década de 80
foto: Miguel Von Behr.
2006
Aproxima-se o mês de março... alguns
ex-moradores vão chegando, pintando suas casinhas, carpindo as trilhas,
arrumando as mínimas condições necessárias para, no dia 19, a vila de São José
da Marinha ou simplesmente Ararapira, receber centenas de ex-moradores e
celebrar seu Padroeiro São José.
procissão com o andor do Padroeiro São José
foto: 2006
jovens jogando futebol, tudo "normal"
foto: 2006
Tem sido assim desde que a legislação
ambiental começou a impor fortemente suas regras neste ambiente, incorporando-o
ao Parque Nacional de Superagui (década de 80) e de certa forma, forçando seus
antigos moradores a deixarem suas terras, já motivados pelo declínio da pesca
artesanal, as questões de domínio das terras pela Cia. Agropastoril (década de
70), com seus jagunços e búfalos a amedrontar os caiçaras moradores da região,
a abertura e consequente assoreamento do Canal do Varadouro (a partir da década
de 50), motivo principal do desmoronamento do barranco da Vila de Ararapira...
Há a Vila era atendida pelos paulistas e após
1920, a reivindicação paranaense pela posse teve um desfecho positivo, o Presidente
Epitácio Pessoa decretou esta pertencer ao Paraná, então os paulistas que
atendiam com Correio, Cartório, Delegacia, Escola e o mais importante,
atendimento da Cia. De Navegação Sul Paulista com itinerário marítimo passando
pela vila a escoar e trazer produtos. Uma vez sendo paranaense, o “domínio” paulista ali desempenhado fora
transferido pro outro lado do Canal do Varadouro, fortalecendo Ariri, em
território paulista, cabendo a Ararapira e seus pouco moradores restantes o
abandono do governo paranaense...
Dinancor (In Memoriam) mostrando até onde ia a Vila, lá perto do mangue. Desbarrancou tudo.
foto: 2006
Suas terras foram doadas, em 1767, por
Joaquim Morato do Canto e esposa Rosa Toledo Piza, para fins de fundar uma
povoação (protegendo a Capitania da ameaça
espanhola de ocupação das terras portuguesas), sob ordem de Afonso Botelho de
Sampaio e Souza, o mesmo que ordenou a construção do Forte Nossa Senhora dos
Prazeres, em Ilha do Mel e a Igreja de São Luiz de Guaratuba (note-se que D.
José era Rei de Portugal; D. Luiz Antônio de Souza Mourão, Presidente da Capitania
de São Paulo).
imagem antiga (direitos reservados)
Ararapira 2006
A Vila, segundo historiadores como Carneiro
(1986, pg 77), por exemplo, “tivera
início no final do século XVI, fora escolhida por ser ponto de para obrigatória
entre Paranaguá e Cananéia”, tendo seus primeiros moradores indígenas
habitantes desta região a misturar-se com o português, desembarcado em Cananéia
no ano de 1501, do qual VIEIRA dos SANTOS (2001, pg 13) descreve: “certamente bem poderiam haver mais de 100
pessoas mestiças entre filhos e netos que aqueles primeiros colonos ali
propagaram”, e acrescenta, quando diz que a população, uma vez aumentando,
se animaram a entrar em canoas e desvendar os sertões, chegando nas praias de Ararapira
e Superagui (onde Hans Staden registra
dois em 1549) depois Paranaguá.
Hoje a Vila de Ararapira é muito conhecida
como “Vila Fantasma”, vítima de um turismo inconsciente, propagado com inúmeros
absurdos, inclusive a exposição de ossada humana, a atrair a atenção dos
exploradores turísticos da região... Já fora até reportado “o cheiro de sangue que possui a trilha que leva ao cemitério”; O
certo é que por ser antiquíssima, possui inúmeras histórias e lendas que a
enredam num cenário um tanto assustador, somado ao fato de existirem as casas
de ex-moradores, ruínas da escola, ruínas do cartório, ruínas da delegacia, a
Igreja de São José, a trilha do Cemitério, rodeada de mata atlântica, como um
cenário de filme de terror... alí se vê morador apenas no dia 2 de novembro –
dia de finados, quando visitam seus entes-queridos, ou quando falece alguém
naquela região, é em Ararapira o único cemitério... Ou no dia de São José (19 de março) quando os
ex-moradores retornam e realizam a festa em louvor ao seu padroeiro e revivem
Ararapira.
seguindo por esta trilha...
... quase que fechada pela Mata Atlântica...
... chegará ao cemitério de Ararapira.
Tudo está em risco... Toda esta mobilidade é
ameaçada, por estar tal território dentro do Parque Nacional de Superagui e na
legislação de tal unidade seria impossível haver moradores, até porque quando
da criação da Unidade de Conservação, estaria abandonada, portanto qual o
direito que os ex-moradores teriam de retornar? Reformar suas antigas casas? E aquelas
que já caíram?
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casa em destaque (década de 80) - verifique área ao redor e barranco |
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casa em destaque (2006) |
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ruínas da casa mostrada nas duas fotos acima (2012) |
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barranco com destruços, ruínas da casa mostrada acima |
O que de mais certo é – a Igreja de São José –
ainda de pé e que mantém viva a Vila de Ararapira, recebendo todos os anos seus
filhos e devotos, está em ruínas, prestes a desabar...
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a situação do telhado, com goteiras e prestes a desabar... |
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a porta da Igreja de São José |
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a situação das janelas da Igreja de São José |
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duas madeiras sustentam a estrutura do telhado |
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é precária as condições da centenária Igreja |
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rachadura na parede externa da Igreja de São José
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Serve esta postagem para denunciar tal
ABANDONO E DESCASO...
... Será enviada ao e-mail do escritório do IPHAN/PR, a
Secretaria de Estado da Cultura setor Patrimônio, Secretaria Municipal de
Cultura de Guaraqueçaba e tento fazer uma denúncia na Revista de História seção Patrimônio em
Perigo e peço gentilmente que todos denunciem, divulguem este descaso!....
A história da Vila foi tema de minha
monografia de conclusão de Curso de História na FAFIPAR, em 2008 (https://drive.google.com/file/d/0B3Ue7WCPmb5GOF9YTVlMbnk5MEE/view?usp=sharing) e de lá pra
cá, uma reportagem na Revista de História da Biblioteca Nacional, quando um
Deputado Federal cobrou ações do Ministério do Meio Ambiente, algumas
reportagens em jornais paranaenses e mais recentemente (a produzir) um
documentário sobre a Vila de Ararapira.
Seguem alguns links sobre a história da Vila de Ararapira
5.
http://robertofortes.zip.net/arch2008-08-17_2008-08-23.html
6.
http://robswood.blogspot.com.br/2011/01/ararapira-cidade-fantasma.html?showComment=1360087875458
7.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/os-cacadores-de-lugares-esquecidos