2 de outubro de 2017

Temperando a Saudade - Semana do Fandango Caiçara de Guaraqueçaba

Guaraqueçaba celebra a Semana do Fandango Caiçara Mestre Janguinho <http://informativo-nossopixirum.blogspot.com.br/2015/10/nho-janguinho-o-mestre-do-fandango.html> e em agradecimento ao aprendizado e exemplo que nos deixaram, prestamos nossa singela homenagem aos velhos mestres do Fandango Caiçara.

        “Vocês podem dançar”. Foi o derradeiro conselho de Dona Dina, lá pelos idos de 1999, quando com um velho gravador, dávamos os primeiros passos no que se transformaria numa constante – registrar a cultura em Guaraqueçaba, ou melhor, fazer Fandango Caiçara ca nossa gente...
        Havia alguns poucos jovens, que mais apareciam pra fazer teatro e viajar do que qualquer outra coisa, mas sempre tavam lá, aprenderam. Havia também um velho mestre na viola – que tinha um guizo de cascavel e com seu camarada, pouco se importavam com a hora em que o espetáculo ia terminar. Ué, o Fandango tem despedida, mas num acaba... e continuavam tocando e cantavam que nem que tivessem esfregado cigarra no peito. e n c a n t a v a m.
        Neste dia em que celebramos o Fandango Caiçara em Guaraqueçaba, com muito orgulho agradecemos àqueles que nos ensinaram a amar, respeitar, enfim, viver nossa tradição.
        Toda tardinha Guaraqueçaba ouvia o bufo da viola de Seu Janguinho, enquanto nós, então jovens fandangueiros, tentava dançar... “pare, pare”: Dizia quando dava balaio. Também pudera, sempre tava por lá a Família Pereira, nós não podia fazer besteira e com Chiquinho Inácio repicando seu tamanco de canela, então, pulando por cima dos bancos, nós ficava tudo sem jeito, pois não conseguia acompanhar mesmo, ficava só olhando... Seu fiel camarada Nhô Júlio ponteava o cavaquinho e, juntos – Nhô Júlio e Janguinho, eram um espetáculo só – Fandango Caiçara no então “Grupo Teatral Pirão do Mesmo”.
        Veio o “Fâmulos de Bonifrates” e o fogo da cultura caiçara reascendeu em Guaraqueçaba e como tavevê pra tudo lado iniciaram pesquisas e visitas à fandangueiros, soprando a luzerna em entrevistas, reascendendo os fandangos em comunidades, enfim, um brazido de informação, redescoberta, um mergulho em nossa tradições e isso cresceu e deu fruto, igual os brotos de um Caxetal, nasceram novos fandangueiros - Fandanguará, hoje também Canutilho Temperado.
        Não foram poucas as vezes em que entre um gorpinho de café e outro, nos cantavam modas, contavam histórias, eternizavam suas memórias.
        Há, Dona Durçulina, quanta sabedoria. Salve o Divino Espírito Santo, sempre dizia Seu Faustino, Dona Cida e Dona Dina. Quanto gosto Seu Júlio Pereira, Andrino, Randorfo... nós quase se rachava sirrindo cas piadas e fique esperto - “Compadre, paga nada”, sempre dizia Zé Norberto.
        Seu Hugo Amorim e esposa Dorçolina, Arminda, Osminda Silva, Maneco “Onça”, Conceição Constantino e Dona Pedrina França - transcendiam, voltavam ao tempo de criança.  Antônio “Peva” dedilhando o intivado de novo, então, estava ali o amor ao Fandango, quietinho, guardado em seu coração.
        Meu Bum Jisus, quanto intruido em Superagui; Pedro Miranda, Alcides Rodrigues, Zé Esquenine, Antônio Leotério – era só chegar, certeza, todos estavam ali, entre uma Chimarrita e um Dondon, impossível não tomar uma Cataia, pois então, também bebi.
        O toque Pelas Três, difícil de se encontrar, Fausto Pires faziam com tanta naturalidade, era impossível não admirar; Antônio dos Santos temperava sua viola e num ficava sem tocar, pois a “viola é uma gente, que come comigo na mesa e a alegria dela é que espanta minha tristeza”.
        Ei Seu Eugênio, ôh fandango bom nos tempo de dantes no Cerco Grande hein; Gabriel Martins em Ararapira e quase sempre em Romaria; João “Buso” na Ilha Rasa destemperava a afinação quando cantava o Terço, silêncio (chiiiiii), ele era o Capelão.
        É uma grande gentarada só que MeuSenhorBumJisuisdeládeIguape, alguns batelão carregado de fandangueiro. Fiquei pensando num mutirão com uma gente dessa; que lemarde festa não. Heiheiiii BumJisuis... Mandipuva na mesa, Mãe c’a Filha na caneca, arroz com café na esteira, Recortado, Sapo, Faxineira, Querumana a noite intera... Toque o Anú - sai azar - que seja boa a brincadeira e quando o sol começar a raiar, não precisa parar, pois vai ter a domingueira e pra morena mais charmosa, tem pé-de-moda da Graciosa.
        Sai pra lá Pé-Redondo, não quero nada com tú... Nós é assim... Inverga, mais num quebra... se nosso tempo na terra acabar, por mim, lá no céu também tem tablado e esse povo tudo já tá lá com São Gonçalo, temperando sua viola com toeira de metal e canutilho dourado.
        Quanto a nós, cabe ainda esperar, pois “não há machado que corte a raiz do meu catar”... Ainda por aqui precisamos cumprir nossa missão... bater o tamanco pela cultura caiçara... respeitar aqueles sempre mestres – Obrigado - os mestres de hoje – Respeito - e os mestres que virão – é assim que vive nossa tradição. Viva Guaraqueçaba – Viva o Fandango Caiçara que Deus deixou pro regalo da pobreza... Amanheceeeeeee...

-------

PROGRAMAÇÃO

 
 
 
 
 
 

2 comentários:

  1. Otimo. Não podemos perder os valores culturais.

    ResponderExcluir
  2. Valeu Zé Muniz. Temos que segurar essa "onde" que vem dos tempos coloniais. A Tradição é a identidade de um povo"! . . . . "Povo sem identidade vive debaixo da bota".

    ResponderExcluir

POR FAVOR, ANTES DE COMENTAR LEIA ABAIXO A LÓGICA SIMPLES PARA COMENTÁRIOS... Obrigado por nos visitar, ler, comentar e divulgar - seu novo desafio é se propor a postar - entre em contato...