"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

19 de julho de 2019

O “SENHOR DO TEMPO” E O RELÓGIO SOLAR DE GUARAQUEÇABA.

          Já passaram 10 anos da postagem (http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2009/05/historia-soterrada.html) em que lamentavelmente expúnhamos o abandono pelo qual nossa história passava... Infelizmente - acredite - pouca coisa mudou. O abandono continua. O descaso é lamentável... Mas demos passos, no mínimo, interessantes...
               Nesse ínterim, foi aprovado??? a lei Nº 670/20018 que cria a Casa de Memória de Guaraqueçaba (http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2018/03/museu-de-guaraquecaba.html), porém, um ano se passou e NÃO quero acreditar que "ficou para a história" ou era apenas "história da carochinha"...  

               Nesse final de semestre, temos visto alguma ação no sentido de valorização de nosso patrimônio histórico. Trata-se da revitalização do Relógio Solar.
                    Aproveito para lançar nota biográfica daquele que, em 1969, ousou na construção de um Relógio Solar em Guaraqueçaba e parabenizo a iniciativa em tal obra de valorização de nosso patrimônio.


               O Nosso Pixirum aproveita a ocasião para parabenizar a iniciativa e vermos um pouquinho mais de nossa história valorizada... Passo importante e não podemos nos esquecer de que há ainda muitos outros passos...

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O “SENHOR DO TEMPO” E O RELÓGIO SOLAR DE GUARAQUEÇABA

FÉLIX PEYRALLO CARBAJAL
O SENHOR DO TEMPO

          Dando alimento a sagaz fome do historiador, inicio por uma rápida busca ao nome Félix Carbajal, conforme levantado e gravado na placa, em nosso Relógio Solar. Alguns resultados da busca me direcionam a um goleiro mexicano ou um corredor cubano, mas outro ao “Senhor do Tempo”; este, nômade, com outros tantos adjetivos como o andante, o andarilho, ou como ele mesmo se intitulava: “um peregrino feliz pelo mundo”...

               
Numa dessas dicas que a vida nos apresenta acerca de nossa missão nessa terra, Félix Peyrallo Carbajal nasceu exatamente no dia 23 de setembro de 1905 (1913???) – equinócio de Primavera – em Montevidéu/URU.
Órfão desde a mais tenra idade, já em seus primeiros instantes de vida terrena, o sentimento era vida e morte- a mãe falecera no trabalho de parto. Década depois, o pai, violinista, vindo a falecer deixa-o como herdeiro não somente de uma considerável quantia financeira, mas o amor pela arte... 
Aos 17 anos, três após a morte do pai, inicia sua “peregrinação pelo mundo”, rumando à Madri/ESP, onde boa parte de seus recursos financeiros foram empregados em sua formação, estudando Letras, período em que compartilhava estudos e morada com Garcia Lorca, Bruñoel, Pedro Garfias; em Paris/FRA estudou História na Sorbonne, aluno de Piaget, convivendo com Hemingway...
Espanhol, inglês e francês falava bem; escrevia e lia em italiano, grego, latim, alemão e alguns idiomas indígenas; ainda estudara Filosofia e Ciência no México, possuindo Doutoramento em Stanford (E.U.A), onde, já anarquista e sem apego material algum, descobre que também acabara todo seu dinheiro e “sem documento, sem diploma, sem família, sem laços”, seguiu caminhando levando sua extrema sabedoria e uma muda de roupa - sempre branca - escrevendo para jornais e revistas e por onde passava proferia palestras; foram mais de 10.000 – era sua contrapartida aos lugares em que era acolhido.

Em seus estudos se aproximou de Picasso, Salvador Dalí, Frida Kahlo, Pablo Neruda, Simone de Beauvoir, dentre outros, mas ao que parece, a literatura e a poesia era uma obsessão, estando sempre em lugares, onde quer que fossem, que tivesse ou residisse algum poeta. No Brasil queria conhecer Manuel Bandeira, do qual foi agraciado com uma crônica.

“O estrangeiro”: "Dei-lhe os três minutos. Uma lábia infernal... Virou pelo avesso o meu ‘Último poema’; Comentou a tradução do ´Torso de Apolo´, de Rilke , referiu-se com entusiasmo a uma jovem poetisa cubana, Carilda Oliver Labra, conhecia todo o mundo na América, falou de Neruda, de Leon de Greiff, de Coronel  Urtecho, mostrou-me notícias de conferências suas em Belém do Pará... - De que vive? - De mendicância. Tem sido assim em toda parte, será aqui também. Quando tenho fome, entro num restaurante e peço comida. Um, dois, três recusam, o quarto me atende. Quando me regalam onde dormir, durmo em cama. Senão passo a noite andando: tenho uma saúde de ferro, posso andar 25 quilômetros sem sentir fadiga. Comer, dormir não são problemas para mim. Os problemas da vida são outros.
 Despediu-se sem me pedir nada. Perguntei-lhe se aceitava dinheiro para o jantar.  O ´sim´ alegre e enérgico com que respondeu já era o seu agradecimento
”.

Certa vez, na Nicarágua queria conhecer a casa de Ruben Darío, porém, numa revista que folheava um garoto, viu o desenho de um relógio solar e como distração, rapidamente fez uma miniatura, espalhando sua fama de construtor de relógio, aceitando o pedido do Prefeito, construindo um na praça da cidade... Deste primeiro, somaram-se outros 500 relógios projetados e 180 construídos pelos 64 países e 28 colônias em que passou, dentre os quais no Brasil nos estados da PB, BA, RS, SC e PR (Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba).

Relógio Solar em Paranaguá

               Desta passagem por Paranaguá, Félix fora convidado pelo então recém-eleito Prefeito de Guaraqueçaba Gabriel Ramos da Silva, em 1969, para a construção do Quadrante Solar em Guaraqueçaba.
Ao certo não muito diferente das suas passagens por outras regiões, chegara em julho de 1969, com uma maleta nas mãos onde portava um caderno de anotações, livros e algumas peças de roupas, brancas, chamando a atenção na bucólica Guaraqueçaba, recebendo aqui, por causa de suas ideias geniais e pensamentos fantásticos, uma nova alcunha: "louco número 1".
Recebera hospedagem e funcionários para ajudá-lo - Luizão Terezin - como era costumeiro pedir, e após sua escolha do local ideal para o Quadrante Solar.
Em menos de dois meses, concluída sua obra e continua sua peregrinação pelo mundo, resta-nos hoje, nosso Relógio Solar, uma marca do “Senhor do Tempo”.

Félix Peyrallo Carbajal desde 2003 habitava o asilo público em Blumenau/SC.

“num canto, sob a luz de uma janela, está Félix. Tem uma mesa só para ele. Cheia de livros, papéis, lápis, canetas. Está com o rosto enterrado num papel. Enxerga mal, por causa da catarata. Tão logo nos vê, se levanta, solícito. Beija, delicadamente, a mão de cada uma. "- Senhoritas!!!!”, exclama, com um adorável sotaque espanhol. É um gentil homem. Sem que ninguém pergunte vai informando. "Estou traduzindo este texto para uma revista de Buenos Aires". E assim é. Beirando um século, o sábio anarquista trabalha a todo o vapor. Escreve, cria, lê e profere conferências”.

               Faleceu em agosto de 2005.




Esta postagem foi possível a partir de depoimento do Sr. João Amadeu Alves, bem como dos sites:
            MACHADO, Ricardo. O nomadismo de Félix Carbajal - https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/169095; tese (UFSC, 2016).


Acréscimo em 17/10/2020
assista no link abaixo ao vídeo sobre esta história
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21 de março de 2019

Fábio Santana... PRESENTE!

Por Aorélio, Juca, Leonardo, Maurício e Zé Muniz.
Ele sempre estava lá... ele sempre estará lá...
      Talvez assim possamos pensar sobre Fábio Luiz Santana. Sempre em Barra de Ararapira, lutando, brigando, fazendo-se ouvir, correndo atrás, defendendo, vivendo. E quando não estava em Barra de Ararapira, ainda assim, lutando, brigando, fazendo-se ouvir, correndo atrás, defendendo, vivendo. Sempre a frente, sua fé, sua religião, os interesses de seu povo, os anseios de sua comunidade. Sempre ao seu lado, os amigos.
       Militante? não! Um pescador, um caiçara, batendo na mesa acerca do respeito ao nosso povo e nossa cultura, fazendo os "grandes" respeitarem nossos direitos...
     Um cristão convicto, devoto de Sant'Ana, sempre ouvíamos sua voz entoando homenagens a esta Senhora: "Santana, Santana, com grandes louvores, rogais a Jesus, por nós pecadores", através também das cordas de seu violão. Era ele uma liderança religiosa em sua comunidade. Fiel devoto do Divino Espírito Santo, com prazer e alegria recebia os foliões, assistindo-os nas necessidades, guiando-os pelos caminhos, levando o Estandarte Sagrado para a casa, enfim, mantendo vivia sua devoção.
       Como bom caiçara, amante do Fandango, sabia arranhar uma viola e quase sempre o fazia em seu violão entoando alguns dondons que conhecia. Certa vez pedi que me escrevesse um antigo dondon que o ouvira cantar e, gentilmente o fizera...
       Eis que nos últimos meses, Fábio estava ausente em Barra de Ararapira, mas ainda assim, lutando, brigando, fazendo-se ouvir, correndo atrás, para viver. E unindo centenas de familiares, amigos, companheiros de luta, admiradores que, através da oração pediam sucesso em seu tratamento. Esta luta, infelizmente, teve um desfecho inesperado por todos em 15 de março último. Fábio não voltou para Barra de Ararapira.
        Esta postagem tem testemunho de alguns destes que com Fábio conviveram e podem comprovar suas ações pró seu povo, sua comunidade, o que o faz sempre estar, Fábio Luiz Santana, em Barra de Ararapira, PRESENTE.

Reunião do MOPEAR
Projeto de Cartografia Social da Barra de Ararapira
Audiência Pública, em Curitiba.
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Salve o Divino Espírito Santo

        A canoa grande que rompia vanzeiro forte, sereno e vento era branca, branca como a bandeira da Trindade a qual seria embarcada para levar e renovar fé, um olhar ansioso carregava a expectativa de todos que ficaram esperando o retorno. Veio buscar a Trindade e o Divino para levar a todos que lhe confiaram a grandeza da viagem. 
        Um gigante, uma fortaleza, uma muralha, era ele, aquele que tinha o dom de proteger, cuidar, guardar, receber, acompanhar. Atraca Fábio para alegria de todos, alegria dos que encontra e dos que esperam, alegria de Deus pelo início da romaria e de suas santas visitas, alegria das famílias, alegria de todo, todos!
        Deus abençoa os homens de bem, Fábio este homem de bem que une, que respeita que corrige, guia com leme firme as bandeiras que chegam. 
        Está feito! Ele foi o encarregado e cumpriu seu dever de todo ano, inicia a devoção, e principia a paz com a sua dedicação.
        Todo ano ele conduz o Divino até o povo, este ano o Divino o conduziu e o povo se uniu a Deus por ele.
        Fábio Santana, descanse em paz.
Aorélio Domingues - Mestre da Romaria do Divino Espírito Santo.

 
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        Fábio, são tantas coisas a dizer ao seu respeito, e só coisas boas, nossa amizade era uma amizade verdadeira, ainda é, só tenho boas lembranças com você.
      Uma pessoa educada, inteligente, muito alegre, uma alegria que contagiava, sua risada é única, vai fazer muita falta. 
        Em nossa comunidade você estava presente em praticamente tudo, nas comemorações, brincadeiras, esporte, na igreja, estava sempre a frente de tudo e sempre disposto a ajudar o próximo, com um sorriso no rosto, e com seu bom humor, tornava tudo mais alegre.
        Nós fizemos muitas coisas importantes para nossa comunidade, fizemos um curso de agente de pesquisa, na qual fomos representantes de nossa comunidade de Barra de Ararapira, e nisso criamos junto a comunidade a cartografia social de nosso território; fomos em audiências públicas para lutar pelos nossos direitos, isso foi só o que eu participei com você, se for citar tudo o que você já fez, o tanto de reuniões que foi, o sacrifício que você  fez em defesa dos nossos direitos, esse texto vai ficar grande demais.
        Eu acompanhei seu trabalho de perto, e sei o quanto era difícil, mas mesmo assim vc não desistia, e eu me admirava muito por isso, pela sua determinação, e principalmente pela sua paciência.
        Na igreja, ele era uma peça fundamental, já foi presidente, tocava violão nas missas e cultos, nas festas daqui e das comunidades vizinhas ele sempre ia embelezar os cantos, vai fazer muita falta você na igreja, todo domingo no seu lugarzinho com sua guitarra, puxando os cânticos.
        Organizamos duas festas da Cataia e um fandango, eu gostava muito de trabalhar com você, pois era um cara responsável e trabalhador, que transmitia muita confiança pra gente.
        Um cara grande forte, que quem não o conhecia bem, até ficava com medo, mas depois via que ele era um grande com espírito jovem, brincalhão, não fazia mal a ninguém, uma das pessoas mais honestas e humildes que conheci, um amigo e companheiro. São tantas qualidades que se ele tinha algum defeito, passa despercebido. 
        Apesar da tristeza de ter "perdido" um amigo, fico feliz em ver o quanto você é querido, o legado que você deixou, você se foi novo, mas conquistou tantas coisas, e uma coisa que você soube fazer muito bem, é conquistar amizades, todo lugar que você ia tinha amigos, era bem recebido, porque você merecia, você soube aproveitar bem sua vida na terra, e agora está junto de Deus no paraíso, onde vai descansar em paz, e ser mais feliz ainda. 
        A nós aqui, seus amigos e familiares, só nos resta as boas lembranças, e o orgulho de dizer, esse cara é meu amigo irmão❤🙌🏼.
Maurício dos Anjos Pires - Barra de Ararapira.

- 1ª Festa da Cataia -
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       Fábio sempre foi um cara que lutou pela melhoria das coisas; no esporte, gostava de futebol, de vôlei, tanto do feminino quanto do masculino e sempre procurava buscar apoio para a realização dos torneios na comunidade, em épocas de festa e, ainda, sempre buscando além das premiações, materiais esportivos que pudesse estar usando para a realização da prática de esportes na Barra de Ararapira, mais ainda com o time das crianças e adolescentes que ele treinava e dedicava especial atenção.
       Um cara muito prestativo. Se doou muito pelo esporte na comunidade, um exemplo para o município. Sempre que podia, trazia o time para jogar em Guaraqueçaba, amistosos que orgulhosamente expunha seu trabalho comunitário e diário de treinos e aprendizados. 
        Hoje um de seus atletas, o sobrinho Jaison - o qual Fábio tinha prazer de treinar, inicia carreira no Sport Club Jaraguá, em Santa Catarina... 
       Aquele cara grande e forte, braços cruzados, de voz ativa e se impondo aos adversários, com a eterna camiseta azul e branca de Ararapira, sempre estará lá, na beira do campo, com seus atletas, pelo seu time...
Júlio dos Santos "Juca" - Diretor de Esportes de Guaraqueçaba.

Torneio Beneficente no Marujá
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Fábio Luiz Santana: Quando se vai um Guerreiro
        É difícil em momentos como esses, falar da vida, e da luta de um irmão que se vai. Em nossa humanidade, não conseguimos aceitar e entender sua partida de nosso mundo, mas sabemos, que hoje, temos alguém de nosso povo, e do nosso movimento social, a olhar por nossas lutas lá do céu.
        Era uma pessoa admirada por todos os companheiros do movimento, por sua luta, dedicação, enfrentando impossíveis, para trazer benefícios, direitos à comunidade. Fábio lutou, desde sempre, tudo foi luta para ele, nada veio com facilidade. Lutou para estudar, lutou para trazer água a sua comunidade, lutou arduamente por energia elétrica, lutou pelas práticas de pesca perdidas, retiradas da pior maneira de seu povo pelos órgãos ambientais. Lutou pelo seu território, que a cada dia ia sendo tirado do domínio e da soberania do seu povo pelos órgãos ambientais. Por fim, lutou por assistência médica.
        Barra do Ararapira é a mais longínqua comunidade de nosso município, e por isso sua luta era ainda mais significativa... quanto mais longe, maior a exclusão, maior o esquecimento por parte do poder público. E por isso, nosso irmão Fábio precisou assumir tantas bandeiras. 
        Lembro-me das reuniões da coordenação, onde planejávamos as ações... Ele nos contava das dificuldades que enfrentava... saía muito cedo de casa, gastava muito, por conta da distância. Ainda assim, nunca desamparou o coletivo, esteve afrente em todas as nossas ações. 
        Enfrentou o algoz, cara a cara, em uma audiência... o nervosismo foi normal, pois pensava ele: “Como eu, um pescador que nem sei falar, vou convencer esse povo cheio de estudo? ” Mas o que se viu, foi o contrário de suas indagações. Sua fala, tinha tanta propriedade,  tanta força, de tudo o que passou, de tudo o que viu, de todos os direitos que lhe fora negado, que ele realmente se sobressaiu. E com chave de ouro, essa foi sua última peleia. Depois disso, sua luta final veio a acontecer, ao qual infelizmente não conseguiu vencer. 
        Fábio é um reflexo de todos nós. Sujeitos sem-terra, sem mar, sem direitos... que só tem sua luta, e sua força de trabalho como garantia de um futuro melhor. Fábio se foi, sem ver sua comunidade ter acesso à energia elétrica, que era seu maior sonho... se foi, sem poder acompanhar a chegada da escola em nível fundamental e médio em sua comunidade... se foi, sem ver seu povo ter a liberdade para utilizar da terra, e do mar. 
        Sua força, e sua luta, se refletem hoje em nossas mentes, e em nossas ações. Nosso coletivo, jamais será o mesmo... tem um lugar faltando. Mas nesta ausência, sabemos que existe mais do que uma presença física, existe a vida, e luta, a história, e o legado de um guerreiro, que nos deixar, para lutar por nós, agora em outro campo. Por isso, seu nome será sempre lembrando em nossas ações, jamais será esquecido. O Mopear ganha mais um grito de Guerra, e este, reflete nossa consideração, e nossa consideração por este grande guerreiro, amigo e irmão... um grito de guerra simples, mas que reafirmará para sempre, que este companheiro, está hoje, como sempre esteve... Fábio Santana: PRESENTE!!!
Profº. Leonardo Chagas - Representante do MOPEAR
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"Sant'Ana queremos pedir
na hora da morte, sua intercessão
e os nossos gritos dos pobres ouví
e leve a Cristo nossa oração".

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Deixe seu comentário, suamensagem sobre o Fábio que você conheceu...

6 de março de 2019

Guaraqueçaba aniversaria - erro e descaso com sua história

        Eis que chega o mês de março e, como de costume, aquele alvoroço de alunos fazendo pesquisas sobre a história de Guaraqueçaba (coisa que na próxima semana cai em esquecimento); a população e sua ansiosa espera por cantores "nacionais" como lamentavelmente estão acostumados na programação oficial da festa... Panem et circenses... Precisamos decorar nosso hino! Será que vamos cantar?.
        Barracas, palco, fogos, muitos fogos. O auge, no dia 11, o tradicional desfile cívico, fanfarra, discursos das autoridades, blábláblá...
        E a nossa cidade? E a nossa História?

        Há anos escrevemos acerca do descaso com nossa história (há 10 anos atrás já iniciamos este blog com tal assunto, conforme o link (http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2009/05/historia-soterrada.html). O abandono por anos da história de nossa terrinha... e nesse tempo temos pesquisado, publicado, insistido e denunciado (informativo-nossopixirum.blogspot.com/2015/03/historia-de-guaraquecaba-artigo-do.html).

        Recentemente conseguimos com apoio legislativo aprovar a Lei que Cria (ou deveria) criar o Museu de Guaraqueçaba (http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2018/03/museu-de-guaraquecaba.html), o qual ainda aguardamos esperançosos uma utópica ação...

        Mas voltando ao que me inspira a escrever hoje... No ano de 2017, estivemos na sessão da Câmara de Vereadores de Guaraqueçaba, explanando acerca do descaso e ERRO NA HISTÓRIA de GUARAQUEÇABA (como alguns sabem, não somos a cidade mais antiga do Paraná, muito menos podemos afirmar ter 473 anos), e entregamos um pedido aos senhores vereadores, em mãos do Presidente à época, pedindo a criação de um comitê para analisar, debater e corrigir, enfim oficializar a história de Guaraqueçaba, conforme segue link do documento (https://drive.google.com/file/d/0B3Ue7WCPmb5GMlFrdUJ2LXNfS2c/view?usp=sharing).
        É lamentável, anos depois e nada se tem feito... e aquela bela recepção que tivemos em nossa Casa de Leis, as belas palavras proferidas por nossas autoridades, me fez descrente cada vez mais, e a incerteza de que estão para representar nossos interesses, blá, blá, blá... A história ficou esquecida.
       
        Guaraqueçaba foi nos últimos meses amplamente divulgada nos meios de comunicação nacional, fato que atraiu muitos visitantes e orgulhou os conterrâneos. Mas uma pergunta soa no ar... Onde o visitante vai poder ver toda essa riqueza histórica que a televisão noticiou?????

        Gostaria que essa postagem chegasse (certamente chegará) aos nossos representantes e que pudessem responder-nos: Como está o andamento do citado comitê para corrigir e ou escrever a história de Guaraqueçaba? Ou se não foi aprovado, por quais razões? E o Museu de Guaraqueçaba, devidamente aprovado e sancionado, qual o próximo passo até sua instalação? Estão acompanhando? Ou apenas criam leis sem sequer saber do que se trata...

        É lamentável aniversariarmos e não termos o que comemorar...  Mesmo assim, PARABÉNS AMADA GUARAQUEÇABA, terra querida que nos viu nascer.

23 de janeiro de 2019

O GUARDADO DE SEO MANOEL


        Em tempos de outrora a vila de Guarakessaba vivia seu auge econômico; no porto, cada vez que atracava um navio, badalava o sino repercutindo na cidadezinha a emergente movimentação em torno da produção de banana, também em torno da extração de madeiras e fabricação de dormentes ou mesmo da colheita de arroz; certo ano foram mais de 40 navios carregando toneladas de bananas para o Rio da Prata; iniciava inclusive os rabiscos do ambicioso projeto da estrada de ferro ligando Guaraqueçaba a Cananéia, pela Trilha do Telégrafo, escoando a produção da região.
Jornal “A Notícia” (edição de 31.05.1907)

        Nesse período, a sociedade vivia seus anos dourados, também o comércio se mostrava rentável e cada dia mais prosperidade apresentava seus donos. Um deles possuía 08 embarcações para levar cargas até os navios maiores que não chegavam no Porto de Guaraqueçaba. 
        Um destes comerciantes era o Coronel Manoel Leandro da Costa, que ocupara ainda os cargos de Vereador e Vice-Prefeito na cidadezinha litorânea.


casa do Coronel Manoel Leandro da Costa

Em seu comércio, uma das suas artimanhas para evitar os famosos “marca aí, que depois eu pago" que sempre acabava em calotes, resolveu dar o nome de “Fiado” para seu cãozinho guapeca, querido por todos e acarinhado pela família. Quando um cliente chegava em seu comércio perguntando se Seo Manoel vendia fiado, logo lhes respondia: “ó, tão querendo comprar fiado, vendo?” e suas filhas berravam apavoradas lá da cozinha: "Papai, não venda fiado não". Assim Seo Manoel se livrava dos calotes e mau pagadores.
Dessa forma o velho Seo Manoel, trabalhador incansável, com as exportações, além do seu comércio, conseguiu acumular boa quantidade de recursos financeiros. Mas como guardar, proteger suas economias, uma vez que ainda faltava uma agência bancária na crescente vilazinha.
É ai que nasce uma fantástica? história do Guardado de Seo Manoel.


Dizem que teria enterrado próximo a sua morada, um baú com 30 moedas de ouro. Trinta moedas de libras esterlinas, outros ainda acreditam que eram 300 moedas douradas e, pois não é que o velho adoeceu e nos últimos instantes de vida, acabou esquecendo do exato lugar do seu guardado. Parece, segundo comentam, que teria dado apenas umas poucas dicas: "enterrei entre três pedras" ou será que foi "debaixo de uma Figueira?".
Ainda teria o Coronel deixado uma última ordem: "Aquele que conseguir carregar toda aquela riqueza pode ficar com ela", dando a parecer se tratar de muito mais de 30 ou 300 moedas...
O guardado de Seo Manoel foi comentando e por alguns inutilmente buscado, as moedas esterlinas – seriam de ouro puro? – povoam ainda a imaginação de muitos; uns sondaram com maquinários, outros fizeram enormes buracos, vários dizem ter sonhado; de vez em quando aparece alguém dizendo ter sonhado com um homem que, como relatam, indica o exato lugar. Seria Seo Manoel?...
Houve aqueles que, em noite escura, vestidos de preto, pareciam, com velas nas mãos, invocar o dito cujo, esperando algum sinal e que este o revelasse o lugar onde o guardado foi enterrado.

O certo mesmo, é que no suposto local, durante anos, os diversos moradores que por ali residiram, sempre relataram acerca das visagens e assombrações que supostamente guardariam eternamente o segredo de Seo Manoel, porém, tais espíritos, nunca mais se ouviu falar deles... Teriam desaparecidos porque o tesouro foi encontrado?


        Uma das partes do antigo terreno do Coronel, hoje me pertence... é difícil saber que se é milionário ou apenas riquíssimo e ao mesmo tempo não saber ou poder chegar ao seu tesouro... Seu Manoel nunca me mostrou o lugar, nem em sonho, nem acordado. “Pô seu Manoel, dá uma ajuda, né”.
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Há uma postagem acerca da biografai do neto do Coronel Manoel Leandro da Costa - http://informativo-nossopixirum.blogspot.com.br/2017/11/seu-pitaco-manoel-dario-do-nascimento.html