16 de dezembro de 2011

Vamos pescar compadre...




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foto: direitos reservados


foto: Zé Muniz


“A lua cheia ou nova corresponde na maré forte, à maré que puxa mais. Ela favorece a captura realizada com redes de caceio, de espera: os sedimentos marinhos, afetados pela corrente tornam a água “suja”, preta, que impede ao peixe adivinhar a presença do obstáculo. Ao contrário, com a maré de quarto, a água fica limpa, e “o peixe vê a rede de longe”. Essa época torna-se favorável à pesca de linha, na medida em que a clareza das águas permite ao peixe ver a isca. Segundo os pescadores, com a maré de quarto “o peixe fica lá fora, porque não tem força da água”, enquanto a maré da lua, com a qual “a maré puxa mais”, facilita a entrada do peixe no estuário. Os dados recolhidos em Ilha das Peças, sobre o ciclo interno da pesca, exigem maior aprofundamento. Na pesca do camarão com a tarrafinha, a lua também atua com papel importante. Na parada da maré, “o camarão se enterra na lama”, enquanto com a enchente e a vazante, a corrente “faz sair a comida” e corresponde ao momento do dia, mais favorável ao uso desse apetrecho. Do mesmo modo, já se apontou o fato de a corrente servir como meio de navegação da canoa. Assim, só com o movimento da corrente fica possível o arrastão do camarão com a tarrafinha. Os ventos também são atuantes na pesca. Segundo os informantes, o Leste e Norte–Leste seriam os melhores ventos para a pesca, particularmente para espécies tais como camarão, miraguaia, bagre, parati. Os ventos Oeste e Sul-Oeste, ao contrário trazem dificuldades como “Oeste, o Sul-Oeste são ruim para nós”, diz assim um pescador de Ilha das Peças. No caso da pesca da tainha, existem características particulares: o vento Sul, que “faz correr a tainha”, chamado “rebojo”, é esperado com impaciência na época da safra. Ele condiciona a chegada dos cardumes pela costa, e as alterações que muitas vezes ocorrem, fazem com que os cardumes tendam a se dividir. Do mesmo modo, as chuvas, consideradas boas para a pesca da tainha minimizam a captura das outras espécies. Elas tornam a água do estuário mais salobra e fazem com que o peixe saia do estuário para encontrar condições adequadas a seu desenvolvimento”.
CUNHA.


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Arrasto de Fundo: Nesta modalidade, uma rede em forma de funil é arrastada pela embarcação, penetrando alguns cm no sedimento. As embarcações equipadas com tangones pescam com duas redes e contam com guincho para auxiliar na despesca. A prática é restrita ao mar aberto.
Prncipal captura: camarão sete-barbas, camarão-branco e camrão-rosa.

"a pesca é feita pela manhã: os pescadores saem para o mar por volta das 4 ou 5 horas e ficam arrastando até 9 ou 10 horas, quando retornam para terra; Se é uma pesca compensadora, eventualmente voltam a tarde. O arrasto do camarão exige tempo bom, não podendo ser realizada com mar "crespo", por ser perigoso, pois a canoa pode "alagar-se". Uma rede de prancha mede mais ou menos 6 metros, ou cerca de 4 braças na unidade de medida do pescador, sendo feita em malha miúda, número 5".
KRAEMER.

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Arrastão de Praia: È a prática mais tradicional da região do litoral paranaense. Utiliza-se rede de emalhe, onde uma das pontas permanece na praia, enquanto a outra é levada por uma canoa (a remo ou motor) para cercar o cardume, e depois puxada para a praia. É considerada uma prática em extinção no Paraná, sendo que em Pontal do Sul (município de Pontal do Paraná) concentram-se boa parte dos pescadores que ainda dedica a esse tipo de pesca.
Principal captura: tainhas, pescadas, corvinas, paratis e robalos.


"uma das pescas mais conhecidas no litoral paranaense é a pesca da tainha. Utiliza-se para este fim, a rede de arrastão. Toda a população participa dela: homens, mulheres e crianças. Os mais moços e fortes fazem o trabalho de levar a canoa a remo até o cardume envolvendo-o com a rede. Vão de quatro ou cinco pescadores. Os mais velhos, as mulheres e as crianças ficam na praia, puxando a rede... Uma rede de tainha mede cerca de 300 metros (200 e poucas braças), tendo malha número 07".
KRAEMER.

        Neste mesmo modelo, existe a pesca com a rede de cabo, onde duas canoas, cada uma segurando uma ponta do cabo da rede, completam um círculo, aprisionando os peixes que dentro dela ficarem. A pesca de Facheiro (quando um fica na praia com um facho de luz, a noite, enquanto o companheiro pesca) – com a rede Feiticeira – de Camboa (cada pescador segura uma ponta da rede, um na praia e o outro faz o cerco, próximo a praia) – Empalama (finca-se a rede numa extremidade da praia e o pescador com a outra ponta fecha um cerco em cardumes).
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Caceio: O caceio consiste em deixar à deriva uma rede de emalhar com formato retangular, a qual pode ou não permanecer fixada à embarcação. As redes podem derivar pela superfície (“Caceio Boiado”) ou pelo fundo (“caceio de fundo”).
Principal captura: Camarão-Branco, pescadas, cações, tainhas, cavalas, salteiras e corvinas.

"a rede de caceio, que de acordo com a malaha, serve para matar desde peixes miúdos como o parati té peixes grandes como o cação ou a cavala, também conhecida como sororoca, é uma rede que mede cerca de 300 metros (200 e poucas braças, segundo um pescador)... Para cacear, o pescador sai de casa às 3 horas da madrugada. Chega no pesqueiro as 4. Espera a rede emalhar os peixes durante pelo menos uma hora, quando, então, puxa a rede para a canoa e recolhe os peixes capturados".
KRAEMER.


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Fundeio: O fundeio consiste em dispor uma rede retangular de forma que ela permaneça relativamente imóvel, rente ao fundo do mar. Os pescadores lançam a rede e, normalmente no dia seguinte, retornam para realizar a despesca.
Principais capturas: Linguado, corvinas, salteiras, betaras, cações, bagres e pescadas.
 
"A rede de fundeio, ou de espera, serve para matar qualquer qualidade de peixe, dependendo do tamanho da malha (número 9, 10 ou 12). Seu comprimento também é variável de acordo com as posses do pescador. São  compostas de vários panos, variando assim o seu tamanho. As grandes são mais eficientes, e tem maiores possibilidades de emalhar o peixe. Existem redes de fundeio que medem até 800 metros, porém as mais comuns são de 400 a 500 metros".
KRAEMER.

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Cerco Fixo: Confeccionado com taquaras, em forma de paliçada, armadas em estacas de madeira de mangue. A estrutura é estendida das margens dos mangues até vários metros para dentro de um canal ou baia, funcionando como armadilha ou curral de peixes. É acessado por canoa a remo e outros tipos de barco a motor de pequeno porte. Atualmente seu uso não é permitido no litoral paranaense.
Principais capturas: tainha, parati, robalo e sardinha-charuto.

construindo Cerco - comunidade de Barra de Ararapira (2004)
foto: Zé Muniz

        O Cerco (é feita uma grande cerca de bambú, armada e visitada a cada 15 dias) para matar Tainha, feito então no mês de maio a agosto, sendo o mês de junho, a época da “Corrida da Tainha” (época de abundância), que também é capturada pelo “Arrasto de Praia”, usada também usada na captura de outras espécies como o parati.



fotos: VON BEHR

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Espinhel: consiste na utilização de um longo cabo (madre), de onde saem cabos mais curtos com uma sequencia de anzóis. Nas extremidades da madre podem haver bóias e/ou poitas que fixam o espinhel no local do pesqueiro. É dirigido para espécies de fundo do interior das baías.
Principla captura: badejo, garoupa, caranha, bagres, miraguaia, salteiras, cações, corvina e pescada.
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Tarrafa: A tarrafa é bastante difundida no interior das baias, sendo lançada de canoas ou das praias de dentro das baias. São utilizados diferentes tamanhos de malhas, que variam entre 2 a 18 cm entre nós opostos.
Principais capturas: tainha, garoupa, manjubas, pescadas, robalos, sardinhas e camarões.


foto: VON BEHR.


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Gerival: também é denominada de arrastãozinho ou tarrafinha. É uma modificação da tarrafa de arremesso para servir de rede de arrasto de travessão, com cerca de 2 a 3 braças de boca (3 a 5 metros). Trabalha-se com dois tamanhos de malha: 1,5 (proibido) e 2,5 cm entre nós opostos. É amplamente difundido nas baias paranaenses.
Principal captura: Camarão-branco no interior das baias.

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        Os remos eram confeccionados principalmente com madeiras como a Pimenteira, Maçaranduba, Canela-Poca, Tabocuva ou Guamirim. Já as redes, eram feitas com fibras vegetais que podiam ser de Embaúba –Branca ou folhas de Tucum, que depois de transformadas eram banhadas em tintura de Arroeira, Canapuva ou Jacatirão. Depois de pronta, esperava-se a maré de lua (07 dias), colocava no varal para secar no sol. Hoje não se confecciona a bóia de cortiça, não se usa mais a de “porungo”, o chumbeiro já não é mais de barro, o fio de algodão tingido de Arroeira, para não apodrecer na água, etc...
       
        O “Engodo”, era uma espécie de isca, preparada com peixe cozido, alfavaca e depois misturado com barro, jogado no mar, espera-se o cardume se juntar para comer e depois joga-se a tarrafa em cima. Amarrava-se a proa da canoa numa vara, a popa noutra, jogam bolos (mistura de argila com sardinha cozida) de engodo no mar e tarrafa em cima.



        Há ainda armadilhas para pesca como o "Covo" para pescar na água corrente, ideal para rios; Puçá para pegar siri, Gaiola para a pesca de baiacú, o uso do "Samburá", espécie de cesto para guardar n'água o camarão vivo.

Sr. Izidoro Gonçalves (Comunidade de Utinga) e o "Covo" que construira.
foto: Débora Pontes do carmo

REDE DE FILÓ
      " a rede de filó, com malha de 2 a 3 mm, é usada na captura de pós-larvas e juvenis de manjuba, localmente conhecido como iriko, quando capturados nos tamanhos zero, um e dois". VON BEHR.



fotos: VON BEHR.

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 O ESPIA NA PESCA DA TAINHA 


“ as vezes quando dá peixe a gente espia desde as seis horas da manhã até as seis horas da tarde, leva o dia inteiro espiando. A gente vê pela aguage dela, né. Ela faz aguage no mar. Ela pula também. Lá daquele rio a gente pra trás enxerga ela aqui ó... Dá pra saber a quantidade do peixe pela aguage do peixe. A aguage é quando ela balanceia na água, o vanzeiro dela, porque e gente conhece ela se é bastante, se é pouco, né. O vanzeiro é assim, ele mexe na água o peixe. O vanzeiro é uma onda, uma ondinha que eles fazem. A onda do mar é diferente da aguage do peixe. Ás vezes ela salta também... O espia tem que fica lá na canoa, não come nada. Quando a gente vê a tainha a gente grita lá. Tem um grito especial ‘EEEEEEEEEE...’. O grito eles conhecem já. Aí corre todo mundo lá, põe a canoa e vão cercar o peixe. A gente aponta e eles sabem já. (Sabastião Ramos – Maciel).
CORRÊA.
fotos: Macaxeira. IN: CORRÊA.

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REFERÊNCIAS:
Todos os desenhos de tipos de pesca são retirados do cartaz sobre "Pesca e tipos de embarcação" em exposição no curso "Levando o litoral paranaense para sala de aula", ministrado pelo Projeto Ribemar - Ong Mar Brasil.

CORRÊA, Marco Fábio Maia. A pesca artesanal da tainha no litoral do Estado do paraná. Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura, 1993.

CUNHA. Lúcia Helena De Oliveira (Coord). Comunidades litorâneas e Unidades de Proteção Ambiental: Convivência e conflitos - O caso de Guaraqueçaba, Paraná”. NUPAUB - Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras. Universidade de São Paulo. São Paulo.

KRAEMER, Marília de Carvalho. Malhas da pobreza: exploração do trabalho de pescadores artesanais na baía de Paranaguá. Editora Lítero Técnica

VON BEHR, Miguel. Guaraqueçaba. São Paulo: Empresa das Artes, 1997.

Débora Pontes do Carmo, aluna da rede pública, Colégio Estadual Marcílio Dias, participante do programa Universidade Sem Fronteira – SETI, Governo do Paraná, UFPR Litoral, no projeto “Traços culturais das comunidades tradicionais do litoral do Paraná e resistência frente ao avanço da modernização expropriatória impulsionada pelo capital”, no ano de 2009/2010.

Os trechos de vídeos são reprodução do vídeo "Terra do Mar" de Eduardo Caron e Mirella Martinelli. 1997. Recuperados de VHS e utilizados didaticamente para fins educacionais.

6 comentários:

  1. Muito legal sua matéria sobre os tipos de pesca Zé! Dá saudades da praia deserta. Só faltou o cambau. hehehe

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  2. Muito bacana, Zé... aprendi um pouco mais...

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  3. Bela foto. E para os que gostam de tarrafa, aprendam a fazer a sua no blog http://tarrafadepesca.blogspot.com.br

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  4. Excelente post. Parabens

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  5. Muito interessante! Fiquei curiosa por saber mais sobre o Sr. Izidoro Gonçalves (Comunidade de Utinga) e a confecção dos covos!

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