7 de agosto de 2010

"Tá perdendo companheiro" - Um pouco da vida de mestre Leonildo Pereira.

"Em nome de Deus começo
Com Deus quero começá
Sô muito chegado a Deus
Sem Deus não posso passá!”
(Verso tradicional do Fandango Caiçara).
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VEM COMIGO
foto: Guto Lelo

Leonildo Fidélis Pereira nasceu em Araçaúba, no município de Cananéia, em 1942, filho de Vicente José Pereira e Maria Augusta Pereira. Com apenas 15 dias foi com a família morar em Rio dos Patos, de onde só saiu recentemente para residir em Abacateiro, localidade onde se encontra com alguns filhos e filhas ao lado. Neste local possui uma “casa de fandango”, onde recebe amigos e visitantes, demonstrando sua cultura, vendendo seus instrumentos, contando histórias e possibilitando um baile de fandango... AMANHECE!

Abacateiro
foto: Guto Lelo
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Sobre Fandango:
“é uma coisa muito dos antigos. É coisa do meu avô já, daqui do nosso lugar mesmo. De repente chegava por lá um ou outro “viu o fandango é dos estrangeiros” e eu dizia “já mudou de novo?”, sempre tinha um dizendo que é de um e que é de outro. O Fandango é nosso gente, toda a verdade dizer, que é a nossa cultura gente”.
IN: MUNIZ, José Carlos.
 
foto: Guto lelo

“não tinha hora de descanso, se seis ficava prá lá, ficavam dançando e você via essa moçada, ou dez, porque tinha quarenta pessoas, quarenta homens naquele tempo de trabalho. Então, não acabava o fandango, até oito horas. Quando o patrão era bom, e que o povo gostava também, quando que ia amanhecendo ele fechava todas as portas, para que não visse o claro do dia, para o povo dançar é mais. Então quando eles já tavam cansados, ele abria a porta, era o quê? Oito, nove horas do dia. O fandango tava ali, mas o fandango era bonito! (...)”.
IN: PIMENTEL, Alexandre. GRAMANI, Daniella. CORRÊA, Joana.
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Rio dos Patos
foto: Macaxeira

Família Pereira em Rio dos Patos
foto: Macaxeira
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"No tempo em que estive no Saco do Rita, o único fandango batido com os tamancos que presenciei aconteceu na casa de seu Leonildo Pereira, no sítio de Abacateiro, localizado a uns trinta minutos de canoa à frente do Saco do Rita. Havia muito tempo que não se batia fandango na casa de seu Leonildo. Por ocasião da passagem por ali da expedição “Viagem de Canoa” organizou-se um fandango para os visitantes conhecerem os “costumes da região”. Seu Leonildo, juntamente com sua família, recebeu por volta de dezoito pessoas em sua casa como se fossem amigos de muito tempo, tocou rabeca, cantou e contou várias histórias. A noite avançou madrugada adentro em volta da fogueira, com seu Leonildo pronunciando várias sentenças, entre elas: “pois é cunhado (forma que usa para se referir aos camaradas), nós aqui somos tudo filho de Deus, nós temos alegria em receber gente de fora, porque aqui ninguém briga com ninguém, nós somos que nem um sítio, onde um quer ajudar o outro. Nós se acabamos, mas nosso fandango vai e não se acaba”.
IN: MARTINS, Patrícia.
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“...Eu tô plantando pros outros aprenderem, né...Eu sô violeiro. Tô correndo atrás desse prejuízo que foi deixado. Então tô resgatando”.
IN: MUNIZ, José Carlos.
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na entrega da documentação que pede o reconhecimento do
Fandango Caiçara como PatrimônioImaterial do Brasil
foto: II Encontro de fandango
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Capa do Livro Museu Vivo do Fandango
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“Uma histórinha pro povo...”
“isso era uma história antiga, né? Isso era um cara que chego num baile, num fandango. Meus avô que contavam que o cara chego num fandango, lá, e chego com uma viola bonita pra caramba. E bonitão, cheio de chapéu, e o violeiro muito fraco, meteu-se no meio daqueles dois violeiros lá.: “Deixe pra mim que eu vou tocá minha viola”. Com aquele viola dele tudo cheia de brilho. E vai canta, canta, canta. Depois cansou: “eu vou tira aquela menina pra dançá”. A mais bonita que tinha no meio da sala. Foi pra lá e já começo a gostá dela. Vai pra lá e vem prá cá, vai pra lá e vem prá cá, quando o galo cantou ele disse assim: “opa, ta na hora de um ir embora, quer ir comigo, se não quiser você vai ficar, porque eu já vou indo embora”. Quando os dois violeiros pegaram a viola e continuaram lá o fandango, dero aquele Crendios Padre, lá que, um verso de fandango que escureceu a casa e ele sumiu. Olharo no meio da casa tava uma casca de jarová desse ai... ele tinha o pé redondo, não podia mostrá, não podia. Ele ficava só escondendo o pé, pra ninguém vê o pé dele, pois ele tinha o pé redondo, pois era o diabo”.
IN: MARCHI, Lia & SAENGER, Juliana & CORRÊA, Roberto.
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São Gonçalo de Amarante - Padroeiro dos Violeiros
foto: II Encontro de fandango

Sobre São Gonçalo:
“È Sexta-Feira de tempo de rebojo e sábado vai ter colheita de arroz. O dono faz a promessa á São Gonçalo, pro tempo melhorá. No dia, trabalha e vai pra casa toma banho e depois a primeira moda da brincadeira da noite é pra São Gonçalo, pra pagar a promessa. Então é feito um altar e quando não tem a imagem do santo, pode colocar um vaso de flor. Daí dança valsando, não de par, até o altar, faz meio que ajoelhá pode beijar a flor e volta, sem dar as costa pro altar. Primeiro o dono da casa, depois pode ir os outros, um por vez ou tudo junto em fila”.
IN: MUNIZ, José Carlos.
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foto: Guto Lelo

Léo, como também é chamado ou Mestre Leonildo é um exímio construtor de instrumentos, assim como muitos da Família Pereira, detentor do conhecimento acerca do Fandango Caiçara, afinação, toques, tamanqueados, multirões, e outras tradições como São Gonçalo, Romaria do Divino Espírito Santo, Terço-Cantado... por isso é chamado de “professor” pelos fandangueiros e “mestre” pelos pesquisadores e admiradores de sua cultura.
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“segundo Leonildo, a denominação de mestre no fandango é feita pelos próprios fandangueiros, como relata: "É... acontece o seguinte... eu é... falavam mestre pra mim..e já correu... é... já do meu pai que correu isso aí.. porque eu fiquei...eu era mais curioso em casa da família, eu era mais curioso, tudo era eu, tudo era eu. Eu passava Pereira, era patrão do dia, passava a cuidar de noite que eu era responsável, eu cuidava do povo, cuidava da comida, com os negócios do dia...então eu passei cedinho aqui, depois passei pra... é... meu tio passou e disse assim ó... pra... olha, você vai ser madrinha dela... então pra mim era coisa séria, porque eu era o primeiro da... Então embora há pouco tempo já, eu passei por mestre, não por mim, foi pelo povo. O povo que me chamou.
IN: OLIVEIRA, Rogério Massarotto.
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foto: Macaxeira
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No ano 2000, esteve em Curitiba, pela primeira vez, levando Fandango ao evento “Fandango Subindo a Serra”, de Maria de Lourdes da Silva Brito e de lá pra cá, incontáveis foram as vezes em que teve que sair do Abacateiro, seja para bailes, oficinas, palestras ou apresentações em Guaraqueçaba, Paranaguá, Cananéia, Barra de Ararapira, Superagui, Curitiba, Campo Largo, Maringá, Rio de Janeiro, ... Até o momento são participações também nos seguintes materiais:
CD:
“Viola Fandangueira”, lançado em 2002, em conjunto com o Grupo Viola Quebrada. “Fandango de Multirão”, lançado em 2003, onde toca com Zé Pereira, Pedro Pereira, Nilo Pereira, Agnardo Pereira e Vicente França.
“Museu Vivo do Fandango”, lançado em 2008, onde toca um “duelo de Rabecas”, juntamente com Zé Pereira (faixa 01), “São Gonçalo” (faixa 11), Dandão “Eu tenho meu pé de rosa”, com Nilo Pereira (faixa 23) e um “Solo de Rabeca” (faixa 33).

LIVROS:
AGUIAR. Carlos Roberto Zanello. Fandango do Paraná: Olhares. Curitiba, 2005.
BRITO, Maria de Loudes da Silva & RANDO, José Augusto Gemba. Fandango de Mutirão. Curitiba: Gráfica Mileart, 2003.
MARCHI, Lia & SAENGER, Juliana & CORRÊA, Roberto (org). Tocadores: Homem, terra, música e cordas. Curitiba: Olaria, 2002.
PIMENTEL, Alexandre. GRAMANI, Daniella. CORRÊA, Joana. Museu Vivo do Fandango. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2006.

DVD:
TOCADORES LITORAL SUL. Direção de Lia Marchi. Curitiba. 2003.
TERRA DE TODAS AS GENTES. PROVOPAR. Curitiba. 2005.
MUSEU VIVO DO FANDANGO. Caburé. Rio de Janeiro. 2006.
ROMARIA DO ESPÍRITO SANTO A FÉ QUE MOVE A TRADIÇÃO. Mandicuéra Associação de Cultura Popular. Paranaguá. 2007.
TEU CANTO DE PRAIA. Direção Manuela Sobral. 2009.
CAIÇARA. Direção Geraldo Pioli. 2009.

TESES / DISSERTAÇÕES / MONOGRAFIAS e PESQUISAS
1. OLIVEIRA, Rogério Massarotto. A Cultura do Fandango no litoral do Paraná e suas relações entre trabalho, cultura popular e lazer na sociedade capitalista. Dissertação apresentada à Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação Física. Florianópolis/SC, 2005.
2. MARTINS, Patrícia. Um divertimento trabalhado Prestígios e Rivalidades no Fazer Fandango da ilha dos Valadares. Dissertação de mestrado apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Antropologia Social. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. CURITIBA, 2006.
3. MUNIZ, José Carlos. Fandango Na Alma de Minha Guaraqueçaba. Obra inédita. Guaraqueçaba. do Autor.

SITE:
1. http://festivaldecultura.art.br/noticias/rotas-encontros-e-perspectivas/
2. http://www.rabeca.com.br/site/interna.php?url=artesaos
3. http://sobre-posicaocaicara.blogspot.com/2009/01/o-projeto_30.html
4. http://fandangodoparana.blogspot.com/

Sobre Posição Caiçara
foto: GutoLelo
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No ano de 2010, a partir de iniciativa de Leandro Diéguiz, Leonildo Pereira foi selecionado a receber o Prêmio Culturas Populares 2009 Mestre Dona Izabel – artesã ceramista do Vale do Jequitinhonha/MG, concedido pelo Ministério da Cultura / Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural.
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A PRESNTE POSTAGEM ESTÁ ABERTA A NOVAS INFORMAÇÕES A RESPEITO DE NOSSO MESTRE LEONILDO PEREIRA. BASTA INSERIR COMO MENSAGEM-DEPOIMENTO.
OBRIGADO.



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Faleceu em Guaraqueçaba, 
no dia 11 de maio de 2024.