19 de julho de 2019

O “SENHOR DO TEMPO” E O RELÓGIO SOLAR DE GUARAQUEÇABA.

          Já passaram 10 anos da postagem (http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2009/05/historia-soterrada.html) em que lamentavelmente expúnhamos o abandono pelo qual nossa história passava... Infelizmente - acredite - pouca coisa mudou. O abandono continua. O descaso é lamentável... Mas demos passos, no mínimo, interessantes...
               Nesse ínterim, foi aprovado??? a lei Nº 670/20018 que cria a Casa de Memória de Guaraqueçaba (http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2018/03/museu-de-guaraquecaba.html), porém, um ano se passou e NÃO quero acreditar que "ficou para a história" ou era apenas "história da carochinha"...  

               Nesse final de semestre, temos visto alguma ação no sentido de valorização de nosso patrimônio histórico. Trata-se da revitalização do Relógio Solar.
                    Aproveito para lançar nota biográfica daquele que, em 1969, ousou na construção de um Relógio Solar em Guaraqueçaba e parabenizo a iniciativa em tal obra de valorização de nosso patrimônio.


               O Nosso Pixirum aproveita a ocasião para parabenizar a iniciativa e vermos um pouquinho mais de nossa história valorizada... Passo importante e não podemos nos esquecer de que há ainda muitos outros passos...

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O “SENHOR DO TEMPO” E O RELÓGIO SOLAR DE GUARAQUEÇABA

FÉLIX PEYRALLO CARBAJAL
O SENHOR DO TEMPO

          Dando alimento a sagaz fome do historiador, inicio por uma rápida busca ao nome Félix Carbajal, conforme levantado e gravado na placa, em nosso Relógio Solar. Alguns resultados da busca me direcionam a um goleiro mexicano ou um corredor cubano, mas outro ao “Senhor do Tempo”; este, nômade, com outros tantos adjetivos como o andante, o andarilho, ou como ele mesmo se intitulava: “um peregrino feliz pelo mundo”...

               
Numa dessas dicas que a vida nos apresenta acerca de nossa missão nessa terra, Félix Peyrallo Carbajal nasceu exatamente no dia 23 de setembro de 1905 (1913???) – equinócio de Primavera – em Montevidéu/URU.
Órfão desde a mais tenra idade, já em seus primeiros instantes de vida terrena, o sentimento era vida e morte- a mãe falecera no trabalho de parto. Década depois, o pai, violinista, vindo a falecer deixa-o como herdeiro não somente de uma considerável quantia financeira, mas o amor pela arte... 
Aos 17 anos, três após a morte do pai, inicia sua “peregrinação pelo mundo”, rumando à Madri/ESP, onde boa parte de seus recursos financeiros foram empregados em sua formação, estudando Letras, período em que compartilhava estudos e morada com Garcia Lorca, Bruñoel, Pedro Garfias; em Paris/FRA estudou História na Sorbonne, aluno de Piaget, convivendo com Hemingway...
Espanhol, inglês e francês falava bem; escrevia e lia em italiano, grego, latim, alemão e alguns idiomas indígenas; ainda estudara Filosofia e Ciência no México, possuindo Doutoramento em Stanford (E.U.A), onde, já anarquista e sem apego material algum, descobre que também acabara todo seu dinheiro e “sem documento, sem diploma, sem família, sem laços”, seguiu caminhando levando sua extrema sabedoria e uma muda de roupa - sempre branca - escrevendo para jornais e revistas e por onde passava proferia palestras; foram mais de 10.000 – era sua contrapartida aos lugares em que era acolhido.

Em seus estudos se aproximou de Picasso, Salvador Dalí, Frida Kahlo, Pablo Neruda, Simone de Beauvoir, dentre outros, mas ao que parece, a literatura e a poesia era uma obsessão, estando sempre em lugares, onde quer que fossem, que tivesse ou residisse algum poeta. No Brasil queria conhecer Manuel Bandeira, do qual foi agraciado com uma crônica.

“O estrangeiro”: "Dei-lhe os três minutos. Uma lábia infernal... Virou pelo avesso o meu ‘Último poema’; Comentou a tradução do ´Torso de Apolo´, de Rilke , referiu-se com entusiasmo a uma jovem poetisa cubana, Carilda Oliver Labra, conhecia todo o mundo na América, falou de Neruda, de Leon de Greiff, de Coronel  Urtecho, mostrou-me notícias de conferências suas em Belém do Pará... - De que vive? - De mendicância. Tem sido assim em toda parte, será aqui também. Quando tenho fome, entro num restaurante e peço comida. Um, dois, três recusam, o quarto me atende. Quando me regalam onde dormir, durmo em cama. Senão passo a noite andando: tenho uma saúde de ferro, posso andar 25 quilômetros sem sentir fadiga. Comer, dormir não são problemas para mim. Os problemas da vida são outros.
 Despediu-se sem me pedir nada. Perguntei-lhe se aceitava dinheiro para o jantar.  O ´sim´ alegre e enérgico com que respondeu já era o seu agradecimento
”.

Certa vez, na Nicarágua queria conhecer a casa de Ruben Darío, porém, numa revista que folheava um garoto, viu o desenho de um relógio solar e como distração, rapidamente fez uma miniatura, espalhando sua fama de construtor de relógio, aceitando o pedido do Prefeito, construindo um na praça da cidade... Deste primeiro, somaram-se outros 500 relógios projetados e 180 construídos pelos 64 países e 28 colônias em que passou, dentre os quais no Brasil nos estados da PB, BA, RS, SC e PR (Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba).

Relógio Solar em Paranaguá

               Desta passagem por Paranaguá, Félix fora convidado pelo então recém-eleito Prefeito de Guaraqueçaba Gabriel Ramos da Silva, em 1969, para a construção do Quadrante Solar em Guaraqueçaba.
Ao certo não muito diferente das suas passagens por outras regiões, chegara em julho de 1969, com uma maleta nas mãos onde portava um caderno de anotações, livros e algumas peças de roupas, brancas, chamando a atenção na bucólica Guaraqueçaba, recebendo aqui, por causa de suas ideias geniais e pensamentos fantásticos, uma nova alcunha: "louco número 1".
Recebera hospedagem e funcionários para ajudá-lo - Luizão Terezin - como era costumeiro pedir, e após sua escolha do local ideal para o Quadrante Solar.
Em menos de dois meses, concluída sua obra e continua sua peregrinação pelo mundo, resta-nos hoje, nosso Relógio Solar, uma marca do “Senhor do Tempo”.

Félix Peyrallo Carbajal desde 2003 habitava o asilo público em Blumenau/SC.

“num canto, sob a luz de uma janela, está Félix. Tem uma mesa só para ele. Cheia de livros, papéis, lápis, canetas. Está com o rosto enterrado num papel. Enxerga mal, por causa da catarata. Tão logo nos vê, se levanta, solícito. Beija, delicadamente, a mão de cada uma. "- Senhoritas!!!!”, exclama, com um adorável sotaque espanhol. É um gentil homem. Sem que ninguém pergunte vai informando. "Estou traduzindo este texto para uma revista de Buenos Aires". E assim é. Beirando um século, o sábio anarquista trabalha a todo o vapor. Escreve, cria, lê e profere conferências”.

               Faleceu em agosto de 2005.




Esta postagem foi possível a partir de depoimento do Sr. João Amadeu Alves, bem como dos sites:
            MACHADO, Ricardo. O nomadismo de Félix Carbajal - https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/169095; tese (UFSC, 2016).


Acréscimo em 17/10/2020
assista no link abaixo ao vídeo sobre esta história
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4 comentários:

  1. Dizem que esse relógio nunca parou dês de a inauguração.

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  2. Nós que amamos Guaraquecaba ficamos felizes por seu interesse pela cidade e a gentileza de nos tornar conhecedores de assuntos importantes.
    Obrigado Zé Muniz,Abraço!

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  3. João Amadeu esqueceu de falar quem foi o pedreiro que fez. Lembro ele foi Joaquim Rodrigues dos Santos.

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  4. Muito bacana você escrever sobre Relógio Solar em Guaraqueçaba e seu construtor Félix Peyrallo Carbajal. A foto é recente, do quadrante Solar? O de Paranaguá, encontra-se do mesmo jeitinho da foto no seu blog, e a placa sumida. Pior mesmo foi o de Antonina que foi demolido da praça e de quebra, ainda jogaram a caliça no mangue. Quando passar por Paranaguá venha tomar um café conosco no Instituto Histórico, estamos lá às segunda, quartas e sextas pela tarde. Abraço e parabéns pelo Blog.

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