4 de novembro de 2014

Francisco Kirimaco Timóteo - a liderança Guarani

        Em outra postagem (http://informativo-nossopixirum.blogspot.com.br/2010/04/mbya-guarani-tekoa-kuaray-guara-pora.html ) já havia escrito sobre os Mbyás Guaranis do Tekoá Kuaray Guata Porã.

        Nesta semana recebi a notícia do falecimento, pelo dia 8 ou 9 de outubro, do Cacique e grande líder Guarani Seu Francisco, que muito lutou no Brasil e países vizinhos pelos direitos Guaranis às terras.

        Os Guaranis que vivem no litoral do Paraná, nas regiões de Paranaguá e Guaraqueçaba identificam-se como Mbyá, um dos três grupos Guarani que vivem hoje no Brasil (Ñandewa ou Avá-Xiripá e Kaiowá são os outros dois). Segundo LADEIRA (1994), Mbya foi traduzido como ―muita gente num só lugar.
 
        Estão localizados nos estados do Espírito Santo, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins, além da Argentina, Paraguai, totalizando cerca de 6.000 (2003) indígenas e vivem em busca da ―Terra sem males (yvy marãe‘y), situada a leste, onde tudo cresce e nada morre lugar de vida eterna. Nesta crença se justifica a migração dos M‘byás Guaranis sempre pelo leste do Brasil, em grandes caminhadas, recriando e recuperando sua tradição em um novo lugar.
 
 

        Na região Guaraqueçaba houve migrações Guaranis primeiramente na Ilha da Pescada, pelo próprio Sr. Francisco, depois para o Campo da Aviação e Cerco Grande. Também houve uma tentativa no Morro das Pacas, em Superagui, no Tekoa Porã (cerca de 10 famílias lideradas pelo Guarani Alcides), foram expulsos (judicialmente), pois aquela terra é Parque Nacional.

 

        Francisco Karai Jejokó Timóteo (conhecido também como Kirimako/Crimaco) foi o primeiro Guarani a se estabelecer nesta região. Seu Francisco, nascido na Argentina, seguindo orientação na crença Mbyá inicia sua andança em busca da terra sem males...
 

 
... exercendo sua liderança, esteve em vários Tekoás fazendo mediação em conflitos pela terra, principalmente em Santa Maria, Serra Canoa (por oito anos), Santa Rosa, Porto Alegre. Novamente para Argentina, Canta Galo, Morro do Cavalo (visitar o irmão Hilário, que recém mudara-se para Paranaguá), Paranaguá, Joinville, Piraí, Curitiba, Itariri/SP, Brasília, Rio Branco, Iguape, Cananéia, Paranaguá e Guaraqueçaba (por volta de 1985);
   

        Em alguns desses lugares visitando os familiares em outros atuando como liderança em demarcações de terras para grupo indígenas, etc... Chegando em Guaraqueçaba, os Mbyá logo fixaram algumas moradias no Campo da Aviação (década de 90, aproximadamente), porém, logo chegou o prefeito, policiais e representantes de Organizações Governamentais ligadas ao meio ambiente, com o firme propósito de expulsá-los daquele local, como lembra Crimaco, que criou ali uma resistência, insistindo que a terra pertencia a seu povo, afirmando que o próprio nome da cidade deriva de sua língua e assim sendo, tinha direito em morar ali. Ali desenvolveria seu - nandereko - modo de ser guarani.

 

antigo Tekoá em Ilha da Pescada/Guaraqueçaba Seu Francisco recebe visita de missionários cristãos

 
        Do Campo da Aviação, se transferem então para o Cerco Grande (de outro lado do  rio do mesmo nome), onde se encontram, com terras ainda em situação jurídica de IDENTIFICAÇÃO, tendo como documento a Portaria 615, publicada em 12/06/2008, compreendendo uma área de 201.891 hectares (IBGE) e população estimada em 62 pessoas (2007), 40 pessoas/12 famílias (2010).
 
        Na instância municipal a posse destas terras foi somente oficializada pelo Decreto Municipal 640/2008, criado em 30 de novembro de 2008, totalizando uma área de 27 hectares.
 
        Esta área batizaram de Tekoa Kuaray Guata Porã (belo caminho do sol), que segundo LADEIRA (1992, 97), Tekoa, se refere: modo de ser, de estar. Sistema, lei, cultura, norma, comportamento, costumes. Seria, pois o lugar onde existem as condições de se exercer o "modo de ser Guarani". Lugar que reúne condições físicas (geográficas e ecológicas) e estratégicas que permitem compor, a partir de uma família extensa com chefia espiritual própria, um espaço político-social fundamentado na religião e na agricultura de subsistência.
 
 

SABER MAIS SOBRE A TRAJETÓRIA DE CACIQUE FRANCISCO

        ETHOS E MOVIMENTO: Um estudo sobre a mobilidade e organização social Mbyá Guarani no litoral sul do Brasil


        LADEIRA, Maria Inês. “Espaço Mbya entre as águas ou o caminho aos céus” - Os Índios Guarani e as Ilhas do Paraná.

3 comentários:

  1. Parabéns pelo blog e por essa postagem Zé Muniz. Kirimako realmente foi uma pessoa diferenciada. Grande xeramoi!

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    1. Estaremos ainda neste mês entregando o Projeto de Lei para a criação em GUARAQUEÇABA da Semana da Cultura Indígena...a data escolhida é o aniversário de nascimento de Kirimako...

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    2. Ótima iniciativa Zé, linda homenagem ao grande xeramoi!

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