10 de janeiro de 2017

O Paraná no Centenário da Independência

Em 1922 - Centenário da Independência do Brasil - foram diversas as homenagens pelo Brasil afora...
Não diferente, a Confederação dos Pescadores do Brasil, de uma forma ousada, resolveu enviar à Capital Federal, então Rio de Janeiro, uma comitiva de pescadores, representantes de todos os estados brasileiros, e, detalhe, a remo, tendo confirmação dentre outros, de pescadores de Natal, Aracajú e Salvador.
No Paraná, a Capitania dos Portos, com sede em Paranaguá, divulga a iniciativa, juntamente com o Comandante da Escola de Aprendiz de Marinheiros o Capitão-Tenente Dídio Iratim Afonso Costa, bem como pela Confederação dos Pescadores, ao que comparecem um destemido grupos a fazer os exames necessários para a destemida jornada.
Pouco tempo depois, já com a equipe selecionada, foram escolhidas também duas canoas: A “Paranaguá”, emprestadas com a Associação das Práticos da Barra de Paranaguá e a “Paraná”, da Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, ambas medindo 9,90m de comprimento por 1,10m de boca, foram aparelhadas, recebendo mastros e velas.
A canoa "Paraná" foi comandada por Joaquim Mariano Fernandes “Joaquim Tigre” e a canoa "Paranaguá" por Antônio Serafim Lopes “Barra Velha”, auxiliados pela equipe: Domingos José Trizani, Virgílio Farias, Manuel Praxedes de Oliveira, José Antônio Ribeiro, Valentim Tomáz, Manuel Carlos Serafim, Olívio Elias e Antônio Gonçalves Rodrigues.
E partiram do Rio Itiberê em 7 de setembro de 1922, às 15:30 horas, a percorrer as 450 milhas, feito realizado em 16 dias.

“as duas canoas largaram do cais e navegaram em direção da foz do mencionado rio, sob os aplausos ruidosos e os votos de feliz viagem e breve regresso de uma multidão que se estendia, comprimida, na beira do rio, acompanhando com o olhar os canoeiros até a curva do “furado”, desaparecendo nas águas do lado oriental da ilha da Cotinga”.(FREITAS, 1999, p. 397).

Percurso:

“por volta da meia-noite de 8 de setembro, as canoas “Paraná” e “Paranaguá” deixaram a barra.  Em mas condições de tempo, contornaram o Superagui e, enfrentando a costa oceânica, atingiram a ilha do Bom Abrigo, sempre acossados pelo tempo. No dia 10, alcançaram Cananéia. A 13, estavam em Santos, atingindo, depois de travessia tormentosa. A 16, enfrentando mar agitado, chegaram a São Sebastião. Contornando os recortes da costa, navegando de angra em angra, de pouso em pouso, ao longo do percurso, seguiram os arrojados caboclos a rota e rumo nas duas canoas. A 20, estavam em Angra dos Reis. A 23, pela manhã, encostavam ao lado do navio de guerra da Marinha do Brasil “José Bonifácio”, no porto do Rio de Janeiro. (FREITAS, 1999, p. 397).

A instabilidade do tempo, as ondas bravas do mar, o frio, a fome, a sede, o sono, o cansaço, o medo, o susto, não foram suficientes para desencorajar a férrea vontade desses heroicos e entendidos marujos do litoral paranaense. Um heroísmo sincero, verdadeiro e um exemplo, uma lição de amor à Pátria. (FREITAS, 1999, p. 397).

https://pt.scribd.com/document/220180168/Revista-Rumos-23-pdf
        
       A Revista Rumos Práticos reproduziu uma crônica do jornalista parnanguara Caetano Evangelista, publicada no livro Crônicas, editado em 1978 pelo Conselho Municipal de Cultura de Paranaguá:

“Estive presente, naquela manhã chuvosa, à partida dos heróis humildes - verdadeiros lobos do mar. Partiram do Rio Itiberê, aclamados pelo povo, os canoeiros indômitos – representantes de Paranaguá. Paraná e Paranaguá, canoas, deixaram a raia do litoral do Paraná na manhã do dia 7 de setembro (de 1922). Primeiro pouso: a Ponta do Bicho, depois de quatro horas de navegação a remo; aos primeiros albores do dia seguinte aproaram para a Ilha do Bom Abrigo, onde chegaram ao meio-dia acossados por forte brisa de leste, que soprou durante dois dias, impossibilitando-os de navegar. No dia 10 largaram de pano em direção à Cananéia a cuja praia chegaram na noite do mesmo dia. Descansaram durante a noite, voltando na manhã seguinte ao Bom Abrigo, visto ser esta a ilha ponto indispensável daquela costa. Almoçaram aí e, às 11 horas largaram com destino a Santos, cuja barra alcançaram depois de dois dias e duas noites de viagem Entraram em Santos na madrugada de 12 de setembro e permaneceram até amanhã de 14, seguindo depois para São Sebastião, onde chegaram três dias após, por motivo do mau tempo reinante ameaçador. Mas Paraná e Paranaguá foram mais fortes que aborrasca. Venceram, guiadas que foram por valentes brasileiros! De S. Sebastião à baía de Guanabara pararam ainda em diversos pontos para se livrarem da tempestade, entre eles Angra dos Reis, Jacareí, Ponta da Paciência, Ibicuí, Sepetiba e Pedra de Guaratiba. Depois de 17 dias eis que os heróis parnanguaras chegaram à capital da República para a glória do Paraná e do Brasil”.


Ave, pescadores!

E partiram serenas as canoas.
Frágeis madeiros. Rude trajetória.
Almas ao mar afeitas, simples boas.
Levavam no seu bojo, rumo a Glória.

É mais um fasto para nossa história:
Sobre o dorso das ondas, como leoas,
Edificaram, rígida, marmórea,
Essa epopeia, entre bênçãos e loas.

Pulsos de pescadores, férreos pulsos
Dez corações enormes de patriotas.
Fremindo de heroísmo aos são impulsos.

O velho mar, que urros de fera dá.
Certo espalhou pelo ar festivas notas,
Caminho abrindo a heróis do Paraná.
(Otávio Sidnei – Ctba, 25.9.1922)

          Foram recebidos na Capital por Rui Barbosa, pelo Presidente Epitácio Pessoa, além dos Ministro da Marinha, do Inspetor de Portos e do Presidente do Estado do Paraná Dr. Caetano Munhoz da Rocha. O Congresso Nacional concedeu a todos a premiação de 200 contos de réis.
Mais tarde, já em solo paranaense, também recepcionados pelo Presidente do Estado do Paraná, o Dr. Caetano Munhoz da Rocha, recebendo do Estado a premiação de 6 contos de réis.
POR QUE CONTO ESTA HISTÓRIA?

            O ‘patrão’ da canoa “Paraná” nesta jornada cívica era Joaquim Tigre.
        Joaquim Mariano Fernandes, o “Joaquim Tigre” é nosso conterrâneo, nascido no Varadouro (ainda que à época pertencente à Paranaguá), em 21 de outubro de 1869, filho de Francisco Fernandes e Agostinha Fernandes.
Em Paranaguá, para onde foi residir profissionalmente ocupou funções de Mestre de rebocador de portos, rios e canais, Mestre de chatas; Já em Santa Catarina, onde também trabalhou, foi Mestre de draga. Retornando a Paranaguá em 1917, ocupou a função de Prático da Barra - Patrono da Praticagem.

Em 1932, heroico novamente, salvou a vida de 155 pessoas, passageiras do navio Maria Madalena, assolado em tempestade, encalhando em banco de areia, porém, resultado deste penoso trabalho de salvatagem naquele dia frio e chuvoso, adoeceu de pneumonia e faleceu três meses depois.

“é pois Joaquim Tigre um dos grandes vultos não só da cidade litorânea que lhe serviu de berço, como do Paraná e do Brasil. Ele merece muito mais do que ser patrono de uma rua”. (NICOLAS, 1964, p. 70).

Em homenagem há uma rua em Paranaguá levando seu nome; O conterrâneo Profº. Waldomiro Ferreira escreveu seus nomes nos anais da história; Sirva também esta postagem como a recordar grandes homens de nossa história, mas em Guaraqueçaba, aqui não! Em Guaraqueçaba ainda vai levar tempo para nossos gestores valorizarem nossa própria história. É lastimável.

Joaquim Tigre é o segundo, de pé, da esquerda para a direita, ao lado de Barra Velha (a sua esquerda)


Referencial:
       Revista O Itiberê, nº42, outubro de 1922.
       FREITAS, Waldomiro Ferreira. Paranaguá das origens a atualidade. Paranaguá: IHGP, 1999.
       NICOLAS, Maria. Almas das Ruas de Paranaguá. 4º fascículo. Curitiba, 1964.
       Revista Rumos Práticos Ano IX, numero 23 - out/2007 a jan/2008. Disponível no site: <https://pt.scribd.com/document/220180168/Revista-Rumos-23-pdf>.