"Deus salve Guaraqueçaba / o Morro do Quitumbê
a coisa mais importante / na ponta dele se vê
a igreja do Bom Jesus / sempre vai permanecer".
Pedro Nilo Nascimento (In Memoriam).
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Por inúmeras vezes ouvimos e por pertencer a tal tradição, também pronunciamos, esta que se tornou "normal" no linguajar caiçara, pelo menos ao que se refere a região de Guaraqueçaba, Paranaguá, bem como Cananéia e Iguape: "Meu Bum Jisus" ou mesmo "Meu Bom Jesus de Iguape".
Em muitas ocasiões ouvi até mesmo sair tal pronunciamento da "boca" de protestantes do catolicismo, o que me faz ver que se tratando do Bom Jesus, este culto caiçara ultrapassa as barreiras impostas por religiões e sobressai como motivo de fé, resultante da crença dos antigos povos caiçaras e que até hoje sobrevive em determiados lugares com tamanha força e representação e outros nem tanto, mas com certeza aumentando a cada dia em Iguape, terra em que teve origem esta devoção ao santo Cristo, na forma de "Bom Jesus" e que recebe no mês de agosto milhares de romeiros, vindos dos mais longíncuos lugares, inclusive de Guaraqueçaba, Superagui, Barra de Ararapira, Ilha das Peças, etc...
... esta crença é herança de tempos remotos, em que a devoção praticada por este povo naquela cidade, ultrapassou as barreiras e igualmente veio a ser praticada em Paranaguá e Guaraqueçaba, o que fez manter viva até dos dias de hoje a fé no Bom Jesus de Iguape.
Se procurar-mos a origem bíblica para justificar a imagem, talves possamos nos basear na seguinte passagem do livro sagrado do cristianismo:
“Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e rodearam-no com todo pelotão. Arrancaram-lhe as vestes e colocaram-lhe um manto escarlate. Depois trançaram uma coroa de espinhos, meteram-lhe na cabeça e puseram-lhe na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante dele, diziam com escárnio: “Salve, Rei dos Judeus”.
Mt 27, 27 – 29.
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O achado da imagem na Praia do Una em Iguape.
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Na cidade de Iguape, o culto ao Bom Jesus é uma tradição iniciada no ano de 1647, quando no mês de fevereiro, um navio português levava a imagem do Senhor Bom Jesus para Pernambuco que estava sob o domínio holandês e quando já próximo do destino o navio foi abordado pelos holandeses e a tripulação com receio que seus objetos fossem saqueados e as obras santas profanadas, lançaram a imagem do Bom Jesus no mar.
Nove meses mais tarde, na Praia da Una, dois índios enviados à Vila de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, pelo Sr. Francisco de Mesquita, morador da Praia da Juréia, avistaram os objetos nas ondas, próximo da praia. Resgataram o caixote de madeira, no qual estava a imagem e também algumas botijas de azeite, que boiava ao lado. Trouxeram a margem, colocaram-na de pé, com o semblante virado rumo ao nascente e rumaram na direção que iam. Quando retornaram, ficaram surpresos ao verem a imagem ainda de pé, porém com o semblante virado ao poente, chegando no local onde moravam contaram o acontecido.
Na manhã seguinte, Jorge Serrano, líder comunitário, acompanhado de sua esposa Ana de Góes, seu filho Jorge Serrano Filho e sua cunhada Cecília, tomaram o caminho da Praia da Una, avistando a imagem, puseram-se de joelhos e rezaram. Usando uma rede de pesca resolveram levá-la para Iguape.
No meio do caminho, acercou-se deles um grupo de pessoas, informados pelos índios do achado, e queriam levar a imagem para a Vila de Nossa Senhora de Itanhaém – sede da Capitania. Ao tentarem virar o cortejo para esta vila, a imagem surpreendentemente tornava-se muito pesada, a ponto de não conseguirem carregá-la, ao contrário de quando tentavam levá-la para Iguape.
E levaram para Iguape e nos dias da caminhada, aumentava a procissão, parando quando encontraram um lugar de rara beleza, banhando a imagem sobre as pedras de um riacho.
início da construção da capela ao Bom Jesus em Iguape
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A capela do Senhor Bom Jesus dos Perdões – em Paranaguá.
antiga capela do Bom Jesus dos Perdões em Paranaguá
acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá / Museu da Imagem e do Som.
Em 1710, os moradores da Vila de Paranaguá, conseguiram autorização, pelo seu fiel devoto o senhor José da Silva e Barros, para construir uma capela sob a invocação do Senhor Bom Jesus dos Perdões, concluída entre 1711 e 1712, com devida autorização eclesiástica, conforme Provisão do Bispo do Rio de Janeiro - Dom Francisco de São Jerônimo. O Devoto-Mór José da Silva e Barros, faleceu em 1730, ano em que a capela ficou sob a protetoria de Gaspar Gonçalves de Morais, depois sob responsabilidade da Ordem Terceira de São Francisco, da Irmandade de São Benedito e seu último Protetor, o Comendador Manoel Francisco de Correia Júnior, em 1835, sendo que em 1902, as instalações da Capela do Bom Jesus foram cedidas à Congregação das Irmãs de São José, onde funcionou como colégio até 1936. Em 1938 a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, otendo o domínio, porém encontrando a capela em deplorável estado de conservação, optaram por vendê-la e o novo dono a demoliu em 1938.
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autoria desconhecida / direitos reservados
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Sendo provavelmente, desta devoção ao Bom Jesus dos Perdões em Paranaguá e da maior ao Bom Jesus de Iguape / SP, que tenha se iniciado a devoção ao Bom Jesus, na ilha de Povoçá em Guaraqueçaba – tendo inclusive o nome “Povoçá” em uma das definições, alegando ser a palavra originária do indígena “Pae Massu”, e ter seu significado em “Pai Grande - ou Deus - dos Brancos”, designando que a ilha era do Bom Jesus – o Deus dos Brancos.
O Bom Jesus do Povoçá / Bom Jesus de Ilha Rasa – a festa como era, relatada por João Alves Batista (In Memorian), mais conhecido por João Buso, nascido na Ilha das Gamelas em 1930:
“Era na Ilha de Pagoçá, lá que tinha um Santo do Bom Jesus, mas é uma história muito comprida. Tinha lá era uma imagenzinha do Bom Jesus, mas era assim pequeninha assim (faz com os braços uma medida equivalente a cerca de 50 cm de altura), ela ficava dentro de uma manga de vidro, com uma coroazinha em cima da cabeça. Essa imagem ficava em cima de um cepo de madeira, lá dentro do rancho. Era um ranchinho assim, um rancho que os pescadores usavam quando iam soltar o espinhel ali por perto, então iam no rancho assar um peixe pra jantar, iam lá pra descansar, então ficavam ali no ranchinho e lá dentro tinha a imagem do Bom Jesus. E lá era um lugar bom pra pescar, que eles chamavam de “Moleque”, mas hoje já não existe mais, pois a maré já levou tudo, nós chamava de “Sabiá”, sabe, porque quando nós ia pescar, soltava a rede, lanceava e enquanto esperava pra buscar a rede, ia lá passarinhar, matar sabiá, que tinha muito lá naquele tempo. E o santo ficava lá, até que uma vez um prefeito de Guaraqueçaba, não me lembro o nome dele agora, mas eu sei. Então esse prefeito mandou buscar essa imagem do Bom Jesus de lá do ranchinho e mandou que levassem pra igreja de Guaraqueçaba. Mas no outro dia cedo, olhe não é de acreditar, foram na igreja rezar e aquela imagem do Bom Jesus não estava mais lá. Avisaram o prefeito e todo mundo procurou e nada de encontrar. Daí tinha um pescador que veio da Ilha Rasa e passou lá no Pagoçá e viu a imagem lá de novo, contou pro prefeito e foram lá ver, até polícia tinha, foram tudo ver e ao Bom Jesus tava lá no ranchinho do Pagoçá. Então já que o santo tava lá, o prefeito disse: “Pois que fique aí então”, então meu avô, que era José Xavier, olhe ele morreu com 115 anos, pediu pro prefeito né: “Seu prefeito então deixe nós levar o Bom Jesus alí pra Ilha Rasa, que é perto e quem sabe ele se acostuma ali né?”. E o prefeito deixou. Levaram o Bom Jesus pra Ilha Rasa. E todo ano, pelos dias 05 e 06 de agosto é que tinha a Festa de Nossa Senhora das Neves e do Bom Jesus de Ilha Rasa. Começava com o estouro do estopim, porque lá tinha duas peças, que era de metal decerto, mas era grande, tipo um pote bem grande. Então ali dentro, colocavam pólvora, socavam o estopim, esticavam um pavio bem grande, comprido, assim, até lá, bem longe né, daí ascendiam e atiravam no dia da festa. E era nós mesmo que cantava as novena na festa do Bom Jesus, os terço e era tudo cantado. Então pelo dia 06 de agosto, de tarde, encerrava a festa, então tinha era de tudo, grande gentarada, tinha o leilão de prenda, tudo era pra igreja e acabando as festa, ia todo mundo pro fandango, naquele tempo tinha lá umas 3, 4 casas de fandango e ali dançavam até as 3, 4 horas da manhã, mas noutro dia, dia 07 de manhã ainda tinha o terço dos romeiros que era cantado também. Pelo final de cada festa, tiravam os noveneiros sorteados, os festeiros e as festeiras. Mas tinha também o Capitão do Mastro, era o cara que tirava o mastro no mato, com o povo e ele era responsável por pintar o mastro, que podia ser de vermelho, branco, preto, assim de um jeito bem bonitinho né. Era um mastro grande, as vez faziam de Guanandi comprido que dava 06, 08 metros de comprido, bem cipilhadinho, tinha a corda que fazia correr a Bandeira e esse mastro era erguido na 1ª Novena do Bom Jesus, pelo dia 26, 27 de julho. Sorteavam também o Alferes da Bandeira, esse ficava responsável né, era ele que mandava pintar a Bandeira, pra no dia de “Erguida do Mastro” colocar a Bandeira do Bom Jesus lá. Então uma vez me chamaram pra rezar a festa lá, que não tinha padre e eu fui lá cantar uma missa na festa deles. Depois uma mulher de lá me chamou no lado e disse: “Escute, este Bom Jesus aí ó, cresce o cabelo dele”. Eu olhei e assim de vista parecia mesmo. Mas é uma coisa que as pessoas acreditam né. Eu não vou duvidar porque o Bom Jesus é um santo milagroso. O povo dava valor pra imagem, mas num é ela que faz o milagre. Ela é uma fotografia do Bom Jesus. Minha bisavó fez uma promessa pro Bom Jesus. Ela tava ca perna que só ferida, não podia andar, não dava pra ela sair de casa. Ela fez uma promessa que se a perna dela sarasse, que ela queria ir na festa do Bom Jesus da Ilha Rasa e nós morava na ilha da gamela. E não é que no dia 06 de agosto, não é que sarou a perna dela e ela foi na procissão. Mas não foi a imagem, foi o Jesus é que fez o milagre”.
(João Alves Batista).
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Em Guaraqueçaba:
Do culto e devoção ao Bom Jesus do Povoçá, originou-se em Guaraqueçaba o culto ao Bom Jesus de Guaraqueçaba, com sua capela erguida em 1838 e segundo relatos, a imagem do Senhor Bom Jesus, chegou a Guaraqueçaba, trazida da vizinha cidade de Paranaguá por volta do ano 1912, por pescadores, em canoa a remo, levando no trajeto mais de 12 horas remando, sendo esperada por muitos católicos no porto.
por ser antiga, houve um período em que esta imagem não mais podia ser retirada da igreja para seguir em procissão, pois corria riscos de danos maiores. A cada ano então, no dia da procissão era trazido a imagem da Ilha Rasa, até o ano de 1995, quando o Pe. Wiktor Pazek CM, recebeu de amigos a doação da nova imagem do Bom Jesus dos Perdões.
Padre Mário Di Maria ao lado da imagem do Bom Jesus.
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Hino do Bom Jesus
Não se sabe dizer com precisão a data de adoção do hino ao Bom Jesus, mas já nos anos de 1921, segundo escritos do Coronel Sebastião Gomes de Faria (que foi prefeito de Guaraqueçaba nesta época), cantava-se este hino ao Bom Jesus dos Perdões de Guaraqueçaba, principalmente aos domingos, após os terços dominicais. É o mesmo entoado nas celebrações ao Bom jesus em Iguape/SP.
Senhor Bom Jesus / Deus de perdão
Da alma pecadora / tende compaixão.
Senhor Bom Jesus / Deus de Compaixão
Aceitai benigno / esta nossa devoção.
Senhor Bom Jesus / Deus de bom fim
Na hora da morte / lembrai-vos de mim.
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Das histórias de lição do povo caiçara, nos conta o meu pai, o Sr. José Hipólito Muniz, que "um morador do Morro da Parada, lá perto da Ilha da Casca”, certa vez fez um multirão de cavação e era justamente do dia 05 para amanhecer com baile no dia 06 de agosto - dia do Bom Jesus. Ele queria aproveitar os que não foram à festa em Iguape, para cavarem e plantarem a mandioca, o que não foi aceito por muitos, mas mesmo assim ainda encontrou alguns que tomaram a empreitada, com total desrespeito ao dia santo. Trabalharam o dia inteiro e a noite dançaram um fandango, até que animado, amanhecendo no dia do Bom Jesus e logo rompendo o dia, o violeiro deu a despedida, indo todos para suas casas. Pela tarde, “lá pelas 03 horas da tarde, baixou um bando de corvo na roça dele, mas eram em tantos que chegou até a tampar o sol”, ficando o dono do roçado em total desespero. Somente noutro dia ele pode constatar e ver o que acontecera na sua roça, ficando decepcionado, pois não restara sequer um pé de mandioca plantado. Naquele pedaço de terra, onde os corvos arrancaram toda a plantação daquele que fez um fandango em dia santo, “nunca mais cresceu vegetação e até hoje se depara com um lugar deserto, onde não cresce um só pé de mato”.
http://www.youtube.com/watch?v=V0Q7sUnFiYU
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vídeo da carreata em louvor a Nossa Senhora das Neves e procissão marítima em louvor ao Nosso Senhor Bom Jesus dos Perdões - 2013
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vídeo da carreata em louvor a Nossa Senhora das Neves e procissão marítima em louvor ao Nosso Senhor Bom Jesus dos Perdões - 2013
REFERENCIAS:
MUNIZ, José Carlos. Bom Jesus dos Perdões de Guaraqueçaba. Obra inédita. do autor.
FREITAS, Waldomiro Ferreira. Paranaguá das origens a atualidae. Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá. 1999.
MUNDO CULTURAL PRODUÇÕES. Documentário Santa Fé Festa do Senho Bom Jesus de Iguape. 2007.
AGRADECIMENTOS:
Maria de Lourdes Amorim Consentino (In Memoriam), Manoel Amorim (In Memoriam), João Alves Batista (In Memoriam), Waldemar Harry Krueger (In Memoriam).
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Lei Orgânica do Município de Guaraqueçaba
TÍTULO VII
ATOS DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 221 - O Município comemora anualmente as seguintes datas:
a) Dia 05 de agosto - Dia do Padroeiro da Cidade, Bom Jesus dos Perdões.
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O dia dedicado ao Bom Jesus dos Perdões é 06 de agosto. dia 05 de agosto é dedicado em louvor a Nossa Senhora das Neves, que tem igual devoção também em Iguape e Guaraqueçaba.