20 de fevereiro de 2011

um adufo silenciado. Um exemplo admirado. Faleceu Antônio Leotério, fandangueiro de Superagui

Com pesar que transmito a notícia do falecimento, nesta sexta-feira, dia 18 de fevereiro, do Sr. Antônio Leotério, fandangueiro do Superagui, como publicado no blog Fandango do Paraná (http://fandangodoparana.blogspot.com/), do amigo Marcos Maluceli.

Antônio Ramos ou Antônio Leotério, como era conhecido, nasceu na Barra de Ararapira, no ano de 1919 e junto com os quatro irmãos, aprenderam a tocar viola, se destancando nos fandangos.

Em Superagui, onde residia, era insubstituível, pois quando se escutava o rufar do Adufo, a certeza era única, Seu Antônio Leotério está lá. Era um mestre no rufar do adufo. E não perdia na viola também.

Sua contribuição está gravado nos Cd "Quebrando as tamancas" do fandango do Superagui, bem como no DVD "Superagui paraíso e fandango", além de infinitos e diversos vídeos, principalmente no youtube, retratando o fandango no Bar AKDOV em Superagui, e quem sempre estava por lá... Seu Antônio Leotério.

Cd Quebrando as tamancas

Antônio Leotério em Guaraqueçaba durante o II Encontro de Fandango (2008)
foto: Leco de Souza -II Encontro de Fandango
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No Bar AKDOV com o inseparável amigo Pedro Miranda
foto: Marcos Malucelli
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Vídeo no You Tube sobre Fandango em Superagui:
http://www.youtube.com/watch?v=Z7VqwlGeXI0

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É no BAR AKDOV que se reúnem fandangueiros de todas as partes para uma boa brincadeira. Quando lá estive pela última vez, a recepção foi ótima. Tocamos, dançamos, era uma alegria compartilhar com tão nobres fandangueiros daquele momento. Quão felizes estavam, fazendo o que gostam, se divertindo... Há e agradando os outros ainda.
Força amigos.
Pazzzzzzzzzz Leotério.

15 de fevereiro de 2011

PR 405 - a velha e esburacada estrada... Campanha de pavimentação, agora com cara e força nova

adesivo da campanha pela Associação dos Amigos de Guaraqueçaba
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foto: Ciciro Back
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Estrada da Redenção / PR 405

Barco Maralice - único meio de transporte
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        O acesso à Guaraqueçaba, até por volta de 1969, era apenas marítmo e na necessidade de chegar nas comunidades via terra, apenas subindo os rios, de canoa.

        Segue texto da Revista Panorama (número 181), na página "esta cidade agoniza", com texto de Carlos Roberto Maranhão e fotos de Dimitri Ochrimowicz:

        Domingo, sete horas da manhã. Faz calor em Paranaguá e Domingos Gomes engole às pressas uma média no bar do mercado. Pede licença e atravessa a rampa que o levará a “Maralice”, se conseguir abrir caminho entre as trinta pessoas que se amontoam e brigam por um lugar na fila. Domingos Gomes acordou às cinco e meia e nem teve de se despedir da mulher e dos cinco filhos, que ficaram dormindo no barraco de Valadares. Aquele era um dos três dias da semana em que ele é obrigado a madrugar, para chegar na hora certa na “Maralice” que, como faz há 10 anos, leva e trás de Guaraqueçaba. “Maralice” é uma velha lancha de quinze metros de comprimento com velocidade nunca superior a cinco milhas por hora. “velha, feia, vagarosa, mas bem que quebra o galho desse povinho todo”, conta Domingos, que se orgulha de ser o seu comandante. Trabalha para uma firma de Paranaguá, ganhando NCr 180,00, depois do último aumento. Nas horas vagas, faz “bico” numa oficina de barcos, o seu salário não é suficiente para sustentar a família. Já dentro da “Maralice”, cobra as passagens, mil cruzeiros antigos por pessoa, criança de menos de 10 anos paga só a ametade. Na fila, carregando duas cestas vazias, Antônio Batista pergunta que horas são. Está atrasado, tem encontro com um pescador em Guapitu, precisa cobrar umas contas antigas. – O senhor vai pra Guaraqueçaba, pois não? – quer saber uma senhora, à sua frente.- tá louca dona? Eu nasci naquilo lá. Só volto se abrirem a tal da estrada. Em caso contrário o que vou fazer naquela terrinha esquecida de Deus e dos Governos? Domingos dá um sorriso e continua cobrando as passagens. Ele também naseu em Guaraqueçaba e, como Antônio, só pretende voltar definitivamente quando abrirem a estrada. Tem um terreno pequeno no Costão e pretende construiir uma casinha, empregando suas economias”.
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        Em 1895, foram concedidos meios para construção de uma estrada ligando Guaraqueçaba a região de Itaporanga e Cananéia em São Paulo, sendo que até hoje não se sabe onde foram destinados esses recursos.
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        No ano de 1970, aproveitando um trecho já aberto nos anos de 1951, de Antonina até Tagaçaba – como planos do futuro trecho da BR 101, integrando os estados do Paraná e São Paulo, através daTrilha do Telégrafo, na comunidade de Batuva até a Colônia Santa Maria, em Cananéia/SP – o Governo do Paraná, Paulo Pimentel, autorizou o início da abertura da estrada até Guaraqueçaba.

       De Paranaguá, vieram as balsas trazendo as máquinas, escavadeiras, tratores (inclusive uma chegou a cair nágua, quando do desembarque; para sair da balsa, improvisaram pranchões de madeira. O fato, no comentário local, era que tudo acontecia para que o progresso não viesse, culpa da maldição - ver postagem lenda Guaraqueçabana: A maldição do carnaval). Foi uma grande festa. toda a população se reuniu no trapiche da Rua Boa Vista (Paula Miranda).

        E começaram as obras, sendo o primeiro veículo avistado pelo povo, trabalhando nas obras, um Ford 6000 da DER e seu motorista Sebastião de Oliveira Santos - em 18 de agosto de 1970.

       A Estrada da Redenção inaugurada em 20 de dezembro de 1970 com cerimônia acontecendo no Mirante Serra Negra (o marco da inauguração está completamente abandonado e as placas desaparecidas - inclusive divulgado como atração turística) às 11:00hs horas de domingo e depois em Guaraqueçaba, onde se registrou na placa comemorativa, os dizeres:

“ Com a inauguração desta pioneira estrada, esta rica região costeira se despede de século XVI para adentrar a moderna civilização do século XX”.

        O ônibus oficial - uma Escânia Vabis – nº 260, da Empresa Sul Americana, tinha 37 lugares, toalete, 204 cavalos de potência, sendo conduzido por Pedro Amaro, saiu de Paranaguá as 08:00hs da manhã, do dia 17 de dezembro de 1970, trazendo18 passageiros convidados, entre eles: Antônio Barbosa Sobrinho, Gabriel Ramos da Silva e Salim do Carmo.
        Na primeira parada em Tagaçaba, entraram Elieu e Alfredo Morais, Feliz de Souza, Waldemar Rita, Jovino Barbosa. Mais uma parada em Serra Negra, onde entraram Ester Joselmer, Frederico Rederd, Lois Wehelver, Waldemar Leichsering, Van Kolck e Lúcia Schefer.

A VIAGEM DO CAMINHÃO BONITO
        Os jornais da época traziam na manchete “A viagem do caminhão bonito”, se referindo as crianças, quando viram o ônibus e por apenas conhecerem os caminhões que trabalhavam na abertura da estrada, logo disseram se tratar de um “caminhão bonito”. O “caminhão bonito” foi acompanhado por um carro-socorro - uma Pick-Up dirigida pelo Inspetor da empresa o Sr. Elmo Schepanski.

        O povo de Guaraqueçaba, referia-se a colocação do nome da estrada como: Mário Andreazza (Ministro do Interior na presidência de João Batista Figueiredo e também Coronel do Exército) ou Paulo Pimentel (Governador do estado).
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Hino da inauguração da estrada
“Guaraqueçaba, Guaraqueçaba / teu abandono jé se acaba
Guaraqueçaba, Guaraqueçaba / rí e folga então neste estrada
acabou tua solidão.

Rí e folga a princesa esquecida / que até então prisioneira do mar
que vivia sem gosto da vida / seu futuro eterno ouvidar.

Era pobre e sozinha obscura / o seu povo que não sabia rir
um milagre se deu ao futuro / e o progresso que logo há de vir.

Vive agora o Rio Tagaçaba / Serra Negra desperta afinal
somos filhos também deste estado / merecemos também conviver”.
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com a colaboração de João Manoel Lopes (Néi) conseguimos recuperar mais dois outros versos deste hino:

Hojé é terra de amados avós / vinde todos a nos conhecer
somos filhos também deste Estado / merecemos também conviver.

E que seja bendita esta estrada / hoje obra de sua redenção
não será mais assim ouvidada / ela veio aclamar teu sertão
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Revista Paraná em Páginas trazendo na capa a reportagem
"começa neste setembro o asfaltamento da estrada cacatu-Guaraqueçaba"

 
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        Após a abertura da estrada, a mudança ocorreu logo, pois toda a vida das comunidades, então dependentes apenas do rio para transporte, escoamento de suas produções e demais necessidade, agora poderia ser feito pela estrada. O abandono da rota fluvial não demorou.
        Uma vez qua a estrada era muito precária, os pedidos agora eram de melhorias, asfalto, ainda que a população esteja muito dividida em relação a isso.

        No dia primeiro de maio de 1987, o governador Álvaro Dias, estando em Guaraqueçaba, reuniu o povo no Salão Paroquial e doou 10.000 Cruzados, para melhorias da cidade, prometendo o asfaltamento da estrada, com as obras iniciando em junho daquele ano.



        Em setembro de 1988, a Revista Paraná em Páginas (ano 24 / nº 283 – setembro 1988), trouxe como manchete na capa “Começa neste setembro asfaltamento da Estrada Cacatu – Guaraqueçaba”, justificando que a obra acabara de passar por um estudo ambiental e deveria ser asfaltada 05 km e esperar um ciclo hidrológico (chuvas durante um ano), para que a recuperação dos leitos seja analisada.

        Em fevereiro de 1998, o governador Jaime Lerner, esteve em Guaraqueçaba com o objetivo de inaugurar a Pedra Fundamental (num lugar lodoso, foi construída no mesmo dia uma praça) - para o calçamento da estrada, com imediato início das obras. Como não aconteceu, o povo apelidou a pedra fundamental de “Pedra da Mentira”, inclusive com a retirada da placa.
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2011
        O governador Beto Richa, ainda em campanha eleitoral, divulgou nos seus planos de governo a pavimentação ou melhoria da estrada de ligação a Guaraqueçaba, como segue:

• Estudar a viabilização da pavimentação do trecho Cacatu-Guaraqueçaba, com base no conceito “Eco-estrada”.
(VER: http://www.betoricha.com.br/temas/ver/32).

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PRÓS E CONTRAS
iniciou-se pela recém constituida Associação dos Amigos de Guaraqueçaba, um manifesto, recolhendo assinaturas para cobrar do governo ações de melhorias na estrada, como fora prometido.
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VEJA MAIS
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vídeo com imagens antigas de Guaraqueçaba, enfatizando o desembarque dos tratares que vieram em balsa de Paranaguá para iniciarem a abertura da estrada PR 405
FONTE:
Revista Paraná em Páginas. número 283. 1988
Revista Panorama. número 181.
MUNIZ, José Carlos. Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo. Inédito. livro do autor.