1 de setembro de 2015

Verão da Lata - a maconha espalhada pelo litoral...

Setembro... 1987! Verão... 
        Tempos inesquecíveis para muitos habitantes das zonas costeiras do Brasil, principalmente no litoral de RJ, SP, PR e RS... como ouvi falar das latas de leite pela praia... como surgiram visitantes inesperados e nunca visto em nossas praias...
        O navio panamenho Solana Star, partindo da Áustrália, com escala em Cingapura, rumava em direção ao E.U.A, com carregamento estimado em 20 mil latas de suco de frutas ou leite, como por aqui diziam.
        Faria uma escala no Rio de Janeiro antes de seguir viagem...

    Até ai tudo bem, se a Polícia Federal do RJ não tivesse sido informada sobre tal carregamento suspeito...
        A agência anti-drogas norte-americana, seguia o navio até que este adentrasse as águas brasileiras, quando então o interceptaria a Polícia Federal Brasileira, mas os traficantes a bordo, se passando por marinheiros, sabendo da ação que resultaria na apreensão do carregamento e suas consecutivas prisões, tiveram uma atitude inesperada, ao menos para o cozinheiro, único realmente marinheiro, contratado, e que ao final o único que vai ser preso, julgado e condenado...  

        A tripulação começa a jogar no mar as latas (1Kg) de alumínio, fechadas a vácuo... centenas, milhares de latas de leite são despejadas no mar. A Marinha do Brasil ainda conseguiu recuperar algumas, mas a grande maioria foram levado pelas correntes marinhas às mais diversas praias do litoral brasileiro, gerando ‘euforia’, logo após descoberto o conteúdo das latas: maconha de qualidade jamais experimentada no Brasil.
       
        O fato está registrado, inclusive, na biografia de Tim Maia:

[...] no início do verão de 1987, com o Rio de Janeiro vivendo uma de suas piores secas de maconha, Tim receberia uma das melhores notícias de sua vida: o cargueiro Solana Star, vindo da Tailândia, tinha encalhado em Angra dos Reis e liberado no mar a sua carga de 14 toneladas de maconha prensada, em latas cilíndricas de dois quilos [...] Os pescadores começaram a vender as latas, centenas delas, a preço de banana. Os surfistas, grandes consumidores, saíram na frente e se lançaram ao mar. Apesar das recomendações ao seu secretário para comprar “todas que pudesse”, Tim teve que se contentar com três latas, apenas seis quilos de maconha. E comprou um binóculo. Passava um bom tempo na varanda do apartamento olhando o mar da Barra e, caso visse alguma coisa brilhando, começava a gritar. Apesar de toda vigilância, nenhuma lata foi capturada. Era impossível competir com os surfistas, que ou fumavam tudo ou vendiam pelo dobro do preço dos pescadores. Nunca houve tanta maconha, tão boa e tão barata no Rio de Janeiro. Era tal a sua qualidade que inspirou a gíria “da lata” para alguma coisa muito especial.


        Foi um tempo em que todos se lançavam ao mar procurando um brilho que denunciasse as latas... alugavam barcos a procurar tal latas... compravam dos pescadores... Era o Verão das Latas. 

         Acostando em boa parte das praias do Brasil, inclusive em Superagui e Barra de Ararapira. Desconhecendo a serventia de tal produto, as latas foram recolhidas ao monte, por estas praias e estocadas nas casas de muitos pescadores.
        Logo, esta região também tornou-se roteiro de traficantes, procurando entre os moradores e comprando, também daqueles que descobriram o valor comercial do produto.. Houve inclusive alguns dizendo ser 'policiais', recolhendo as latas com os moradores.
        passavam todo dia, pessoas estranhas, dizendo ser 'policial' e recolhendo as latas...
        Como de maior qualidade que as drogas vendidas no Brasil, logo a alcunha “esta é da lata” tornou-se sinônimo de cannabis sativa de boa procedência e qualidade...
        Dizem, ainda, que alguns a esconderam aos montes, esperando o aumento do valor comercial, porém, ficaram amedrontados quando a polícia passou a procurar as latas pelas praias, com medo de serem presos, abandonaram as latas, escondidas... o tesouro é de quem as achar?

 
o trágico final do navio Solana Star
        Conforme History, o "Solana" nasceu em 1973 como Foo Lang, foi rebatizado para Geraldtown Endeavour, em 1980, virou Solana Star em 1986, e ganhou o nome de Charles Henri ao ser leiloado pelas autoridades brasileiras. Após, recebeu dos novos donos o nome de Tunamar, atuando como pesqueiro, partindo de Niterói para Santa Catarina, naufragando no dia 11 de outubro de 1994, na região de Arraial do Cabo, no litoral fluminense, quando 11 dos 22 tripulantes morreram, nove ainda estão desaparecidos no interior do navio.
 VER: Mergulho no Tunamar: https://www.youtube.com/watch?v=ZsDCeytbS-c

        O caso Verão das Latas batizou algumas bandas, como a de Renato Rocha, depois que saiu do Legião Urbana, também virou marchinha de carnaval, livros, documentários, músicas, como "veneno na lata", de Fernanda Abreu, além de outros produtos como camisetas, fazem referência ao episódio.

History Logo 
Há um dossiê completo no HISTORY
1: http://www.seuhistory.com/videos/verao-da-lata-especial-completo-parte-1
2: http://seuhistory.com/videos/verao-da-lata-especial-completo-parte-2
3: http://seuhistory.com/videos/verao-da-lata-especial-completo-parte-3

REFERENCIAL





vídeos/documentários:
"A lata - o verão da lata" - https://www.youtube.com/watch?v=23_10oe3k64
"A maconha da lata - 1988" - https://www.youtube.com/watch?v=t7vVNdjC4Gc
"Prog. Teledomingo relembra Solano Star" - https://www.youtube.com/watch?v=FqEXsi4FmMs
"Verão da Lata Solano Star" - https://www.youtube.com/watch?v=leP69V5Kv0g
        No Paraná foi lançado recentemente (2015) o doc. "Lata, chumbo e prata", dirigido por Pedro Merege e Estevan Silveira (https://www.youtube.com/watch?v=1RVU68GiDwM).
LIVROS:
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(acréscimo em 05/11/2016)
Lata, Chumbo e Prata
- assista o filme completo -