. (Traduzido por L.P. Lange do original [DieDeutschen in Paraná: das deutsche Jahrhundertbuch. Empreza Editora Olivero, Curityba. 1929]). Editora Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa.
        HEGENBERG, Hugo (texto) & WIRSCHRAL, Arthur (fotos). 1928. Unsere Studienreise nach Serra Negra (1927, Juni,14-19). 22 pp.

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acréscimo em 07/12/2015

É Paraná Rádio e Tv Educativa
Programa Nossa História com Zélia Sell gravado em 22/11/2015
(entrevista com João Henrique Dittmar Filho)


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acréscimo em 01/04/2016
fotos da Colônia Serra Negra de Arthur Wischral.

9 comentários:

  1. Ótima iniciativa de se mostrar a contribuição dos estrangeiros na tentativa de colonizar o nosso litoral.
    Ficamos agradecidos por colocar uma parte da história de nossa família nessa empreitada.
    Conforme contavam meu pai, tios e tias, a vida naquelas paragens não foi fácil. Mas com determinação e sobretudo, muito trabalho e perseverança, a família, bem como outros mencionados no texto, conseguiu prosperar, sem ajuda de nenhum programa social dos governos.
    Perderam tudo quando foram obrigados a deixar a faixa litorânea, durante a 2ª Guerra pois o que foi deixado para trás foi depredado e perdeu o valor.
    Quando voltamos àquela região, em visita, com a estrada até Guaraqueçaba ainda em obras, pudemos notar o que 30 anos fizeram na região.
    Mas não guardamos ressentimentos pois foi uma época complicada.
    Meu pai, irmão, primos e eu, voltávamos com frequência para a região para matar a saudade.
    Eu participo de um grupo de observadores de aves e meio ambiente e vou, ao menos duas vezes por ano, visitar essa cidade querida e abençoada.
    Novamente agradeço pela inclusão da história de nossa família nesse histórico sobre os imigrantes no litoral.
    Espero que essa iniciativa continue e que se inclua a história dos italianos e japoneses, além dos suíços, nessa empreitada.
    Novamente, você está de parabéns pela iniciativa.
    Abraços

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  2. Muito boa sua pesquisa, Zé Muniz! Parabéns !
    Zélia Sell - Curitiba- Pr.

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  3. Muito bom o seu documentário Zé, podemos acrescentar e3le pois temos parte dessa história através do meu bisavô Schultz e do meu avô Aumann se houver interesse entre em contacto comigo marthasarda@gmail.com, abraço.

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  4. Gostei muito do seu texto! meu tataraô foi um desses imigrantes...não tenho dados sobre ele...só sei que o nome era Henrich Carneiro. Não sei se adotou o sobrenome Carneiro...portanto estou pesquisando sobre isso!

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    1. Bom dia. Você teria um email de contato? Também estou pesquisando sobre meu bisavô que nasceu no Rio Medeiros e tudo indica que seu pai era alemão. Também tem sobrenome Carneiro. Meu email é wendellabdo@gmail.com

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    2. Olá...
      muniznativofilho@yahoo.com.br

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  5. Sr João Henrique. Sei que foram épocas conturbadas devido à situação belicosa que o período compreendia, mas as raízes dessas plantas de outrora perduram no coração de seus descendentes como é o seu caso. Com respeito, Geraldo.

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  6. Nasci em Serra Negra em 1949. Perto de minha casa, às margens do rio, havia duas famílias de alemães. Nunca os conheci pessoalmente.

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  7. Minha avó nasceu em 1929 em Serra Negra, Guaraqueçaba. Nasceu Ingebourg Richter, os pais eram Germano Richter e Maria Richter (Dittmar, nome de solteira). Se alguém tiver mais informações sobre os Dittmar e Richter de Serra Negra, pode entrar em contato comigo pelo email deniswolpert@yahoo.com.br

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