O Saci fandangueiro
Este personagem está presente em inúmeras histórias da tradição oral caiçara. Deus sôlivre se alguém tentasse arremedá-lo. Dizer que não ouviu ele cantar então, tá loco... Algumas vezes até ajudava os caiçaras pescarem muitos peixes, mas é claro, o maior tinha que ser dele. E não desse só pra ver! Teve um que até deu o filho pra ele apadrinhar. Certa vez deixou vovó surda por que esta disse não ouvir o seu associu fim-fim...
“Eu vi uma vez o saci no mangue” – assim jura seu João Alves Batista (In Memoriam), conhecido como João Buso, dizendo que certa vez o saci varou a canoa do seu tio num baixio, lá pros lados da Ilha das Gamelas, em Guaraqueçaba, onde habitava. Muito consciente do que tinha visto, falava: "o saci é um negrinho pitoco, usa um cachimbinho e não tem uma perna, olhe não sei quem tirou aquela perna dele, mas que ele gosta de fandango, hô rapaz".
Existia uma família que morava num local retirado em determinada comunidade, pras bandas de Guaraqueçaba, como lembrou Mestre Eugênio dos Santos (In Memoriam) e o pai, pescador, sempre levava o filho para o mar e este aos poucos ia aprendendo como pescar sozinho e os segredos do mar.
Certa vez foram, pai e filho, e este pequeno logo observou, longe, no barranco, um homenzinho que pulava, pulava e nas mãos tinha algo, como que a tocar um instrumento, sentadinho sobre uma pedra.
O menino sempre avisava o pai, mas este não dava muito interesse, se preocupava mais em puxar a rede, esperando muitos peixes. Houve um dia, porém, que ao avistar o homenzinho pulando, o menino berrou ao pai: "paiêêê" - e este resolveu olhar, avistando no barranco, exatamente como era descrito pelo filho.
Ao estranhar alguém por aquelas bandas, pois ali não tinha casa, foram ver quem era, do que se tratava, quem estava por ali, naqueles gestos como a tocar algo...
Terminaram de recolher a rede, nem retiraram os peixes, remaram pro barranco, encostaram a canoa e se aproximaram do local, se surpreendendo quando lá não encontraram ninguém, apenas uma viola feita de folha de Jaruvá, depositada em cima da pedra.
Seu Eugênio dos Santos (In Memoriam) jura que era a viola do Saci: “é sim, era o Saci. O Saci gosta muito de fandango e toca viola”.
reprodução da viola do saci confeccionada com capa de brejaúva/jaruvá
João Alves Batista, o João Buso (In Memoriam), conta que certa vez foi com seu pai, a remo, da Ilha das Gamelas, próximo a Ilha Rasa: "lá no Saco da Pedra", e enquanto o pai, depois de soltarem a rede, fora resolver alguns assuntos, ele ficou deitado na popa da canoa e como já tinham soltado a rede, apenas esperava o momento de recolhê-la. “Rapaz de Deus. Decapoco escutei aquele parapapa parapapa parapapa”, se assustando com tamanho barulho no meio do mato e logo perguntando ao pai quando este chegou na canoa. Não houve dúvidas, o pai logo confirmou: “esse aí? Vede é o saci dançando fandango”.
Anísio Pereira reproduziu a suposta viola deixada pelo saci
Existem outras histórias na tradição caiçara onde o sací, ou o pé redondo resolve aparecer, querendo levar umas meninas numa casca de amendoim, tocando muito bem sua viola, disputando com violeiros, etc... Conto outro dia.
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2: Tangará - o pássaro fandangueiro -
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Nossa cultura caiçara. . . Bom, bom!
ResponderExcluirBoa Zé!
ResponderExcluirSó não se atreva a tocar nessa violinha heim! srsrsrsr
O roteiro para a peça já tem agora é só botar mão na massa!
Sempre enriquecendo nossa cultura...Parabéns!
Amanheeeeeeccccceeee
Legal Zé!
ResponderExcluirEssa do pé redondo querendo leva as meninas na casca de amendoim deve ser boa, hoje elas estão mais exigentes, só saem se for de carro!
Brincadeiras a parte, um forte abraço querido!