7 de setembro de 2011

Eugênio dos Santos - o Mestre do Fandango Caiçara

“Fandango - A tradição do respeito estava naquele lugar”.

fragmento do vídeo: Museu Vivo do Fandango
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Mestre Eugênio em 1965
acervo: PINTO, Inami Custódio.
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Mestre Eugênio
acervo: Projeto Tocadores (Página 254)
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        Eugênio dos Santos nasceu no Rio do Cerco ou Cerco Grande em Guaraqueçaba no ano de 1926. No começo deste ano, em conversa com o Mestre, nas suas palavras sempre tocava no "Cerco Grande querido, o lugar onde nasci", como cantava em belos poemas seus conterrâneo e amigo Pedro Nilo Nascimento (In memorian). Meste Eugênio amava este cantinho de Guaraqueçaba, grande em sua época de moço, porém agora sem nenhuma visinhança, habitado apenas pelos indígenas M'byá Guarani. e dizia Mestre Eugênio, ser ali, o início da devoção a Nossa Senhora do Rocio e o berço dos grandes fandangueiros de Guaraqueçaba, onde todo sábado, havia uma colheita ou um plantio, havia então um fandango e um dos violeios mais requisitados para os bailes, claro, "Chamem Seu Eugênio", ofício que aprendera com seu pai Domingos Severino.

        Assim foi durante anos... iniciou seu estudo na vila, seu primeiro namorico... há quantas vezes me contou deste caso... O destino se encarregou de os separar, e por causa de um fandango... Houve um desentendimento num fandango em Ilha Rasa, alguns, entre eles Eugênio tiveram que dar explicações para o delegado, mesmo sem ser envolvido.

"dondom, dondom / dondom o amor é meu
seu eu fico / ela vai s'imbora
quer perde o amor sou eu"

        De boa família, educado, preferiu ir tentar a vida em Paranaguá, meio decepcionado com o desenrolar daqueles acontecimentos e nessa mudança, não pode lhe acompanhar sua namorada, de quem nunca esqueceu e sempre me perguntava, desde o dia que o conheci, num Fandango Subindo a Serra e ele sou que eu era de Guaraqueçaba, já me perguntou se ha conhecia...

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Mestre Eugênio, Miguel Martins e Aramis Alves
acervo: Projeto Tocadores
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        Em Paranaguá, nova vida, emprego no porto, um dos fundadores do bairro Sete de Setembro, inclusive, dizia-me, a nomeação do bairro veio de sua cabeça, "ideia minha". Casamento, filhos, sem nunca abandonar a paixão pelo fandango caiçara, inicia a continuidade desta tradição e Ilha dos Valadares... Certa vez até a polícia apareceu por lá, pedindo que parassem a a "bagunça", pois algum vizinho teria reclamado.
Mestre Eugênio
acervo: Projeto Museu Vivo do Fandango.
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       A persistência e a paixão não permitiram que parasse e continuou, montando grupos, a tão sonhada Casa do Fandango, apresentações pelo Brasil afora, o reconhecimento internacional, enfim, UM GRANDE EXEMPLO.

Casa do Fandango
acervo: Museu Vivo do Fandango
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Inami Custódio Pinto, Roberval de Freitas, Mestre Eugênio e Romão Costa – 1975 - início da Casa do Fandango (quintal de seu Romão).
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Fragmento do documentário "Fandango Sobindo a Serra II"
Coordenação: Maria de Lourdes da Silva Britto.
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        Em 2003, viajou por várias cidades brasileiras apresentando o espetáculo "Mestre Eugênio e tocadores de Paranaguá" através do Projeto Sonora Brasil, realizado pelo Departamento Nacional do SESC.  
      2005, participa como palestrante no Seminário Nacional de Políticas Públicas para Culturas Populares, em Brasília.
       2006, recebe (representado pela neta) das mãos do Presidente Lula e Ministro da Cultura, a Comenda da Ordem do Mérito Cultural.
        2008, recebe do Ministério da Cultura/Secretaria da Diversidade Cultural o Prêmio Culturas Populares "Mestre Humberto Maracanã.
       Num desses carnavais, a Escola de Samba União da Ilha/Ilha de Valadares, com samba enredo homenageando o Fandango, leva Mestre Eugênio a desfilar na avenida, mostando, orgulhoso, a Medalha que recebera do Mérito Cultural.
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       A última vez que o ví num palco, que honra para mim, pude estar ao seu lado, quando nós (Fâmulos de Bonifrates) o acompanhamos numa violada em Campo Largo, num evento "Estética e Poesia" a pedido deRejane Nóbrega. Depois o levei em sua casa, Bairro Sete de Setembro, Ilha dos Valadares; Mais histórias.............
MESTRE EUGÊNIO FALECEU NESTE ÚLTIMO DOMINGO DIA 4 DE SETEMBRO DE 2011.

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O Saci fandangueiro - contava Mestre Eugênio, que existia uma família, moradora em um local retirado, numa determinada comunidade; O pai, pescador, sempre levava o filho para o mar e este aos poucos ia aprendendo os saberes da pesca artesanal. Certa vez, o garoto, ao ajudar o pai no mar, observou, longe, no barranco, um homenzinho que pulava, pulava e nas mãos tinha algo, como que a tocar um instrumento sentado numa pedra. O menino sempre avisava o pai, mas este não dava muito interesse, se preocupava mais em puxar a rede e a esperar muitos peixes. Houve um dia, porém, que ao avistar o homenzinho pulando, o menino berrou ao pai: “Paaaiiiiii” - e este resolveu olhar, avistando no barranco, exatamente como era descrito pelo filho. Ao estranhar alguém por aquelas bandas, pois ali não residia ninguém, foram ver quem era, do que se tratava. Terminaram de recolher a rede, nem retiraram os peixes, remaram pro barranco, encostaram a canoa e se aproximaram do local, se surpreendendo quando lá não encontraram ninguém, apenas uma viola feita de folha de Jaruvá, em cima da pedra.
Seu Eugênio dos Santos, jura que era a viola do Saci: “é sim, era o Saci. O Saci gosta muito de fandango e toca viola”.

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Grupo de Fandango da Ilha dos Valadares
acervo: Eduardo Guimarães. IN: NOVAK, Patrícia.
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foto: Rose Brasil/Agência Brasil

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BIBLIOGRAFIA
BRITO, Maria de Lourdes. Fandango de Mutirão. Curitiba: Editora Gráfica Mileart, 2003.
CORREA, Joana. PIMENTEL, Alexandre, GRAMANI, Daniella (org). Museu Vivo do Fandango. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2006. 
MARCHI, Lia. Tocadores homem, terra, música e cordas. Olaria Projetos de Arte e educação, 2002.
MUNIZ, José Carlos. Fandango na alma caiçara. Obra inédita, do autor.
NOVAK, Patrícia. Fandango paranaense da Ilha dos Valadares: uma manifestação caiçara. Curitiba: Imprensa Oficial, 2005.
PINTO, Inami Custódio. Zélia Bonamigo e Jorge Queiroz e Silva (orgs). Folclore no Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial, 2006.

CD
1 - Ô! de casa! Carrigo / Mestre Eugênio e fandangueiros da Ilha dos Valadares. Produção MCA Movimento Cultural Afandangado.
2 - Viola Fandanguera. Grupo Viola Quebrada.
3 - Cantos de Festa e de Fé. Tradições musicais paranaense. Série Cultura Popular Viola Correa. Roberto Correa.
4 - Museu Vivo do Fandango. Associação Cultural Caburé.

VÍDEO
1 - Fandango Subindo a Serra. Coordenação de Maria de Loudes da Silva Brito.
2 - Museu Vivo do Fandango.

BLOG Fandango do Paraná:

4 comentários:

  1. inestimavel perda pra cultura popular do litoral do Paraná....que seus versos se perpetuem na voz nas próximas gerações.....

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  2. Zé, linda homenagem ao Seu Eugênio. Um grande abraço para você.

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  3. Que .....saudades !
    .... a gente pensa que a presença das pessoas são para sempre, embora sejam imortais.
    Zé Obrigada,
    Um baraço e meu pesar aos familiares, e aos aprese-ciadores do bom fandango.

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  4. Valeu Zé,foi ali na casa do fandango do Mestre Eugênio que começou aminha paixão pelo fandango,agora nos resta só a saudade.

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