O Fandango Caiçara perdeu um dos mais exemplares MESTRES.
homem simples, humilde, muito fervoroso em sua crença e fé no Divino Espirito Santo, violeiro, rabequeiro, mestre de Fandango e de Romaria...
Faleceu neste dia 18 de julho o Mestre Faustino (Fausto Mendonça).
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nascer do sol em Vila Fátima, onde Faustino morava
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Fausto Mendonça nasceu no Varadouro em 1917, filho de José Vítor Mendonça e Teresa Costa. Há cerca de 65 anos residia na comunidade de Vila Fátima, onde criou a família juntamente com a esposa Dona Cida (In Memoriam), entre eles, Zé Norberto (pai do violeiro Marcelinho), Amilton, grande rabequeiro e João Mendonça, grande violeiro, dons herdados do grande mestre e pai, Faustino, como carinhosamente era chamado.
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com sua rabeca no "ranchinho", ali nos deliciamos muitas vezes ao som deste mágico instrumento, quando tocado pelas mãos deste Mestre.
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Como me disse certa vez: "na hora de bolar, inventar verso pra Romaria, não se preocupe, que o Divino ensina".
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Faustino era o último folião da Romaria do Divino Espírito Santo de Guaraqueçaba, época em que acompanhava a equipe do pai como Tipe e alguns anos depois assumiu a posição de Mestre, levando a Bandeira do Espírito Santo às comunidades de Ilha Rasa, Tagaçaba, Serra Negra, Itaqui, Guaraqueçaba... saiu também como Mestre da Bandeira de São Luiz de Ariri e de São José de Ararapira.
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Quando era Mestre da Romaria de Guaraqueçaba presenciou a seguinte história, que me narrou:
“certa vez, a Romaria estava chegando numa casa e a dona desta, saia para colher arroz e mesmo vendo que se aproximavam não deixou o trabalho, dando as costas para a Romaria, indo para a roça. Os foliões se aproximaram da casa e como ninguém veio buscar a Bandeira, prosseguiram a Romaria. Após terem visitados as casas daquela comunidade, no retorno, ao se aproximarem daquela casa que não os recebera, foram convidados a entrar, por parentes daquela senhora que não os recebeu, pois esta estava enferma e queria pagar a promessa que fizera. Dias antes, quando a Romaria passou e ela foi pra roça colher arroz, caiu um grão de arroz em seus olhos e ela ficou cega, prometendo ao Divino Espírito Santo, que quando retornasse aquela Romaria, passando em sua casa, iria recebê-lo. Cumprindo, milagrosamente recuperou a visão”.
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Faustino, no ano de 2008, recebeu o Prêmio Culturas Populares Mestre Humberto Maracanã da Secretaria da Diversidade Cultural/Ministério da Cultura.
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“fandango de Intruido / semana de brincadeira / que começa no domingo / termina segunda-feira / essa modinha aprendi / lá no porto da Ribeira / no cravo da laranjeira”.
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No mês de janeiro de 2010, fomos, juntamente com a família até Vila Fátima, comemorar os 94 anos de Seus Faustino. Rabeca e viola afinadas, logo após o canto do parabéns, o fandango tomou conta da festa, onde pudemos ser presenteados pelo Mestre Faustino, tocando viola, tocando rabeca e cantando muito fandango. Foram 03 dias de muito aprendizado.
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Em recente passagem pela Vila Fátima, fui até sua casa para vê-lo. Amiltom me disse que Faustino se encontrava deitado, adoentado que estava naqueles últimos dias. Resolvi não incomodá-lo. Mal sabia que era a última oportunidade que teria de abraçá-lo e novamente agradecer por tudo que nos ensinou.
MESTRE FAUSTINO – obrigado...
Fausto e Cida Mendonça
REFERENCIA:
MUNIZ, José Carlos. Fandango: Na Alma de Minha Guaraqueçaba. Obra inédita. Do autor.
MUNIZ, José Carlos. Uma Romaria do Espírito Santo. Obra inédita. Do autor.
PIMENTEL, Alexandre. GRAMANI, Daniella. CORRÊA, Joana. Museu Vivo do Fandango. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2006.
DVD:
TOCADORES Divino Folia, Festa, Tradição e Fé no litoral do Paraná. Direção Lia Marchi e Maurício Osaki. Curitiba. 2008.
CD:
Museu Vivo do Fandango. Faustino toca e canta na faixa número 12 ("Passeia meu bem passeia").