Andar pelas
ruas de Guaraqueçaba, algumas paradas e, sempre, ou quase sempre nos abordam
figuras emblemáticas, algumas prestativas em determinados assuntos e serviços, sejam
turísticos, por exemplo, outras, não menos prestativas, compartilhando seus conhecimentos acerca de “outra”
Guaraqueçaba, dos tempos que a viveram ou a conheceram e que já não voltam
mais... estas histórias ainda se mantém vivas graças a suas memórias e sua partilha.
Na Grécia antiga os Rapsodos, algo equivalente a poeta ou mesmo cantor e pelo
poder deste canto – uma vez sem o poder da escrita – percorriam vilarejos a
cantar e contar fatos, personagens, ultrapassaram seus limites temporais. As suas histórias ficaram.
Era mais ou menos assim pelas ruas de Guaraqueçaba com o saudoso Eugeniano Ferreira, o dia todo, a quem quer que visse e desse importância, dispondo de tempo, para que, numa parada pelas ruas ou nos bancos de praça, pudesse se deliciar com sua memória, histórias da Guaraqueçaba do início do século.
Mais contemporaneamente outro personagem compartilha suas memórias com aqueles que dispõem de "um pouquinho de tempo" para ouvir.
Manoel Theodoro, o nosso “Maneco”,
nasceu no dia dedicado aos professores, como se orgulha em falar, ou seja, 15 de
outubro, do ano de 1935, na localidade denominada Porto do Mato (próximo a
Ponte de Ferro), em Guaraqueçaba.
Seu pai, Antônio Martins Fagundes, era
nascido em Cananéia, a 13 de junho – Dia de Santo Antônio, no ano de 1897 e
faleceu em Guaraqueçaba, no mesmo dia [13 de junho], do ano de 1967; Casou-se
com Ermelina e desta união nasceram: Roque (policial; mais tarde faleceu em
Ivaiporã), Miguel Pereira Fagundes, Juliani, João, Dorçulina, Dorçulino; mais
tarde, em novo enlace, casou-se com Mercedes de Assumpção Theodoro Fagundes, do
qual nasceram: Manoel Theodoro – Maneco -, Maria Fagundes, Bertulina, Celestino
e Laudelina (falecido ainda criança).
Maneco
orgulhoso sempre ressalta o irmão Celestino – o melhor goleiro que Guaraqueçaba
já teve que inclusive jogara em alguns clubes em Paranaguá (Seleto, Rio Branco,
Sete de Setembro), e a irmã Juliani, parteira reconhecida em toda redondeza e
filha desta, Ermelinda, casada em Paranaguá com o russo Miguel Olinik, um dos
construtores do Palácio do Café. Já a avó Dorotéia morreu
com 115 anos.
Nas inúmeras histórias que todos os dias, constantemente repete pelas
ruas da cidade, recentemente esteve na Câmara dos Vereadores, em sessão,
lembrando a biografia do pai [Antônio Martins Fagundes], que exercera a função
de Vereador, por duas legislaturas e ainda foi Oficial de Justiça, portanto,
como propõe, espera o reconhecimento do progenitor e em sua homenagem a
nomeação de um logradouro público na cidade.
Antônio Martins Fagundes
Maneco, em 1958 foi morar em
Paranaguá, onde trabalhou no cais do Porto, na sacaria por 08 anos; no ano de 1964
foi morar em Curitiba, onde por 25 anos trabalhou na Telepar, oportunidade, por
conta do serviço de ligador e instalador, em que viajou e conheceu cerca de 50
cidades no Paraná.
Casou-se em 21 de
dezembro de 1968 com Celsina da Silva Fagundes, natural de São José do Rio
Preto, com a qual teve Moisés, Miriã e Mara, uma professora de Artes, outra
funcionária da Anatel, em Ibaiti.
No ano de 1991, Maneco comprou
um terreno em Guaraqueçaba (CR$ 50.000) e em 2017 retornou a morar em sua
terra natal.
Sua vida tem sido, em todo
momento, em toda oportunidade, pelas ruas, praças e em visitas a velhos amigos,
relembrar fatos da Guaraqueçaba que conheceu na infância. Um dos assuntos é
referente a iluminação, ainda a lampião, quando Izidoro, a todo anoitecer
percorria os postes ascendendo as lamparinas de querosene pelas ruas.
Saudosista que é, lembra a
escola ou Colégio Moisés Lupion, como chamava na época o seu grupo escolar
(hoje Colégio Estadual Marcílio Dias).
Guaraqueçaba, 1920
Sempre há tempo e
conhecimento para compartilhar um pouquinho mais do que vivera; relembra os barbeiros
Antônio Silvestre e Heros, os policiais Nilo e Leonildo, ainda Alípio Murin, o guaraqueçabano
que esteve na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Acerca de seu velho pai,
ainda relembra os fandangos que dava em seu sítio, bom violeiro que era e que
afinava “Pelo Meio” e “Intavivado”.
Canoa Caiçara
(imagem meramente ilustrativa)
Maneco ainda aprendeu a confeccionar
canoa caiçara, de Guaperuvú e Guaricica, fazendo uso de Enxó; ainda aprendeu a
confeccionar tipiti, peneira, gamela, bodoque, e bem sabia armar um mundéu, uma
vez que gostava de caçar. Numa destas caçadas lembra que, em 1957, com sua
velha espingarda matara em menos de um mês 15 macucos, comprados na venda por
Otílio Carvalho. Aprendeu ainda a fazer Bereréca, um tipo de beiju, mais mole,
a partir da mandioca que muito plantaram nas suas roças.
TIPITI
(imagem meramente ilustrativa)
Assunto que sempre relembra,
são as histórias relacionadas a Revolução de 30 quando o Comandante em
Guaraqueçaba era Palmiro Gomes, de Jacarezinho e seu quartel onde hoje se
localiza a Prefeitura Velha.
Dizia que Guaraqueçaba devia
pertencer a São Paulo, portanto havia conflitos entre o PR e SP. Além disso, a
Revolução objetivava derrubada do Governo de Vargas e na questão SC e RS também
entraram no conflito apoiando o Paraná; em 1927 houve a entrada por
Guaraqueçaba rumando a São Paulo, pelo Batuva, quando guaraqueçabanaos, entre
eles seu pai Antônio Martins Fagundes, fora um dos guias das tropas, abrindo
picadão pelo mato para passagem dos soldados e cavalaria.
Houve muitas mortes pela
região. Maneco ainda quando criança, teria visto sepulturas rasas, com cruzes
de madeira me que o limo já a descaracterizava, quando fora visitar um velho
sítio, em Batuva. O irmão Roque, lembra, dizia ter se cansado de carregar
corpos para sepultar nas valas.
(imagem meramente ilustrativa)
Outro fato
relacionado a Revolução, lembra, o pescador Prisco. Este foi encarregado de
cuidar da comunicação – telefone ainda a
manivela – no Porto da Linha e avisar o Quartel, em Guaraqueçaba, se acaso suspeitasse
da invasão paulista no território paranaense. Certo dia Prisco chega em
Guaraqueçaba, ofegante, cansando, tendo percorrido todo trajeto a pé, correndo,
para avisar da invasão. Por não ter avisado pelo telefone e assim ter dado mais
tempo para as tropas se prepararem, foi logo decretado sua punição,
fuzilamento. Emparedado que estava prestes a receber um tiro final, Prisco foi
salvo “por um triz”, como costumeiramente se diz, quando o Capitão chegara ao
Quartel e ordenara que não prosseguisse o ato punitivo, porém, Prisco já se
encontrava “borrado”, livrando-se da execução, mas ficando assim sua história
marcada.
Maneco é um guaraqueçabano que com sua voz e a brilhante memória, compartilha suas histórias, fazendo permanecer viva a Guaraqueçaba do século passado.
Seu Maneco mostrando as imagens da mãe e do pai
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Minha vó contava essa história da revolução de 30. Ela morava no Batuva e tinha uns 18 anos à época, o nome dela era Nícia Barreto Xavier (ou Nícia de Freitas Barreto, nome de solteira).
ResponderExcluirMeu pai manoel theodoro fagundes, depois de muitos anos em curitiba foi morar em Guaraqueçaba, sempre nos conta essa história com orgulho!
ResponderExcluirMeu avô Manéco, realmente adora contar histórias.
ResponderExcluirOrgulho ❤
Sua mãe,(tia Mercedes), irmã de José Theodoro (constantino)
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